Os detalhes da morte de Brent Renaud ainda não são completamente claros. O repórter de imagem norte-americano morreu este domingo, na Ucrânia, depois de tropas russas terem atingido a tiro o veículo onde seguia na zona de Irpin. Estas são, pelo menos, as informações avançadas pelas autoridades ucranianas, não havendo, para já, outras confirmações oficiais sobre as causas que levaram à morte do também realizador, de 51 anos.

Um outro jornalista, Juan Diego Herrera Arredondo, que seguia com Renaud, terá sido atingido pelos tiros e transportado para o hospital. Há vídeos com os seus relatos, mas cuja veracidade não foi confirmadas por nenhuma fonte oficial.

Os Estados Unidos já reagiram. Durante uma entrevista à CBS News, o conselheiro norte-americano para a Segurança Nacional, Jake Sullivan, garantiu que a administração de Joe Biden tomará as “medidas apropriadas” em relação à morte de um cidadão norte-americano.

Em primeiro lugar, a equipa do Presidente norte-americano irá inteirar-se de todos os contornos que envolveram a morte de Renaud, falando com as diferentes partes envolvidas no conflito da Ucrânia — invadida pela Rússia há 18 dias —, explicou Jake Sullivan que, frente às câmaras, disse ter tomado conhecimento da notícia pouco antes de entrar em direto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Renaud trabalhou para vários media e plataformas norte-americanos, como a HBO, a NBC ou The New York Times. Era habitual trabalhar com o seu irmão, Craig Renaud, e juntos estiveram em vários cenários de guerra para desenvolver projetos de cinema e televisão.

Passaram pelas guerras no Iraque e no Afeganistão, pelo terramoto no Haiti, e fizeram trabalhos sobre a violência dos cartéis no México, entre muitos outros que podem ser vistos no site dos irmãos, The Renaud Brothers. Realizadores de documentários, produtores de televisão e jornalistas vencedores do Peabody Award (distingue a excelência na imprensa), os irmãos vivem e trabalham em Nova Iorque e Little Rock, Arkansas, lê-se na biografia.

Vídeo de Juan Diego Herrera Arredondo, colega de Renaud, chega ao FB

No Facebook corre um vídeo de Juan Diego Herrera Arredondo, jornalista de 46 anos, que se apresenta como colega de Renaud. Durante as suas declarações, diz que o colega norte-americano foi atingido no pescoço e ficou para trás, não sabendo o que lhe aconteceu.

O vídeo, da autoria de Anastasiya Magerramova, mostra Arredondo deitado numa maca, depois de ter sido atingido por um tiro numa coxa.

“Atravessamos a primeira ponte em Irpin. Íamos gravar outros refugiados a sair da cidade e entrámos num carro, porque alguém se ofereceu para nos levar até a outra ponte. Passamos por um posto de controle e começaram a atingir-nos”, diz o jornalista, ainda sem saber da morte de Renaud. “Somos dois, o meu amigo é Brent Renaud e ele foi atingido e deixado para trás.”

Em declarações à AFP, Danylo Shapovalov, um médico voluntário que socorreu a vítima, confirmou as declarações de Juan Herrera Arredondo. “Atingiram o carro. Havia dois jornalistas e um ucraniano. O nosso homem e o jornalista estão feridos, o outro foi ferido no pescoço e morreu imediatamente”, acrescentou.

Sites divulgam imagem da identificação de Renaud

As primeiras notícias davam conta de que Brent Renaud era jornalista do New York Times e alguns sites russos e ucranianos divulgaram imagens — que podem ser consideradas chocantes e ferir susceptibilidades — do seu corpo. Entre elas, surge uma fotografia da sua identificação de jornalista emitida pelo NYT.

No entanto, o jornal norte-americano, depois de saber da morte de Renaud, veio esclarecer que não se encontrava ao serviço do NYT na Ucrânia. A forma como o comunicado foi escrito irritou os internautas que foram rápidos nas críticas.

“Estamos profundamente tristes por saber da morte de Brent Renaud. Brent era um realizador talentoso que contribuiu para o New York Times nos últimos anos”. Assim começava o comunicado oficial do jornal norte-americano sobre o jornalista.

A identificação de Renaud

A mensagem continua e é o parágrafo seguinte que incomodou os utilizadores do Twitter. “Apesar de ter contribuído para o NYT no passado (mais recentemente em 2015), não estava destacado para nenhum serviço do The Times na Ucrânia. Os primeiros relatos davam conta de que trabalhava para o NYT porque estava a usar uma identificação de imprensa que foi emitida para uma reportagem há vários anos.”

Mensagem “fria”, “cruel”, e “desnecessária” a informação sobre a identificação antiga. Estas são algumas das críticas que se leem em resposta ao tweet com o comunicado do New York Times.

Num deles pode ler-se: “Deixem-me corrigir o texto para a equipa de relações públicas. ‘Mesmo que Brent não estivesse numa missão do NYT na Ucrânia, ele era um realizador talentoso e um colega estimado. Estamos profundamente tristes com esta perda e os nossos pensamentos vão para a sua família e colegas.’ Não é muito difícil, certo?”

Jornalista estava a trabalhar para a Time. “Estamos devastados”

Numa mensagem publicada na sua página, os responsáveis da TIME lamentaram a morte do jornalista norte-americano Brent Renaud, que estava “a trabalhar num projeto da TIME Studios focado na crise global de refugiados”.

Estamos devastados com a perda de Brent Renaud. Como cineasta e jornalista premiado, Brent abordou as histórias mais difíceis do mundo, muitas vezes ao lado do seu irmão Craig Renaud”, começa por referir a nota assinada pelo editor-chefe e diretor da TIME, Edward Felsenthal, e pelo do presidente da TIME e TIME Studios, Ian Orefice.
Os responsáveis informaram ainda que “nas últimas semanas, Brent estave na região a trabalhar num projeto da TIME Studios focado na crise global de refugiados”. A mensagem termina com um apelo: “É essencial que os jornalistas possam cobrir com segurança esta invasão e crise humanitária na Ucrânia”.

O repórter de imagem norte-americano morreu este domingo, na Ucrânia, depois de tropas russas terem atingido a tiro o veículo onde seguia na zona de Irpin.

Jornalista ucraniano morreu em ataque a torre de televisão

Há outros relatos de ataques russos que mataram e feriram jornalistas, mas, até agora, e se se confirmarem as informações iniciais, nenhum deles tinha sido morto num confronto quase corpo a corpo.

O jornalista de imagem ucraniano Yevhenii Sakun — correspondente da EFE e cameraman do canal de televisão ucraniano LIVE — morreu em Kiev durante os bombardeamentos russos, a 1 de março, de uma torre de televisão.

Antes desta morte, a 26 de fevereiro, dois jornalistas dinamarqueses, Stefan Weichert e Emil Filtenborg Mikkelsen, foram atingidos por agressores não identificados quando se dirigiam para um jardim de infância bombardeado pelas forças russas na cidade de Ohtyrka, nordeste da Ucrânia.

Os dois homens, ao serviço do jornal dinamarquês Ekstra Bladetde, foram transportados para o hospital e mais tarde regressaram ao seu país de origem. Ficaram feridos apesar de usarem coletes de bala.

Outro jornalista ucraniano, Viktor Dudar, que se juntou às forças armadas como voluntário foi morto em combate a 7 de março. Dudar morreu perto da cidade de Mykolaiv, segundo fontes oficiais do Governo ucraniano. Trabalhava para o jornal Express, de Lviv.

Jornalista ucraniano que se ofereceu como voluntário morre em combate

(Artigo atualizado às 20h41 com as declarações da TIME)