Investigadores portugueses do Instituto Ricardo Jorge vão apoiar Cabo Verde no reforço da investigação e vigilância das doenças transmitidas por vetores, como mosquitos e carraças, nos próximos três anos, conforme prevê um protocolo assinado esta quinta-feira na Praia.
“Não vai substituir nada, é um projeto que já cá existe, mas é uma outra visão de investigação e de querer ir mais além para ver se detetamos mais alguma coisa. Aquilo que não se procura não se vê”, afirmou à Lusa o presidente do conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), Fernando de Almeida, à margem da assinatura deste protocolo de colaboração.
O projeto de investigação ONESVEC pretende monitorizar e acompanhar a prevalência dos vetores transmissores de doenças em seis ilhas cabo-verdianas, numa abordagem de “uma só saúde”, na perspetiva animal e humana, tendo sido proposta pelo INSA, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Pública de Cabo Verde (INSP), o Ministério da Agricultura e do Ambiente cabo-verdiano, a Direção-Geral de Agricultura Silvicultura e Pecuária e a organização não-governamental “Bons Amigos”.
Em 2009, um surto de dengue em Cabo Verde provocou mais de 21.000 casos e em 2015 foram detetados cerca de 7.000 casos de zika no arquipélago, doenças transmitidas por mosquitos.
Entretanto, Cabo Verde entrou no quarto ano sem registo de qualquer caso de transmissão local de malária, estando em processo de certificação internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como destacou o ministro da Saúde de Cabo Verde, Arlindo do Rosário.
“Nós temos um país que no fundo está no meio de três continentes, com uma grande mobilidade, temos tidos alguns casos de doenças de transmissão vetorial, caso concreto do zika e do dengue, e também o paludismo [malária]. Felizmente tem sido feito um trabalho meritório, quer da parte do INSP, mas também da Direção Nacional de Saúde, delegacias e agentes de luta antivetorial, e estamos neste momento no quarto ano sem doenças de transmissão vetorial em Cabo Verde”, disse o ministro.
Para Arlindo do Rosário, o protocolo esta quinta-feira assinado vai permitir o “reforço da cooperação” que já existe entre os institutos de investigação em saúde pública de ambos os países, com um projeto que “veio em boa hora” para Cabo Verde.
Na prática, segundo os objetivos apresentados esta quinta-feira na assinatura do protocolo entre as administrações do INSA e do INSP, o projeto pretende reforçar a vigilância às doenças transmitidas por vetores, através da sua identificação, caraterização e monitorização, sejam, sobretudo, mosquitos e carraças, mas também outros, procurando antecipar ou prevenir potenciais surtos.
Pretende ainda envolver a participação das populações na monitorização futura destes vetores transmissores de doenças, entre humanos ou de animais para humanos, e na prática permitirá igualmente um reforço das capacidades laboratoriais em Cabo Verde.
“Implica uma capacitação de novas tecnologias no âmbito do diagnóstico”, sublinhou o presidente do INSA, sendo este um projeto de investigação orçado em 241.336 euros, aprovado e financiado pela Fundação Aga Khan Portugal e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
“O primeiro objetivo é obviamente a investigação. Nós somos uma instituição de investigação e uma das nossas missões, para além da difusão da cultura científica e promovermos a investigação e fazermos a investigação, seja em termos de projetos individuais, seja em termos de projetos em conjunto com outras situações”, explicou Fernando de Almeida.
Acrescentou que com Cabo Verde, e com o congénere INSP, esse trabalho “tem sido frequente”, inclusive com “trabalhos conjuntos publicados na área de investigação”.
Outro objetivo, sublinhou, é a cooperação, uma das “apostas” do INSA com “enfoque claro” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): “Seja no âmbito da CPLP, seja no âmbito da cooperação bilateral, mas no sentido de capacitá-los e de promovermos essa capacitação e trabalhamos em conjunto. Ninguém está sozinho nestas questões e mais uma vez, é um hábito dizê-lo, mas a Covid-19 veio provar que ninguém está sozinho”.
O terceiro objetivo passa pelas instituições de investigação da saúde estarem “atentas aos sinais”, na sequência das alterações climáticas que se refletem igualmente nos vetores que transmitem doenças.
“E nos animais que possam eventualmente também fazer a sua migração por alterações climáticas”, sublinhou o presidente do INSA.