A Humanity First está a dar apoio a “vários milhares de refugiados” por dia na pequena cidade polaca de Medyka, junto à fronteira com a Ucrânia. A maioria são crianças, mulheres e idosos que fogem da guerra e procuram a ajuda desta organização de caridade internacional antes de partirem para outros países. “Estas pessoas estão exaustas e traumatizadas. Acabam de fugir da Ucrânia e não sabem para onde vão”, descreve ao Observador um dos responsáveis da Humanity First, Mohammad Zubair. “Falamos com as pessoas e tentamos confortá-las, antes de seguirem a viagem para outros países”, acrescenta.
A Humanity First tem desde o final de fevereiro — quando começou a invasão russa da Ucrânia — uma equipa de dez pessoas em Medyka, composta por médicos, psicólogos e outros voluntários. “Fornecemos serviços médicos, refeições e bebidas quentes, um saco para os refugiados com artigos de higiene pessoal e comida para a viagem e até cartões para o telemóvel, para que possam contactar familiares”, explica Mohammad Zubair.
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Mohammad Zubair é presidente da delegação da Humanity First na Alemanha e está na Polónia, na linha da frente, a ajudar refugiados. Ao Observador, descreve “filas enormes” todos os dias no centro de acolhimento improvisado montado na cidade polaca, a 85 quilómetros de Lviv. E afirma que os refugiados precisam de cuidados constantes.
Estes cidadãos estão traumatizados. E, às vezes, temos de falar com eles, para que se possam sentir melhor. Não têm ferimentos de guerra. O apoio que precisam é psicológico. E temos uma psicóloga no local que fala com eles e tenta confortá-los. Temos também uma tenda aquecida, onde os refugiados podem relaxar e acalmar antes de seguirem para outro país”, descreve o responsável.
Neste momento, Medyka é o maior ponto de passagem de refugiados que fogem da guerra na Ucrânia depois da invasão russa para países da União Europeia. De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de dois milhões de pessoas aguardam atualmente nesta localidade antes de rumarem a outros países. A Humanity First está a colaborar com agências das Nações Unidas no terreno como a Organização Mundial de Saúde ou o Programa Alimentar Mundial. Várias delegações da Humanity First na Europa estão a ajudar com recursos, fundos e voluntários.
As zonas de fronteira com a Ucrânia têm-se transformado em autênticos centros de acolhimento improvisados para refugiados, com várias entidades e organizações a fixarem-se no local para dar apoio aos ucranianos que fogem da guerra. É também a estas zonas que voluntários de todo o mundo vão buscar refugiados. A Humanity First dá também “dicas e aconselhamento” aos refugiados antes de seguirem para uma nova casa, longe da de origem. São depois levados por voluntários em carrinhas ou autocarros para outros países da União Europeia.
Ouça aqui as declarações dos responsáveis da Humanity First ao Observador:
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O presidente da delegação da Humanity First na Alemanha explica que este centro é uma zona de transição. E adianta que por ali têm passado “milhares de pessoas” diariamente. “Depende do dia: podem ser mil, dois mil, três mil. É normal. Neste momento, a situação está mais calma. Temos atualmente cerca de 300 refugiados”, conta Mohammad Zubair. A maioria chega a este local, de acordo com a Humanity First, de carro ou comboio. E são ajudados pelas autoridades polacas e por organizações internacionais.
No caso da Humanity First, a equipa de dez voluntários vai “rodando” de semana em semana.
“Estes refugiados têm percorrido um longo caminho. Quando atravessam a fronteira, começam a chorar”
Um dos membros desta organização internacional de caridade que tem estado no terreno desde o início é Akbar Bajwa. É médico e desde 21 de fevereiro (ainda antes da invasão) que está na cidade polaca de Medyka. A função é só uma: tratar “os pacientes” que fogem da guerra. Ao Observador, descreve um hospital improvisado ali junto à fronteira, montado em cenário de guerra.
“Construímos uma pequena clínica, com tendas, e temos capacidade para tratar várias doenças e prestar diferentes cuidados de saúde”, explica Akbar Bajwa. “Por exemplo, recentemente recebi um paciente com diabetes. Tinha atravessado a fronteira e estava muito mal. Tinha dores, estava mal-nutrido, fatigado. E tratei-o. Mas também há pessoas com dores de cabeça, dores de peito, gripe, entre outras condições”, adianta.
Tal como Mohammad Zubair, este médico da Humanity First também destaca o problema da saúde mental das mulheres, crianças e idosos obrigados a atravessar a fronteira.
Há pacientes com problemas emocionais. Estes refugiados têm percorrido um longo caminho. Quando chegam aqui, depois de terem atingido o seu objetivo — atravessar a fronteira — começam a chorar. É uma situação emocional difícil. Aqui, os problemas físicos não o maior problema”, descreve Akbar Bajwa.
O médico da Humanity First destaca ainda que, para além de todas estas questões, o frio e a fadiga são “dois dos principais desafios”. Mas garante: “Vou continuar aqui ao longo das próximas semanas. Enquanto precisarem de nós, estaremos aqui”.
De acordo com os últimos dados divulgados pela Organização Internacional para as Migrações, desde o início da invasão saíram da Ucrânia mais de três milhões de refugiados. A Polónia tem sido um dos países que mais cidadãos tem acolhido.
O presidente da Câmara de Medyka afirma que neste tipo de centros de refugiados “a prioridade é a vida humana”. “Temos que nos certificar que ninguém morre de frio ou com outras necessidades. Na semana passada, as temperaturas caíram para os -12ºC”, alertou Marek Iwasieczko, em declarações aos canais da Agência das Nações Unidas para os Refugiados.
Ao Observador, o presidente da delegação da Humanity First na Alemanha, Mohammed Zubair, garante ainda que está a par do problema do tráfico de pessoas nas fronteiras, mas afirma que, até agora, ainda não detetou nenhum caso no local onde se encontra.
De acordo com um relatório publicado a 12 de março, desde que esta agência chegou à fronteira da Polónia com a Ucrânia, já tratou 500 pacientes e forneceu 5.000 refeições e 150 cartões para telemóvel.