Anatoly Chubais, o ministro de Boris Yeltin que ficou conhecido como o “Pai dos Oligarcas” graças ao seu papel como responsável pelas privatizações no país na década de 1990, abandonou o cargo que ocupava desde 2020 como representante especial de Vladimir Putin junto das organizações internacionais.
De acordo com a Bloomberg, que cita duas fontes anónimas, ato contínuo, Chubais resolveu sair também da Rússia, tudo em protesto contra a invasão da Ucrânia pelas tropas do homem que até há bem pouco tempo aconselhou.
A tomada de posição do oligarca, fundador e, até 2020, CEO da Rusnano, empresa estatal de capital de risco com investimentos no setor da energia e da biomedicina, faz dele a mais alta figura russa a tomar posição contra a guerra em curso.
Ainda assim, Anatoly Chubais não afrontou Putin de viva voz. Contactado por um jornalista da Reuters, que tentou confirmar a notícia, o oligarca russo, de 66 anos, escusou-se a responder e desligou-lhe o telefone na cara.
Anatoly Chubois é dos poucos reformadores da era Yeltsin que se mantiveram até à atualidade em cargos próximos do Kremlin — mantendo, ainda assim, laços com autoridades e empresas do mundo ocidental, detalha a Bloomberg. Que também recorda: foi ele quem ofereceu a Vladimir Putin o seu primeiro cargo na administração russa, em 1996, logo depois de sair do KGB.
Na altura, Anatoly Chubois já não era ministro de Yeltsin, mas seu chefe de gabinete — depois de o afastar do governo, em 1995, e de dizer publicamente que o que tinha corrido mal na política de privatizações do país era “tudo culpa de Chubois”, o então presidente deixou passar uns meses e voltou a contratá-lo.
Em novembro 2004, numa entrevista para a rubrica “Um Jantar com o FT”, o Financial Times descreveu o “Pai dos Oligarcas” como um dos personagens mais amados e odiados da Rússia e recordou como, em poucos anos, Chubais colocou 80% da economia russa nas mãos de privados, e “tornou alguns russos muito ricos, enquanto a maioria permaneceu pobre”.
Na altura, o “Pai dos Bilionários”, como a publicação também o apodou, era “apenas” milionário, não constava da lista dos 100 russos mais ricos, mas já era alvo de ameaças: antes de se sentarem para jantar, numa sala privada do Count Orlov, em Moscovo, os guarda-costas do então presidente do Sistema de Energia Unificado, o monopólio russo da eletricidade, revistaram todo o restaurante.
Apenas quatro meses mais tarde, Chubais escapou incólume a uma tentativa de assassinato, ao sair da sua dacha nos arredores de Moscovo: primeiro foi detonado cerca de um quilo de explosivos junto ao seu carro, um BMW blindado, depois dois homens armados abriram fogo com metralhadoras.
Na semana passada, Arkady Dvorkovich, entre 2012 e 2018 conselheiro principal de Dmitry Medvedev para os assuntos económicos e um dos seus vices, demitiu-se da Fundação Skolkovo, uma organização que investe em startups e capitais de risco de que era presidente há quatro anos, dias depois de ter dado uma entrevista em que se assumiu contra qualquer tipo de guerra.
Na altura, Vladimir Putin reagiu com acrimónia e deixou um aviso sério àqueles a que chamou “escória” e “traidores” da Rússia. “Claro que eles [o Ocidente] vão tentar apostar na chamada quinta coluna, nos traidores — aqueles que ganham o seu dinheiro aqui, mas vivem lá. Vivem, não no sentido geográfico, mas no sentido do seu pensamento, do seu pensamento servil”, disse. “Qualquer povo, e especialmente o povo russo, será sempre capaz de distinguir os verdadeiros patriotas da escória e dos traidores, e de os cuspir como fazem com um mosquito que lhes entrou acidentalmente pela boca.”