A vida de Mikhail Fridman, o dono do fundo de investimento que controla a cadeia de supermercados espanhola Dia e Minipreço complicou-se, e não foi pouco, depois das sanções do Ocidente em resposta à invasão russa da Ucrânia. O sétimo homem mais rico da Rússia em 2017, segundo a Forbes, contou numa entrevista recente à Bloomberg, que não sabe como viver.
Dono (juntamente com os sócios) de um dos maiores bancos do país e de parte de uma operadora de comunicações (a KyivStar) da Ucrânia, Fridman, estava em Moscovo quando as tropas russas entraram em território ucraniano. Voou imediatamente para Londres, onde vive, e enviou uma mensagem clara aos seus executivos: “Usem o dinheiro da empresa que precisarem para garantirem a segurança dos funcionários e suas famílias”. Insurgiu-se publicamente contra a guerra e cinco dias depois anunciava que a sua organização de solidariedade, a Genesis Philantropy Group, doava 10 milhões de dólares para organizações de judeus que apoiavam refugiados ucranianos. Nessa altura, estava longe de prever que poderia vir a sofrer algum castigo dos seus “amigos” do Ocidente. Quando o advogado lhe deu a notícia, “não conseguia acreditar”.
Em meados de março, pouco depois de o Reino Unido seguir as pisadas da União Europeia e aplicar-lhe sanções, com as suas contas congeladas e proibido de viajar, deixou de poder usar o seu último cartão bancário. O multimilionário tem agora que requerer autorização para gastar dinheiro ao governo britânico, que decidirá se o pedido é ou não “razoável”. Em causa estará uma mensalidade aproximada de 2500 libras por mês (cerca de 3 mil euros). Ainda que exasperado — “Não sei como vou viver, sinceramente, não sei” — procura não se queixar: “Os meus problemas não são nada comparados com os problemas deles”, referindo-se aos ucranianos afetados pela guerra.
“Fridman valia cerca de 14 mil milhões de dólares antes da guerra”, de acordo com a Bloomberg. “Agora vale cerca de 10 mil milhões no papel e está na estranha posição de ser um oligarca sem, essencialmente, dinheiro nenhum”, explica a Bloomberg. Está a ver como vai pagar algumas despesas mais pequenas, como a empregada doméstica: “Se calhar tenho se ser eu mesmo a limpar a casa”.
Opositor da guerra, o empresário garante que nunca esteve em nenhuma companhia ou posição estatal. “Se as pessoas que estão ao comando na UE acreditam que, por causa das sanções, eu posso abordar o senhor Putin e dizer-lhe para parar a guerra, e que isso resultará, então temo que tenhamos um grande problema. Isso significa que quem está a tomar estas decisões não percebe nada sobre como a Rússia funciona. E isso é perigoso para o futuro”, referiu na entrevista.
Mikhail Fridman tem 57 anos e nasceu e cresceu em Lviv, cidade ucraniana, ainda no contexto da antiga União Soviética. Os pais são ucranianos e, até há pouco tempo, viviam parte do ano num apartamento naquela cidade.
Conta a Bloomberg que “era um oligarca de primeira onda, e fez uma fortuna através da banca e da energia antes da subida de Putin ao poder”. Tem também um fundo de investimento em Londres, LetterOne, que controla a cadeia de supermercados espanhola Dia, dona do Minipreço em Portugal.
No início de março, a cadeia de supermercados Dia emitiu uma nota na qual assegura que “não é afetada de forma alguma” pelas sanções da União Europeia e também explica que é controlada pelo fundo LetterOne, que o magnata russo criou, insistindo que este não tem o controlo direto do fundo.