Ao 30º dia de guerra, as forças ucranianas continuam a resistir e a travar os avanços russos na maior parte do país, incluindo em cidades estratégicas (e nas suas imediações) como Kiev e Odessa.

O Kremlin diz agora que, face à redução da força de combate da Ucrânia (provocada pelas baixas de guerra), o objetivo de “desmilitarização” do país presidido por Volodymyr Zelensky está a ser cumprido — e mesmo sem tomar Kiev e Odessa, os objetivos militares parecem ter sido revistos com Putin a concentrar-se agora no sul e sudeste da Ucrânia, em especial no Donbass.

Sob a ocupação russa estão neste momento as cidades de Melitopol, Kherson e de Kakhova, no leste da Ucrânia, a central nuclear de Chernobyl e a de Zaporíjia, bem como essa região e a de Chernihv, na zona norte do país. Tal como Mariupol, as regiões de Sumy e Konotop continuam cercadas pelas tropas de Moscovo, havendo ainda relatos de que o mesmo pode ter acontecido a Kharkiv.

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Pode também seguir os desenvolvimentos, minuto a minuto, no liveblog do Observador, que estão também a ser contados pelos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Pedro Jorge Castro e João Porfírio.

O que aconteceu durante a noite?

Através de uma mensagem gravada em vídeo, Zelensky voltou a falar aos cidadãos ucranianos. Defendeu desde logo a importância das negociações com a Rússia (“necessárias”, “importantes”, “urgentes” e “justas”), mas lembrando que a Ucrânia não vai ceder em duas condições: “A soberania ucraniana e a integridade territorial da Ucrânia têm de ser garantidas”. Zelensky alegou ainda que já morreram mais de 16 mil soldados russos desde o início da guerra que começou há 30 dias — uma estimativa que não foi até ao momento avançada por fontes independentes.

Ainda na sua mensagem ao país, difundida em vídeo, Zelensky avançou números sobre a retirada de civis ucranianos de cidades sitiadas ao longo dos últimos anos. Ao todo, apontou, 37.606 pessoas foram retiradas em corredores humanitários ao longo de esta semana. Destas, 26.477 foram retiradas de Mariupol (a cidade com uma crise humanitária mais aguda) e transportadas para Zaporíjia. Ainda assim, Zelensky acusou a Rússia de continuar a não permitir a entrada de ajuda humanitária em Mariupol.

O antigo ministro-adjunto da Administração Interna da Ucrânia Anton Gerashchenko, que é atualmente conselheiro do ministério, avançou esta sexta-feira à noite que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu — que não aparece em público há 14 dias —, terá sofrido um ataque cardíaco. Segundo Geraschenko, que partilhou esta informação no Facebook, o ministro russo ter-se-á sentido mal “após duras acusações de Vladimir Putin” devido ao “fracasso total da invasão da Ucrânia” e está hospitalizado com um nome falso: N. N. Burdenko. A informação não foi confirmada até ao momento por entidades independentes.

O primeiro-ministro português, António Costa, comentou nas últimas horas as declarações do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que sugeriu que Portugal não apoia inteiramente a candidatura de adesão à União Europeia da Ucrânia. Referindo não ter ouvido esse comentário, António Costa preferiu destacar que Portugal tem dado “todo o apoio à Ucrânia que é necessário”, tanto a nível humanitário (particularmente pelas suas políticas de acolhimento de refugiados ucranianos) como de envio de equipamento militar.

O que aconteceu durante a tarde?

Os objetivos militar e estratégicos da Rússia na Ucrânia podem ter mudado. Sergey Rudskoi, adjunto do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas do país, fez um balanço dos 30 dias da guerra na Ucrânia e apontou para o Donbass como nova prioridade estratégica do Kremlin — numa altura em que as forças russas ainda não conseguiram tomar Odessa e Kiev. Defendendo que “o potencial de combate das Forças Armadas da Ucrânia foi reduzido consideravelmente” nos últimos 30 dias, Rudskoi apontou: “Tal permite concentrar atenções em atingir o principal objetivo: a libertação de Donbass”. O Donbass era apenas um dos objetivos do Kremlin nesta guerra — outros eram, por exemplo, a “desnazificação e desmilitarização da Ucrânia”.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) fez uma atualização do número de baixas civis. Desde o início da guerra, que começou há 30 dias, já morreram mais de mil civis (1.081), 93 dos quais crianças. Há ainda confirmação de 1.707 feridos, incluindo 120 menores.

Há relatos contraditórios sobre a evolução da situação em Kherson, cidade portuária da Ucrânia que é estratégica para as forças russas abrirem caminho até Odessa. Esta tarde, um “oficial sénior” do Pentágono (EUA) sugeriu que as forças russas já não detêm o controlo completo da cidade, que passou a ser “território disputado”. Há, porém, informações em sentido contrário: segundo o The New York Times, quer as autoridades ucranianas quer fontes ucranianas em Kherson indicam que a cidade continua sob controlo completo russo. Já nas imediações de Kherson estarão a travar-se combates ferozes.

A incrível operação de resgate dos bebés órfãos ucranianos que estavam cercados pelos russos em Sumy

Em Vinnytsia, cidade ucraniana localizada a cerca de 280 quilómetros a sudoeste de Kiev, um centro de comando da Força Aérea Ucraniana foi atingido esta sexta-feira à tarde por mísseis russos. O ataque causou “uma destruição significativa” à infraestrutura. A informação foi dada pelo Exército Ucraniano.

Em visita oficial à Polónia, onde os EUA têm 10.500 dos seus 100 mil soldados destacados para a Europa, o Presidente dos EUA, Joe Biden, cometeu esta sexta-feira uma aparente gafe. Falando a soldados americanos numa base da NATO, num momento em que elogiava a resistência da Ucrânia e dos “cidadãos comuns” do país à invasão, disse: “Vão ver quando lá estiverem. Vão ver mulheres e jovens a colocar-se à frente do raio dos tanques, a dizer: não saio daqui”. Um porta-voz da Casa Branca corrigiu depois: os EUA continuam a descartar qualquer intervenção em solo ucraniano. Uma intervenção direta e bélica contra a Rússia só acontecerá se o Kremlin atacar um país da NATO.

Biden comete aparente gafe: em base da NATO, diz a soldados americanos que vão para a Ucrânia

O comandante russo Medvechek, que comandava a 37ª Brigada de Fuzileiros Motorizados e que morreu esta sexta-feira, terá sido atropelado pelas suas próprias tropas devido às “muitas perdas” desta brigada na Ucrânia. A informação foi avançada pela Sky News, que citava uma fonte ocidental que referia: “Isso dá-nos uma ideia dos desafios morais que as forças russas estão a enfrentar”.

O que aconteceu durante a manhã?

Volodymyr Zelensky deixou algumas hesitações relativamente à posição de alguns países sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia, nomeadamente relativamente a Portugal: “A Lituânia defende-nos. A Letónia defende-nos. A Estónia defende-nos. A Polónia defende-nos. França — Emmanuel, acredito mesmo que vão defender-nos. Eslovénia defende-nos. Eslováquia defende-nos. República Checa defende-nos. A Roménia sabe o que é a dignidade, por isso vai defender-nos no momento crucial. A Bulgária defende-nos. A Grécia, acredito, defende-nos. Alemanha… um pouco mais tarde. Portugal — bem, está quase…”.

“Portugal — bem, está quase…”. Zelensky comenta posição portuguesa sobre adesão da Ucrânia à UE no Conselho Europeu

O conselheiro dos Estados Unidos para a Segurança Nacional Jake Sullivan assegurou que o país está a fazer um “plano de contingência para a possibilidade de a Rússia atacar em território da NATO nesse ou em qualquer outro contexto”.

A responsável pela equipa de direitos humanos da ONU na Ucrânia disse esta sexta-feira que há cada vez mais evidências — incluindo imagens captadas via satélite — que dão conta da existência de valas comuns na cidade sitiada de Mariupol. Uma delas, segundo as informações recebidas, terá cerca de 200 corpos.

Mísseis russos destruíram um depósito de gasóleo que serviria para abastecer as tropas ucranianas às portas de Kiev, anunciou o ministro da Defesa da Rússia, citado pela Sky News. Igor Konashenkov adiantou ainda que os mísseis Kalibr usados neste ataque foram disparados do mar.

As forças russas bombardearam o aeroporto de Kharkiv, esta sexta-feira, revelou o governador de Kharkiv Oblast, Oleh Synyehubov. De acordo com o Kyiv Independent, a Rússia atacou também a cidade com sistemas de lançamento de mísseis.

A cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, foi isolada pelas forças russas. De acordo com a Reuters, o anúncio foi feito pelo governador regional. “A cidade foi condicionada e operacionalmente cercada pelo inimigo”, assegurou Viacheslav Chaus.

O Presidente norte-ameriacano Joe Biden anunciou em conferência de imprensa em Bruxelas detalhes do novo acordo com a União Europeia sobre o gás natural para reduzir a dependência energética à Rússia. “Vamos trabalhar para garantir mais 15 mil milhões de metros cúbicos de gás natural em estado líquido para a Europa este ano”, anunciou o Presidente dos Estados Unidos. O acordo “também funcionará para garantir uma exigência adicional de 50 mil milhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito dos Estados Unidos anualmente até 2030”.

O que aconteceu durante a madrugada?

A resistência e o contra-ataque das tropas ucranianas permitiu um avanço no terreno a leste de Kiev. Os serviços de informação britânicos reportaram que houve a recuperação de várias cidades que chegaram a estar nas mãos dos russos e que foram recuperados cerca de 35 quilómetros de território nesta região. O objetivo das forças de Zelensky será, agora, procurar empurrar os russos para o eixo a noroeste de Kiev, em direção ao aeródromo de Hostomel.

Durante a madrugada, dois mísseis atingiram uma base militar em Dnipro. As autoridades ucranianas estão à procura de sobreviventes nos escombros e Valentyn Reznychenko, governador da região, disse que o ataque provocou “uma séria destruição” no local.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está na Europa e vai visitar, esta manhã, Rzeszów, uma cidade polaca que fica a uma hora de carro da fronteira com a Ucrânia. À tarde vai encontrar-se com o homólogo Andrzej Duda, que lhe dará conta da resposta humanitária polaca aos refugiados.

Aleksandr Lukashenko, Presidente da Bielorrússia, está a ser sancionado também pela Austrália. É uma das 22 personalidades russas na lista australiana de sanções aplicadas na sequência da guerra na Ucrânia, que reúne também jornalistas alinhados com o Kremlin e outros trabalhadores da comunicação social da Rússia.

As autoridades ucranianas denunciaram que centenas de milhares de civis estão a ser levados à força para a Rússia e alguns poderão estar a ser usados “como reféns para exercer mais pressão” sobre Kiev. A provedora de Justiça da Ucrânia, Lyudmyla Denisova, aponta para que 402 mil pessoas estejam nesta situação, incluindo 84 mil crianças.

Os EUA confirmaram que as forças militares de Volodymyr Zelensky destruíram um navio russo e a Ucrânia diz que usou um míssil balístico para o efeito. Tratava-se de um Saratov, um navio de guerra anfíbio, que estava junto à costa de Berdyansk, em Zaporíjia. A bordo do navio havia 400 pessoas, 20 tanques de guerra e 45 veículos bindados para transporte de militares, que seriam utilizados no teatro de guerra em Mariupol.

Foi decretado um recolher obrigatório em Zaporíjia para o próximo dia 26 de março, com início no sábado às 20h00 e fim às 5h00 de segunda-feira. A região está nas mãos dos russos e, esta semana, vários civis que deixavam o local através de um corredor humanitário foram atingidos por um ataque russo.

Esta sexta-feira deverá ser aberto um corredor humanitário em Mariupol que permita a circulação em carro privado. Durante os últimos dias têm sido abertos vários corredores humanitários na Ucrânia, mas Mariupol tem sido uma das cidades mais fustigadas pelas tropas russas e milhares de pessoas continuam sem conseguir sair.