A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, estiveram reunidos na tarde desta sexta-feira em Kiev para discutir o modo como Bruxelas está a ajudar a Ucrânia e como se vai desenrolar o processo de eventual adesão da Ucrânia à União Europeia.

Comecei o meu dia com uma visita a Bucha”, disse Ursula von der Leyen no arranque da sua intervenção. “É possível dizer que a nossa humanidade se estilhaçou em Bucha.” A líder europeia disse ainda que “é certo e justo que o mundo tenha votado para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU” e classificou o atual momento da guerra como um momento decisivo em que o mundo tem de se questionar sobre “se as atrocidades vão ganhar, ou se vai ganhar a humanidade”.

“É uma guerra que a Rússia lançou sobre uma Ucrânia inocente. A vossa luta é a nossa luta também. Estou aqui para deixar uma forte mensagem de que a Europa está do vosso lado”, disse Von der Leyen. Admitindo que a Europa não consegue sentir o sofrimento ucraniano, a líder da UE garantiu que Bruxelas vai fazer Putin pagar um “preço alto” pela guerra.

“Estamos a mobilizar o nosso poder económico para fazer Putin pagar um preço alto. As sanções estão a atingir duramente a Rússia”, disse, elencando alguns dos efeitos que as sanções estão a ter na economia de Moscovo. “As exportações para a Rússia caíram em 71%. A inflação está nos 20%. A confiança dos mercados na Rússia está no nível mais baixo desde 1995”, disse, acrescentando que “as mentes brilhantes estão a deixar a Rússia” e que “mais de 700 empresas” já abandonaram o país.

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“Os Estados-membros já congelaram 225 mil milhões de euros de ativos privados russos desde o início da guerra. A Rússia vai entrar numa queda económica, financeira e tecnológica, enquanto a Ucrânia avança para um futuro europeu”, acrescentou, anunciando que Bruxelas está atualmente a enviar cerca de mil milhões de euros em apoios à Ucrânia, e também apoio militar.

Adesão à UE vai ser mais rápida do que o normal

Na conferência de imprensa em Kiev, Ursula von der Leyen entregou a Volodymyr Zelensky uma pasta com um questionário que o governo ucraniano terá de preencher com vista a uma eventual futura adesão da Ucrânia à União Europeia — e garantiu que o processo avançará muito mais rapidamente do que o normal.

Estamos convosco quando sonham com a Europa”, disse Von der Leyen. “Volodymyr, a minha mensagem hoje é muito simples: a Ucrânia pertence à família europeia. Ouvimos claramente o vosso pedido. Hoje, estamos aqui para te dar uma primeira resposta positiva. Neste envelope, caro Volodymyr, está um passo importante rumo à pertença à UE. O questionário que aqui está é a base para a nossa discussão nas próximas semanas. É onde o vosso caminho rumo à UE começa.”

Em fevereiro, quatro dias depois da invasão russa, Volodymyr Zelensky assinou o pedido formal de adesão da Ucrânia à União Europeia. Duas semanas depois, em março, o Conselho Europeu, reunido em Versalhes, deu a primeira resposta ao pedido, aceitando-o e dando seguimento aos formalismos habituais, que passam por pedir à Comissão Europeia que se pronuncie sobre a possibilidade de adesão do país à UE.

O processo de elaboração do parecer da Comissão Europeia exige, agora, que a Ucrânia forneça a Bruxelas uma série de informações detalhadas — daí o questionário entregue hoje por Von der Leyen a Zelensky.

“São perguntas que depois formam a opinião da União Europeia como recomendação para o Conselho. Estamos disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana, para vos apoiar a preencher este questionário. Sabemos muito um sobre o outro, porque temos trabalhado intensamente nos últimos anos”, disse Von der Leyen.

Não será, como habitualmente, uma questão de anos, até estar formada esta opinião, mas uma questão de semanas, se trabalharmos em conjunto”, acrescentou a líder europeia, entregando a Zelensky a pasta com o questionário. O Presidente ucraniano respondeu: “Teremos as respostas prontas numa semana, Ursula.”

Questionada sobre se a existência de um conflito armado ativo na Ucrânia poderá pôr em causa a pertença do país à UE, Ursula von der Leyen disse estar “profundamente convencida de que a Ucrânia vai ganhar esta guerra, a democracia vai ganhar esta guerra, a liberdade vai ganhar esta guerra”.

No fim, disse Von der Leyn, vai prevalecer “o direito de cada país de moldar o seu futuro”.

“Vamos trabalhar em conjunto com a Ucrânia para reconstruir a Ucrânia”, com recurso a um “grande investimento e reformas, o que vai forjar o caminho para a UE”.

Von der Leyen especificou, depois, os passos que devem ser seguidos num processo de adesão à UE. “Depois de uma candidatura, o Conselho decide entregar à Comissão a tarefa de formar uma opinião. Normalmente, isto demora anos. Aqui, demorou semanas”, disse. “Depois, a Comissão desenvolve o questionário e num processo de diálogo o questionário é preenchido, de modo a que haja uma imagem clara sobre o estado do país e se segue os critérios de Copenhaga. Isto, normalmente, demora anos.”

Neste caso, disse Von der Leyen, a UE comprometeu-se a trabalhar rapidamente para obter uma imagem completa do país em poucas semanas, prevendo-se uma entrega do processo ao Conselho no verão deste ano.

“Queremos trabalhar juntos para formar uma imagem deste país. A opinião é uma recomendação ao Conselho, que depois decide os passos seguintes”, disse Von der Leyen, acrescentando que a Ucrânia “tem um longo caminho de reconstrução à sua frente”, porque a Rússia “destruiu brutalmente” várias infraestruturas centrais do país.

No final da conferência de imprensa, Ursula von der Leyen admitiu que a Rússia pode “tentar contornar as sanções”, motivo pelo qual é necessário reforçá-las com frequência.

A líder da Comissão Europeia guardou também uma referência final para o assunto com o qual tinha aberto a sua intervenção: o ataque contra a estação de comboios de Kramatorsk.

Fiquei profundamente chocada ao ver que em pedaços deixados pelo bombardeamento, os russos tinham escrito ‘pelas nossas crianças’. Este comportamento cínico já não tem comparação, não há medida para isto. É inacreditável o que ali aconteceu. Por isso, é muito importante o facto de a Rússia ter sido suspensa do Conselho dos Direitos Humanos, é um sinal importante”, disse Von der Leyen, referindo-se à inscrição em russo encontrada na lateral do míssil que caiu em Kramatorsk.

“Isto é inaceitável e tem consequências no lugar que a Rússia ocupa na ordem mundial.”