Os artistas do grupo de teatro da Companhia do Chapitô (CC), que estiveram em Caracas, afirmaram-se impressionados com a força da comunidade lusa local e o acolhimento que receberam na Venezuela, a “casa exótica” onde querem voltar.

“É a primeira vez que vimos à Venezuela. Não fazíamos ideia da união que há entre venezuelanos e portugueses. A comunidade portuguesa aqui é fortíssima. Sentimo-nos em casa, numa casa exótica, carinhosa, super acolhedora, a que queremos voltar”, disse a diretora de produção da CC.

Tânia Melo Rodrigues falava à agência Lusa, em Caracas, onde apresentaram a versão comédia da tragédia grega “Electra”, que marcou a reabertura das atividades, pós-pandemia de Covid-19, do Teatro Teresa Carreño, o principal teatro do país e levou centenas de lusitanos ao Centro Português.

“Não sabíamos que [na Venezuela] toda a gente tem um amigo português e que as padarias aqui são quase todas dos portugueses. Ficámos extremamente honrados por poder vir à Venezuela, por ser portugueses e ver as pessoas efetivamente contentes, super animadas connosco, nunca pensámos que íamos encontrar tanto carinho e tanta união, através da arte, neste país”, disse.

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Agradecida pelos cuidados das pessoas, Tânia Melo Rodrigues relatou: “Nos primeiros dias, chorávamos, ríamos, percebíamos a realidade que foi vivida aqui, que ao ver nas notícias nos parece muito longe e agora as pessoas vinham contar-nos as experiências que têm tido”.

“De repente, vimo-nos assolados por uma imensa emotividade. […] Queremos muito voltar e estreitar os laços com os companheiros das artes que aqui vivem momentos muito difíceis”, sublinhou.

O Chapitô, fundado há 26 anos, é uma organização não-governamental com uma forte componente na área de ação social, que faz a reinserção na sociedade, através das artes, de crianças e jovens institucionalizados.

A arte encurta as pontes entre os estratos sociais […]. As pessoas riem-se ou choram do que acontece no palco, esquecem-se dos problemas. E unimo-nos com a arte dessa maneira. Apesar de haver muita tristeza e guerra agora no mundo a arte tem que continuar e as pessoas têm que continuar a poder sonhar, a poder sorrir”, sublinhou a diretora de produção.

Por outro lado, a atriz Susana Gonçalves Nunes, que interpretou a Electra e a sua mãe, Clitemnestra, explicou à Lusa que “as tragédias gregas interessam muito” às pessoas pela questão de “não haver volta a dar e trama de situações que desencadeia a ação de um personagem”.

“Rir da desgraça total pode ser uma experiência muito libertadora”, sublinhou Tânia Melo Rodrigues.

Explicou ainda que a visita a Caracas foi “muito intensa e maravilhosa”, sobretudo porque esperava encontrar um país “mais deprimido e asfixiada pelas sanções, pela propaganda anti Venezuela que corre por muitas partes” mas que “está num ponto de subida de entusiasmo”.

Grata às pessoas e instituições que os apoiaram, considerou ainda que “culturalmente” portugueses e venezuelanos são “muito diferentes” e “isso é um bonito contraste”.

Também que quer levar consigo “um bocadinho desse como fazer tudo com tão pouco, dessa energia e ganas de fazer concretizar os projetos e ultrapassar as dificuldades”.

O ator Tiago Viegas interpreta Egisto, Efigênia, um guarda e profeta, numa peça que mesmo sendo uma tragédia grega é usada para contar situações através da comédia.

“É a primeira vez que estou na Venezuela. É uma experiência ótima. Já temos trabalhado bastante pela América Latina e estivemos em Miami. Sinto que o povo [venezuelano] é bastante afável e fomos muito bem tratados cá”, disse.

Por outro lado, Jorge Cruz, que personaliza o herói grego Agamenon, pai da Electra e de Orestes, o filho, lembrou que na peça de teatro, foi traído pela mulher por ter sacrificado a filha por recomendação do oráculo, para poder ter vento.

Explicou que um dos grandes elementos do Chapitô é brincar com a tragédia, com algo terrível e ao mesmo tempo conseguir pôr o público a rir de tudo, da vida.

“Tem sido ótimo apresentar este espetáculo em vários pontos do mundo e sentir que as pessoas acompanham bem a história […] E aqui sentimos que realmente conseguimos dar ao público uma compreensão da história e de muitos momentos fortes dessa história”, frisou.