Foram descrições que trouxeram lágrimas os olhos do Presidente lituano. Esta terça-feira, Volodymyr Zelensky denunciou-lhe centenas de violações de ucranianos, incluindo de crianças, e falou, em particular, no caso que chocou o chefe de Estado Gitanas Nauseda: o de um bebé violado por um membro dos serviços especiais russos, que teria inclusive feito um vídeo do abuso. “É simplesmente impossível imaginar horror maior”, comentou Nauseda emocionado.

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Zelensky identificou o atacante como “o selvagem russo Bychkov ”. Este foi um nome que surgiu na imprensa russa e ucraniana, e em tabloides internacionais, como sendo o do soldado que foi detido no passado sábado, depois de surgirem online imagens de um bebé a ser violado. O vídeo foi divulgado no Telegram e noutras redes sociais, mas jornais como o Daily Mirror ressalvam que poucos detalhes puderam ser confirmados. Alegadamente, Alexei Bychkov, de 24 anos, começou por enviar o dito vídeo a outros soldados, e foi assim que as imagens acabaram a circular na internet.

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As denúncias do presidente ucraniano vão ao encontro de inúmeros casos de violações documentadas por organizações não governamentais e por media internacionais durante a invasão russa ao país. É o caso da BBC, que falou com a provedora dos direitos humanos da Ucrânia. Lyudmyla Denisova disse à emissora pública britânica que pelo menos 25 mulheres, com idades entre os 14 e os 24 anos, foram violadas sistematicamente na cave de uma casa durante a ocupação de Bucha. Nove destas jovens estariam grávidas.

“Os soldados russos disseram-lhes que iriam violá-las de tal modo que não quereriam ter contacto sexual com mais nenhum homem, para as impedir de terem filhos ucranianos”, contou.

Denisova relatou ainda o caso de uma mulher de 25 anos que denunciou a violação da irmã de 16 anos, na rua, à sua frente: “Ela disse que eles [os soldados] gritavam ‘Isto é o que vai acontecer a todas as prostitutas nazis’, enquanto violavam a sua irmã”.

Noutra ocasião, Denisova relatou o caso de um menino de 11 anos, também em Bucha, violado por forças russas em frente da sua mãe, que estava presa a uma cadeira e foi forçada a assistir.

Os relatos diretos

A BBC falou diretamente com uma mulher de 50 anos que foi violada por um soldado checheno, numa localidade a 70 quilómetros de Kiev. Quando pode regressar a casa, encontrou o marido baleado no abdómen — o homem, que foi atingido ao tentar salvar a mulher, não resistiu aos ferimentos e morreu dois dias depois.

O mesmo soldado que atacou esta mulher, violou e matou uma vizinha, de acordo com relatos de moradores da mesma localidade, que encontraram o corpo.

O chefe da polícia de Kiev relatou ainda o caso de uma família de três pessoas: o pai foi morto a tiro e a mãe foi violada três vezes sob ameaça de violência contra o filho.

Também a americana CBSNews recolheu histórias de violações, incluindo de uma idosa de 83 anos. “Ele agarrou-me pela parte de trás do pescoço. Comecei a sufocar, não conseguia respirar”, começa por descrever.

“Disse ao [homem] que me violou ‘Tenho idade para ser tua mãe. Deixavas que isto acontecesse à tua mãe?’. Ele fez-me calar”, conta, indicando que o marido, portador de deficiência, estava em casa quando foi atacada e foi, também ele, agredido. “Quando ele acabou agarrou numa garrafa de vodka. Perguntei se podia voltar a vestir a minha roupa. Ele gritou ‘Não!’”, relatou.

Ucrânia denuncia à ONU: violações são “arma de guerra”

A escala do problema já levou um grupo de defesa de direitos humanos ucraniano a informar a ONU de que as violações estão a ser usadas como arma de guerra pelos russos.

Kateryna Cherepakha, presidente da organização La Strada-Ukraine, afirmou que a linha de emergência da ONG recebeu denúncias de nove casos de violação por soldados russos, envolvendo 12 mulheres e meninas. “Isto é apenas a ponta do icebergue. Conhecemos e verificamos — e queremos que vocês oiçam as vozes deles — que a violência e a violação estão a ser usadas como arma de guerra pelo invasores russos na Ucrânia”, afirmou, junto da ONU.

Grupos como a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional têm também documentado e relatado vários casos semelhantes.