A invasão das tropas russas à Ucrânia tem sido feita com recurso a táticas que incluem o bombardeamento de cidades, o uso de contrainformação e o ataque a alvos específicos para a logística da sociedade ucraniana. Muitas vezes sem combustível, sem equipamento médico, água ou comida, os ucranianos, que têm partilhado os acontecimentos do seu país nas redes sociais, têm lidado igualmente com problemas de acesso à internet.

Para enfrentar este desafio específico, um aparelho em específico tem sido a salvação de muitos cidadãos da Ucrânia numa guerra que, pela primeira vez, assume também uma faceta digital em larga escala: o mundo online não serve apenas para mostrar os horrores da guerra, mas também para entrar em contacto com amigos e familiares, e garantir que estes se encontram bem.

Os satélites da empresa Starlink, de Elon Musk, são muitas vezes a única fonte de ligação à internet existente nas localidades ucranianas. O país recebeu já milhares destes pequenos satélites, vindos de vários parceiros ocidentais, que se têm mostrado “bastante eficientes”, segundo afirmou ao The Washington Post o ministro da Transição Digital da Ucrânia, Mykhailo Fedorov.

Com o início da invasão, e utilizando a rede social Twitter, Fedorov pediu a Elon Musk para ajudar o país, tendo o norte-americano respondido horas mais tarde: “O serviço Starlink já está ativo na Ucrânia. Mais terminais estão a caminho.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A ajuda foi confirmada, e, no domingo, Anton Melnyk, porta-voz do ministério da Transição Digital, agradeceu a Elon Musk o gesto, numa publicação na sua conta de Twitter.

Chernihiv não caiu e defendeu Kiev. Existe apenas ligação à internet no centro da cidade, onde as pessoas vão para entrarem em contacto com os seus familiares. Obrigado, Elon Musk”, disse Melnyk.

Também na localidade de Ivankiv, perto da capital da Ucrânia, a Starlink permitiu reuniões familiares digitais. O momento foi captado e publicado no Twitter.

Na cidade na região de Kiev, que foi recentemente libertada das forças russas, ainda falta eletricidade, internet e comunicações móveis. Obrigado, Starlink e Elon Musk, por terem permitido que as pessoas entrassem em contacto com os seus familiares pela primeira vez”, escreveu na rede social a jornalista Kristina Berdynskykh.

Ainda falta comprovar, contudo, se estes terminais de internet oferecem uma utilização segura numa zona de guerra. Brian Weeden, diretor do programa de planeamento espacial da Fundação Mundial de Segurança, considera existir o risco de estes aparelhos poderem ser alvo de ciberataques.

John Scott-Railton, investigador na Universidade de Toronto, explica que a Rússia, assim como outros países, tem tecnologia capaz de “descobrir, danificar e por vezes intercetar vários tipos de comunicações“.

“Mas acho que é muito importante que as pessoas na Ucrânia e as áreas sem conexão possam ser outra vez ligadas, portanto é uma questão de tentar perceber e balancear os riscos”, concluiu.