A legenda era curta em detalhes. “Aiden Aslin. Grã-Bretanha, Nottingham. Um mercenário inglês que lutou ao lado dos nazis em Mariupol. Muitos o perderam, mas nós o encontramos. Uma entrevista interessante está a chegar em breve.” Não demorou muito para a entrevista anunciada pelas forças russas chegar às redes sociais.
Nela, o soldado diz tudo o que se pode esperar de quem está a ser gravado por interrogadores russos, e de quem depende a sua vida: “nunca lutei”, “estive sempre no bunker porque tenho medo de aviões”, são algumas das frases difundidas.
Aiden “Johnny” Aslin, um britânico de 28 anos, lutava em Mariupol ao lado do exército ucraniano. Integrava o 36.º Regimento que, depois de ter ficado sem comida e sem armas, se rendeu aos russos — como foi anunciado pelos seus amigos, com o consentimento da família no Twitter. Nem todos os membros do regimento terão feito o mesmo, e alguns conseguiram juntar-se ao Batalhão Azov, na fábrica Azovstal, mas parte dos militares foram feitos prisioneiros de guerra. Johnny, como é conhecido pelos amigos, foi um deles.
We've gotten word from Johnny. "It's been 48 days, we tried our best to defend Mariupol but we have no choice but to surrender to Russian forces. We have no food and no ammunition. It's been a pleasure everyone, I hope this war ends soon."
— COSSACKGUNDI (@cossackgundi) April 12, 2022
Ang Wood, mãe do soldado falou com o jornal britânico The Telegraph e disse estar destroçada com as imagens. “É Aiden, não posso negar. É ele. São as tatuagens dele. Há uma leve esperança de que seja uma imagem adulterada”, confessou ao jornal. De resto, a mãe do militar — que na Síria lutou contra o Daesh ao lado das força armadas curdas — disse esperar que Vladimir Putin cumpra os termos da Convenção de Genebra.
“Aiden é um membro em serviço das forças armadas ucranianas e, como tal, é um prisioneiro de guerra e deve ser tratado com humanidade”, sublinhou Ang Wood, que, depois de ver as fotografias do filho — ainda antes de ser conhecido o vídeo — acredita que ele foi espancado. “É altura de o governo britânico envolver-se e ajudar a garantir a libertação de Aiden porque ele ainda é um cidadão britânico”, acrescentou a mãe, esperançosa de que o filho regresse a casa no seguimento de uma troca de prisioneiros.
Na conta de CossackGundi, onde as notícias sobre Johnny têm sido partilhadas, foi publicada uma segunda fotografia do britânico. “Uma foto melhor da pancada que deram a Aiden. Até agora, estão a fazer o que esperávamos com as declarações gravadas. Os media russos estão a dar a volta da vitória. Perfeitamente feliz com isso, desde que mantenha o meu amigo vivo.”
A better shot of the bashing they gave Aiden. So far they're going through what we expected with recorded statements. Russian media are taking a victory lap. Perfectly happy for them to do that if it keeps my friend alive. pic.twitter.com/KB9ItgZyKP
— COSSACKGUNDI (@cossackgundi) April 15, 2022
Em declarações anteriores ao jornal britânico, o irmão de Aiden, Nathan, disse temer que o seu irmão fosse torturado ou usado como troféu de guerra, depois de saber o que aconteceu aos militares da ilha Fidonisi (Cobra) no Mar Negro, torturados pelos russos. “Aiden é britânico, talvez a situação seja diferente, mas Putin deu avisos terríveis sobre o destino de qualquer estrangeiro que lutasse ao lado da Ucrânia.”
A Rússia anunciou ter capturado mais de mil soldados do regimento de Aiden em Mariupol, na passada semana. No entanto, no Telegram surgiu um vídeo onde apareciam os comandantes do Batalhão Azov e do 36.º dizendo que alguns militares tinham conseguido chegar à fábrica Azovstal.