Cerca de 20% dos membros do atual Governo estudaram ou têm ligações ao ISCTE. Não tendo o monopólio da formação de quadros governativos – as faculdades de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade de Coimbra rivalizam –, 11 dos 55 governantes frequentaram de alguma forma o estabelecimento fundado em 1972 e liderado agora pela ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues.
A ligação entre o universo socialista e o ISCTE tornou-se notícia depois de João Leão ter decidido aceitar o cargo de vice-reitor daquela instituição de ensino superior onde vai gerir projeto que tem apoio público de 8 milhões de euros, o que motivou o protesto de outras universidades, que sugeriram a existência de um alegado favorecimento do ex-ministro das Finanças no Orçamento do Estado – acusação que Leão recusou e continua a recusar.
Mas a influência daquela instituição nas escolhas do PS para cargos executivos vão muito para lá de João Leão. De resto, há três ministros que se licenciaram naquela faculdade: Mariana Vieira da Silva, Helena Carreiras e Pedro Adão e Silva. A primeira, ministra da Presidência e número dois de António Costa, licenciou-se em sociologia pelo ISCTE e frequenta agora um doutoramento em Políticas Públicas. Vieira da Silva fez parte da equipa organizadora do Fórum das Políticas Públicas, na mesma instituição.
Helena Carreiras, nova ministra da Defesa, tem uma ligação igualmente umbilical à sua alma matter: licenciou-se em Sociologia, foi professora em várias áreas, investigadora no CIES – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e ainda diretora da Escola de Sociologia e Políticas Públicas do ISCTE.
Pedro Adão e Silva, da Cultura, era até agora professor do ISCTE, tendo coordenado dois relatórios do IPPS-ISCTE (um instituto dedicado ao desenvolvimento de políticas públicas). A própria instituição, de resto, celebrou este mesmo facto assim que foi conhecida a nova composição do Governo: “ISCTE com três ministros no Governo”, assinalou a instituição de ensino superior num texto publicado na própria página oficial.
A ligação dos ministros ao ISCTE não se esgota aqui. Apesar de se ter licenciado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Ana Catarina Mendes, nova ministra dos Assuntos Parlamentares e ex-líder parlamentar, frequentou o mestrado em Novas Fronteiras do Direito no ISCTE, segundo se pode ler na sua nota biográfica.
Duarte Cordeiro tem uma ligação semelhante ao ISCTE. Apesar de se ter formado no ISEG – tal como Pedro Nuno Santos, um dos seus grandes aliados no PS, ou Jorge Costa e José Gusmão, dirigentes do Bloco de Esquerda, ou, de outra geração, Mário Centeno – o novo ministro do Ambiente fez uma pós-graduação em Direção Empresarial pelo ISCTE.
Na Defesa, João Gomes Cravinho concluiu a licenciatura e mestrado na London School of Economics e o doutoramento em Oxford. Mas acabou por ser professor de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e Professor Convidado no ISCTE e na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.
Além dos seis ministros com algum tipo de relação com o ISCTE, há cinco secretários de Estado que se licenciaram ou completaram a respetiva formação naquela instituição de ensino superior. Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade, é pós-graduado em Gestão de Entidades Públicas e Autárquicas no ISCTE depois de se ter licenciado em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa.
João Neves, secretário de Estado Adjunto e da Economia, licenciou-se pelo Instituto Superior de Economia em 1980 e concluiu o mestrado em Administração e Políticas Públicas, pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE) em 2003. No Trabalho, o secretário de Estado Miguel Fontes licenciou-se em Sociologia (1994) e é pós-graduado em Gestão Empresarial pela mesma instituição (2003).
Maria de Fátima Fonseca, secretária de Estado da Saúde, licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa mas concluiu o grau de mestrado em Administração e Políticas Públicas pelo ISCTE, em 2002.
Finalmente, Hugo Mendes, secretário de Estado Adjunto e das Comunicações no Ministério de Pedro Nuno Santos, licenciou-se em Sociologia, é mestre em Políticas Públicas e doutorou-se em Ciência Política e tem uma pós-graduação em Análise de Dados em Ciências Sociais sempre no ISCTE. No currículo, disponível na sua nota biográfica, tem ainda uma pós-graduação em Comunicação e Marketing Político pelo ISCSP, uma frequência no doutoramento em Sociologia em Warwick, Reino Unido e pós-graduação em Direito Fiscal do IDEFF. Exerceu ainda funções de professor em pós-graduações no IPPS-IUL e na Nova SBE.
Uma ligação que já deu um líder
Tal como muitos membros do seu Governo, António Costa acabou por completar a sua formação na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. No anterior Executivo, de resto, era evidente a influência desse período nas suas escolhas: Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira, contemporâneos e amigos do primeiro-ministro, eram ministros com um peso próprio na orgânica do Governo.
O outro amigo dos tempos da FDUL, Diogo Lacerda Machado — o “melhor amigo”, como chegou a descrever Costa — não entrou no Governo, mas esteve envolvido na negociação com os lesados do BES, na renegociação da privatização da TAP e na negociação do acordo entre o CaixaBank e Isabel dos Santos no BPI, acabando como administrador da TAP.
Igualmente licenciada pela FDUL, embora noutro período, Francisca Van Dunem também compunha o elenco governativo, assim como João Soares ou Luís Castro Mendes, dois dos três ex-ministros da Cultura de António Costa.
Ainda assim, o ISCTE já serviu de incubadora de vários quadros do partido, a começar por António José Seguro, que caiu às mãos de António Costa, e por Augusto Santos Silva, agora Presidente da Assembleia da República e anterior ministro de Costa, Sócrates e Guterres.
De resto, esta instituição de ensino superior, como se pode ler na secção de alumni notáveis, já formou vários quadros políticos e muitos deles vieram mesmo a ocupar cargos executivos em governos socialistas, como Carolina Ferra, Catarina Marcelino, Cláudia Joaquim, João Wengorovius Menezes, Miguel Cabrita, todos eles antigos secretários de Estado, de Graça Fonseca, ex-ministra da Cultura, e, claro, Maria de Lurdes Rodrigues, a atual reitora e antiga ministra da Educação do Governo de José Sócrates.