As taxas de juro da dívida portuguesa a 10 anos superaram os 2% esta sexta-feira, na negociação no chamado no mercado secundário, onde os investidores transacionam entre si títulos já emitidos pelo Tesouro português. A subida dos juros para mais de 2% acontece cerca de dois meses e meio depois de se ter passado a fasquia de 1% – e no final do ano passado a mesma taxa rondava os 0,2%.
O agravamento dos custos do financiamento do Estado português surge numa altura em que vários responsáveis do BCE – incluindo o vice-presidente Luis de Guindos – admitem o fim das compras de dívida pública pelo banco central já em julho. E não excluem, igualmente, que nesse mês surja também uma primeira subida das taxas de juro.
Os juros no mercado secundário não traduzem, diretamente, custos de financiamento do Estado mas são um indicador sobre as rendibilidades que o Tesouro público teria de oferecer aos investidores nas próximas emissões de dívida que vier a fazer (o chamado mercado primário).
Quando as taxas de juro a 10 anos superaram 1%, a 7 de fevereiro, a presidente do IGCP – a agência que gere a dívida pública portuguesa – reconheceu em entrevista ao Observador que a “exuberância e rapidez” da subida dos custos era surpreendente. Desde então, a taxa duplicou – na iminência de o Banco Central Europeu (BCE) deixar de fazer novas compras líquidas de dívida pública nos mercados, um fator que tem sido decisivo para manter os juros de Portugal e da generalidade dos países em níveis historicamente baixos.
Cristina Casalinho, a presidente do IGCP, admitiu que é algo que “assusta um bocadinho, pela dimensão” da intervenção que houve até agora e que, em certa medida, vai deixar de existir. É um “grande fator de incerteza” a forma como os mercados vão reagir a isso, nos próximos meses, reconheceu a responsável.