Três tigres de bengala estão desaparecidos no México desde início de de março, num caso provocado não apenas pelo poder dos gangues e cartéis de droga — um deles era o proprietário dos felinos-, mas também pela guerra burocrática causada pela indefinição das áreas de jurisdição dos diferentes órgãos das autoridades mexicanas.

No dia 15 de fevereiro, a Procuradoria do Estado de Guerrero, o exército mexicano e a Guarda Nacional entraram na aldeia de Quechultenango, a quatro horas da Cidade do México, onde apreenderam 11 veículos roubados, 28 quilos de marijuana, armas e munições. Nada de incomum, dado tratar-se de um operação a envolver alguns dos maiores grupos criminosos do país. Contudo, na aldeia, que é controlada pelo grupo Los Ardillos, foram igualmente encontrados três tigres de bengala subnutridos.

Segundo o Relatório de Crime Organizado e Corrupção, é comum os cartéis de droga terem animais exóticos de estimação, como crocodilos, leões e tigres, e especula-se que estes possam ser alimentados com elementos de gangues rivais, como forma de espalhar o medo e encobrir o desaparecimento dos cadáveres.

Os militares foram impedidos de levar os animais pela população da aldeia, que se juntou no centro da localidade e não permitiu a entrada e saída de viaturas das autoridades, explica o El País. A população aproveitou o momento para se manifestar contra aquilo que considera serem abusos dos agentes do exército. Ao fim de várias horas, foi mesmo redigido um documento onde se acordou que doravante os militares que patrulhassem a região teriam de estar acompanhados de polícias municipais. Tudo isto levou a que os animais não fossem resgatados.

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Inicialmente a cargo da Procuradoria de Guerrero, o caso foi transferido dois dias depois para a Autoridade de Proteção Ambiental (Profepa). Esta, contudo, explicou ao El País que “faltavam ações anexas à emissão do documento para a transferência de responsabilidade legal e material de uma instituição para a outra“.

Nos dias seguintes, a Profepa tentou organizar uma nova operação com melhores condições, com meios de transporte específicos para animais, jaulas e até uma equipa médica para controlar a deslocação dos tigres. A 26 de fevereiro, elementos da Profepa e da Procuradoria de Guerrero deslocaram-se a Quechultenango para finalmente prender os felinos. Porém, a jaula onde os animais tinham outrora sido encontrados, subnutridos e mal tratados, estava agora vazia e limpa, revela o jornal espanhol.

No dia 4 de março, começaram a circular na Internet imagens dos felinos, tiradas no local onde estava a jaula encontrada na segunda missão de resgate.

A Profepa apresentou uma denuncia no ministério do Meio Ambiente para a abertura de uma investigação aos delegados da Procuradoria de Guerrero, ou seja, a funcionários da própria tutela. A procuradoria local também está a averiguar o desaparecimento dos tigres. Mas, apesar das investigações, os tigres ainda não foram encontrados.