Quando as forças russas atingiram o teatro de Mariupol, a 16 de março, Dmitry Yurin estava a apenas alguns metros de distância. Preparado para comemorar o seu 31.º aniversário em casa com a mãe, o ucraniano ouviu uma explosão que descreve como “tremenda”. Dmitry Yurin saiu à rua e viu “corpos e pedaços de corpos”. Depois de ajudar a retirar mulheres e crianças dos escombros, olhou para as suas mãos e viu que estavam “totalmente cobertas de sangue”. Foi nesse momento que decidiu que teria de planear a sua fuga de Mariupol.

Eu não queria ficar. Eu não queria morrer”, contou à revista Time.

A cidade portuária estava cercada pelas forças russas, que controlavam a maioria das estradas dentro e fora de Mariupol e que bloqueavam também a abertura de corredores humanitários para a retirada de civis.

Como na sua infância passou horas no mar a pescar com o pai, Dmitry percebeu que conhecia bem a costa ao redor de Mariupol e que escapar a nadar seria a sua melhor hipótese. De noite, com a cidade “deserta” e apesar do “frio” deu início ao seu plano.

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Com dois sacos do lixo amarrados à volta das suas meias e com quatro garrafas de plástico para utilizar como flutuadores para descansar durante a viagem, o ucraniano conseguiu nadar em “temperaturas gélidas” por pelo menos três quilómetros.

“Eu escondia-me atrás de uma das garrafas para que ninguém me pudesse ver. Graças à roupa de mergulho, eu não congelei”, conta.

Quase três horas depois, conseguiu chegar à cidade de Melekine, onde foi ajudado por estranhos. Um casal de idosos ofereceu-lhe uma dose de vodka, uma tigela de chá quente e um prato de borsch, sopa típica da culinária ucraniana feita com beterraba, escreve o jornal espanhol El Mundo.

O próximo passo da fuga foi conseguir boleia até à cidade de Berdyansk, que, apesar de estar ocupada pelas forças russas, estava longe de ser uma zona de batalha como Mariupol. No posto de controlo, por sorte, os soldados russos que tinham “17 ou 18 anos” ignoraram-no.

De Berdyansk, Dmitry conseguiu continuar a sua trajetória até território que ainda está nas mãos de Kiev. Ainda sem telemóvel ou documentos, está em Lviv, em segurança, mas continua a lembrar-se do que viu em Mariupol. “Não durmo mais de uma hora e meia por noite”, afirmou.

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“Tenho 31 anos, tenho idade de lutar, conheço artes marciais. Se os russos me prenderem, com certeza vão torturar-me. Graças a Deus conhecia tão bem a costa ao redor de Mariupol. Isso salvou-me”, disse o ucraniano, que é citado pelo jornal The Guardian.

Dias depois da fuga da cidade portuária, Dmitry Yurin soube que a sua mãe conseguiu também fugir para Berdyansk. “Vou para qualquer país, não me importo… qualquer coisa menos regressar à guerra”, afirma.