As paredes pinceladas de cor de rosa, os pilares imponentes que circulam a sala e as cortinas simétricas que cobrem o palco são alguns elementos que caracterizam o Salão Ático, um espaço aberto ao público em 1941, exatamente a mesma altura em que o Coliseu do Porto é inaugurado.

“A sala principal sempre foi o ativo mais conhecido e mais procurado, o Ático era um complemento importante e o complexo original já o incluía. Antes ou depois das óperas ou dos espetáculos de orquestra, os senhores desciam até à adega para fumar e beber e as mulheres iam para o Salão Ático tomar um chá e comer scones”, recorda Mónica Guerreiro, presidente da direção do Coliseu do Porto.

Entre os anos 50 e 70 o Salão Ático teve o seu apogeu, tinha uma orquestra de nove elementos residente, cujas partituras estão a ser agora recuperadas, mas a partir dos anos 80 a diversidade cultural na cidade e a proliferação para o espaço público levou a que a procura diminuísse e só em 2015 e passou a ter uma ocupação diária durante a semana, graças aos alunos da Escola Profissional do Balleteatro, estrutura artística residente no Coliseu.

O Salão Ático é atualmente espaço para as aulas de dança dos alunos da Escola Profissional do Balleteatro

A intenção de devolver a sala à cidade, que ainda muitos desconhecem, com uma programação regular não era propriamente novidade, mas só começou a ganhar forma com o interesse da Produtores Associados, uma produtora de espetáculos, eventos e artistas em dinamizar outros espaços do Coliseu do Porto.

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“Esta é uma das primeiras boas notícias após a pandemia: devolver uma sala nobre à vida cultural da cidade do Porto, mas também conseguir olhar para o futuro com uma programação de concertos até ao final do ano. A ideia é que a sala tenha uma utilização regular ao domingo, que é um dia da semana não muito habitual para espetáculos, mas que aqui faz sentido recuperando e respeitando a tradição dos chás dançantes e das matinés”, sublinha Luís Pardelha, da Produtores Associados.

O cor de rosa das paredes e das cortinas do palco será substituído por tons mais escuros e sóbrios

Nas próximas semanas, a sala, agora batizada como Novo Ático, irá sofrer pequenas obras de recuperação, a estrutura e o desenho não irão ser alterados, mas haverá novos equipamentos de luz e som, o bar original será reativado para vender bebidas e snacks e o cor de rosa dará lugar a tons mais escuros. O espaço terá capacidade para receber 300 pessoas com plateia em pé e cerca de 200 lugares sentados, já o investimento das obras será maioritariamente suportado pelo Coliseu do Porto.

“É uma verba significativa suportada pelo patrocinador, mas penso que ao fim de dois anos ficará completamente amortizado”, adianta Mónica Guerreiro, acrescentando que ainda este verão a adega situada na cave do edifício também será reaberta ao público com um novo projeto.

O bar que integra a sala será reativado para dar apoio aos concertos, tendo disponíveis bebidas e alguns snacks

A programação do Novo Ático arranca no dia 5 de junho com uma festa de abertura gratuita e que terá a banda portuense TT Syndicate e o Dj Xico Ferrão como protagonistas. Seguem-se nomes como Mão Morta Redux, a guitarrista brasileira Dora Morelenbaum, Três Tristes Tigres, Blind Zero, Happy Mess, Neev, Cassete Pirata, Surma ou JP Simões, com uma atuação marcada para a tarde do dia de Natal, 25 de dezembro. Todos os concertos acontecem pelas 18h e o preço dos bilhetes varia entre os 8 e os 15 euros. “Mais nomes serão confirmados e anunciados nas próximas semanas”, revela o produtor Luís Pardelha.

Obras de requalificação do Coliseu aguardam posição de novo ministro da Cultura

Há precisamente um ano, em abril de 2021, o Ministério da Cultura, na altura comandado por Graça Fonseca, e a Câmara Municipal do Porto, presidida por Rui Moreira, anunciaram que iriam assumir em partes iguais o custo das obras de reabilitação do Coliseu, orçadas em cerca de 3,8 milhões de euros e concentradas na cobertura, na fachada e nas torres do edifício com 80 anos. Estimava-se que a empreitada iria começar este ano, mas isso ainda não é certo.

Câmara do Porto e Ministério da Cultura suspendem concessão do Coliseu do Porto e assumem obras de reabilitação

Depois das eleições autárquicas em 2021 e do chumbo do Orçamento do Estado, que levou à queda do Governo e a novas eleições legislativas, o processo ficou em banho-maria, mas Mónica Guerreiro, presidente da direção do Coliseu, garante que o objetivo não foi esquecido.

“Enquanto o panorama político não era estava, não existiu oportunidade para a reafirmação deste compromisso. Tenho uma expectativas muito elevada de que o novo ministro da Cultura [Pedro Adão e Silva] consiga superar este impasse e consiga finalmente dar consequência a esta tão desejada reabilitação. Sei que é do maior interesse de todos, sei que o presidente da Câmara do Porto está preocupado com o Coliseu e quer virar esta página, não há qualquer recuo da sua parte. Já falei com o gabinete do novo ministro da Cultura sobre este assunto e deu-me a entender que ainda este mês poderá receber a direção do Coliseu para a assunto ser falado.”