No primeiro mês de guerra na Ucrânia, mais de 80 golfinhos da espécie Delphinus delphis foram encontrados mortos ao longo da costa oeste do Mar Negro, cenário que a Fundação Turca de Investigação Marítima caraterizou como um “aumento extraordinário”, em comunicado divulgado a 26 de março.

O conflito na Ucrânia pode estar na raiz destas mortes. Vários especialistas justificam-no com o escalar da poluição sonora no norte do Mar Negro, causado pela presença de cerca de 20 embarcações da marinha russa e pelas atividades militares.

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Aproximadamente 40 destes mamíferos morreram após ficarem presos nas redes de pesca. O que aconteceu à outra metade ainda é uma “pergunta sem resposta”, assumiu o líder da Fundação, Bayram Öztürk, ao The Guardian, já que nas carcaças não existia sinal de feridas provocadas nem por redes de pesca nem por armas.

O trauma acústico parece ser uma das possibilidades”, vincou Öztürk, salvaguardando: “Não temos provas de que os sons de baixa frequência de tantos navios sejam a causa disto, mas também é verdade que nunca tivemos tanto ruído por um período tão extenso de tempo – e a ciência exige sempre provas”.

Os navios têm sonares para conseguirem localizar submarinos inimigos a grandes distâncias e o ruído subaquático pode ter consequências graves na sobrevivência dos cetáceos.

Esse barulho constante pode não matar os animais, salientou o investigador da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, Pavel Gol’din, mas provoca-lhes “sérias” perturbações. Por exemplo, os golfinhos podem estar a deslocar-se para território desconhecido para tentar evitar o ruído: “Pode ser a causa da migração massiva, tanto de peixes como de cetáceos, para o sul [costas turca e búlgara do Mar Negro]”.

As investigações da comunidade científica são prejudicadas pelo facto de não haver protocolos para proteger os mamíferos marinhos durante a guerra. “Há dezenas de navios no Mar Negro, mas nem sabemos com que frequência usam o sonar”, sublinhou Öztürk. De acordo com o jornal britânico, a falta de acesso a informação não só está a condicionar o trabalho sobre as mortes dos cetáceos como também está a tornar difícil identificar os animais que estão em maior perigo.