O rei emérito regressou a Espanha. Depois de 21 meses a viver em Abu Dhabi, Juan Carlos voltou a pisar esta quinta-feira, 19 de maio, solo espanhol. À espera para o receber (e abraçar) no aeroporto de Peinador, em Vigo, estava a infanta Elena (a filha mais velha) e Pedro Campos, amigo íntimo e muito mais. Criou uma categoria de vela só para que Juan Carlos pudesse continuar a competir e é na sua casa que o emérito fica instalado quando visita a região.

Pedro Campos conheceu o então rei Juan Carlos em 1983: “apresentou-mo o seu grande amigo, o armador José Cusí. Até então só o tinha visto na televisão” contou em entrevista à Vanity Fair em 2019. A paixão pelo mar e pela vela criou as ondas necessárias para navegarem uma amizade que ainda hoje se mantém, assim como o empresário ainda hoje trata o amigo e ex-soberano por “El Jefe”.

Natural de Pontevedra, Pedro Campos Calvo-Soltero nasceu em 1950 e no seio de boas famílias da zona. É filho de Marcial Campos Fariña, um engenheiro da Endesa que era proprietário das Termas de Cuntis, um empreendimento de referência na Galiza com hotel e spa, que atualmente é gerido pelos filhos. A mãe era Enriqueta Calvo Sotelo, descendente de uma linhagem de importantes figuras da política. Dos 11 filhos do casal, Pedro é o quinto e o único que se dedica profissionalmente às regatas, mas também é aficionado pelo ski.

Pedro Campos começou a estudar engenharia naval, mas rapidamente decidiu dedicar-se profissionalmente às regatas. Diz que começou a competir tarde, aos 17 anos, e em 1976 conquistou o seu primeiro título mundial no Mónaco. Atualmente já conta com 17 e a estes juntam-se também 11 “Copas del Rey”. Aos 43 anos casou-se com a basca Begoña Gil de Barroeta, tiveram duas filhas, Begoña e Paloma, mas acabaram por se divorciar. Voltou a casar-se em 2017, desta vez com a brasileira Cristina Franze, e o rei Juan Carlos foi um dos convidados da cerimónia.

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Um dos motivos que tem posto o nome de Pedro Campos na imprensa é o facto de ser na sua casa que Juan Carlos ficará hospedado durante a sua curta passagem por Espanha, por estes dias. Localiza-se nos arredores de Sanxenxo, na praia de Áreas, muito perto do clube náutico e tem sido o lugar de eleição de Juan Carlos desde a sua abdicação em 2014 quando visita aquela zona. Os seus anfitriões reservam-lhe todo o piso superior da sua vivenda. Foi também nesta casa que Juan Carlos esteve alojado nos dias que antecederam a sua partida para Abu Dhabi em agosto de 2020. Contudo, o rei emérito não é o único hóspede da realeza na casa de Pedro Campos e Cristina Franze, a infanta Elena e até a rainha Sofia já lá se terão instalado para assistirem a regatas naquela zona, segundo a Vanity Fair.

Campos é um empreendedor e a sua área de eleição parece ser a vela. Fundou uma empresa que viria a resultar numa fusão com a maior marca mundial desta indústria, a North Sails, na qual Pedro Campos não só tem uma participação como também já a presidiu. Atualmente, tem 72 anos e é o presidente do Real Club Náutico de Sanxenxo.

A paixão pelo mar terá começado quando tinha apenas três anos e começou a ir navegar com o pai pela ria de Arousa, num barco que este alugava no verão. “É como começar a andar, uma pessoa não se recorda de como foi”, contou Campos à Vanity Fair.

Depois de uma operação ao pulmão em 2010 (uma das oito a que foi submetido entre esse ano e 2014) Juan Carlos teve de abandonar os desportos aquáticos e terá comentado a falta que lhe fazia navegar. “Já tinha desistido quando um dia coincidimos numa regata. Comentou que o que mais gostava no mundo era de voltar às regatas. E então pusemos mãos à obra”, conta o amigo do rei emérito. A solução que ele e outros amigos encontraram passava por uns barcos clássicos (datados entre 1929 e 1947) que permitiam que os tripulantes navegassem sentados numa cabine no convés e tinham a particularidade de serem muito estreitos e, por isso, mais seguros. “El Jefe fica encaixado e não há risco de queda. Tem muito mérito que o rei compita ao mais alto nível e num barco tão difícil”, explicou Campos. O engenho deu o mote à criação da regata Rey Juan Carlos, que tem lugar em Sanxenxo, claro. Em 2015, o ex-monarca regressou à competição e, conta o El Mundo, para ganhar esta regata com o seu nome a bordo de um veleiro de 1929, o Acacia, que pertencia ao piloto Mauricio Sánchez Bella, que também fará parte do restrito grupo de amigos da Galiza.

Juan Carlos começou a visitar Sanxenxo em 1957, foi lá que entrou para a Escola Naval de Marín para fazer formação militar quando ainda era príncipe. A ligação à terra manteve-se e o El Mundo escreve que, em Sanxenxo, Juan Carlos continua a ser o rei porque as pessoas o adoram. Em agosto de 2017 a Vanitatis contava que era na Galiza que o rei emérito desfrutava do seu tempo livre depois da abdicação, entre o mar e refeições na companhia dos amigos. É lá que tem um grupo de pessoas íntimas, como Pedro Campos, a quem se junta também o já referido José Cusí, uma amante do desporto que foi competidor olímpico de tiro e é também empresário e armador (o nome que se dá ao dono de um barco na gíria náutica), que conhece Juan Carlos desde a década de 1970.

Os amigos de Juan Carlos mantiveram-se próximos durante estes quase dois anos de estadia nos Emirados Árabes Unidos. O rei emérito regressou esta semana a Espanha para participar na regata preparatória InterRías para o próximo campeonato do mundo que irá acontecer, precisamente, em Pontevedra entre 10 e 19 de junho. No entanto, segundo o El País, não irá competir. Deslocou-se esta sexta-feira ao Club Náutico de Sanxenxo onde foi recebido por muitos populares e por gritos de “Viva el Rey!” e está a seguir a atividade a partir de uma lancha de apoio. A acompanhá-lo esteve o amigo e presidente do clube, Pedro Campos. Uma das poucas pessoas, ou talvez a única, que pode contar a história de quando atirou o rei Juan Carlos de Espanha a uma piscina. Aconteceu em 1993 no Club Náutico de Palma de Maiorca depois ganhar a Copa del Rey. “Era tradição atirar o padroeiro à água. O príncipe veio felicitar-nos e deu-nos o impulso final”. Conta ainda que a fotografia correu o mundo como exemplo de uma monarquia próxima do seu povo.