O cardeal José Tolentino Mendonça desafiou este domingo os peregrinos a entenderem a paz como uma tarefa confiada “às mãos” de cada pessoa, alertando para os “insuportáveis sofrimentos causados pela guerra”. O cardeal presidiu esta manhã à celebração eucarística com a presença da imagem do Santo Cristo, na Igreja de São José, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Devido às condições meteorológicas, a eucaristia realizou-se na Igreja de São José e não, como habitualmente, no Campo de São Francisco.

Na homilia, o cardeal sublinhou: “Jesus deixa-nos a paz, mas não nos deixa uma paz instantânea, pronta a servir, deixa-nos a paz como projeto”.

“A paz como tarefa, confiada às nossas mãos”, acrescentou o cardeal bibliotecário e arquivista da Santa Sé, que preside pela primeira vez às festas do Santo Cristo.

José Tolentino Mendonça referiu ser fundamental que cada pessoa “acolha” no “coração” a pergunta sobre o significado da paz, uma interrogação que “ganha contornos ainda mais dramáticos perante os insuportáveis sofrimentos causados pela guerra”.

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“Rezemos hoje pelas vítimas da guerra. Confiamos ao Senhor Santo Cristo dos Milagres o que está a acontecer na martirizada Ucrânia, que ele nos ajude como sociedade e indivíduos a sentir que paz depende de nós e começa nas nossas mãos”, vincou.

O cardeal madeirense referiu-se também à pandemia de Covid-19, considerando que “é necessário tirar lições profundas, em vez de enxotar depressa demais esta experiência para debaixo do tapete”.

“Durante a pandemia repetiu-se tantas vezes que o mundo tinha de sair melhor depois desta experiência. E, afinal o pesadelo não só continua, mas parece que ainda se agrava”, apontou, pedindo “mobilização” para a paz de que o “mundo tanto precisa”.

Perante a imagem do Santo Cristo, o cardeal José Tolentino Mendonça defendeu que é preciso “resiliência” para “relançar a vida comum, a partir de alicerces justos, a partir da ideia de fraternidade” e com uma “igreja inclusiva”. “Globalizámos a economia, mas não a solidariedade” e tornou-se o mundo num “vasto mercado, sem tentar corrigir as assimetrias e desigualdades”, considerou.

O reitor do Santuário do Santo Cristo, cónego Adriano Borges, realçou a possibilidade de as festas do Santo Cristo terem sido retomadas, juntando os peregrinos, e destacou a presença do cardeal Tolentino Mendonça. “O senhor é um exemplo de como os poetas também são profetas. Estamos imensamente agradecidos pela sua presença e pela forma como nos ajuda a chegar a Deus”, sublinhou Adriano Borges.

O reitor do Santuário do Santo Cristo deixou ainda uma palavra para aqueles que este ano ainda não puderam estar presentes nas festas, devido às suas “fragilidades”. “Que o Senhor Santo Cristo estenda o seu olhar a todos e traga a paz que o mundo tanto anseia e traga a paz aos nossos corações”, reforçou Adriano Borges.

Hoje pelas 16:30, a Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres sai do convento para integrar a procissão, iniciando um trajeto de cerca de quatro horas pelas ruas de Ponta Delgada. As festas do Santo Cristo decorrem até dia 26 (quinta-feira).