O julgamento dos militares ucranianos que se renderam na semana passada em Azovstal iniciar-se-á em Mariupol, disse nesta segunda-feira uma fonte familiarizada com o assunto à agência de notícias independente russa Interfax.

“Segundo os dados preliminares, o primeiro julgamento intermédio vai ser realizado em Mariupol“, indicou a fonte.

O julgamento vai ser seguido de outras etapas, que poderão ocorrer noutras localidades, acrescentou.

Todos os militares que estiveram entrincheirados na siderúrgica Azovstal até se renderem na semana passada estão presos na autoproclamada República Popular de Donetsk, controlada pela Rússia, disse nesta segunda-feira o líder separatista Denis Pushilin à agência russa Interfax.

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“Os prisioneiros de Azovstal estão no território da República Popular de Donetsk”, afirmou.

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Na quarta-feira passada, o jornal independente russo Meduza afirmava que 89 dos combatentes ucranianos que defenderam Azovstal estariam na cidade de Taganrog, na região russa de Rostov.

A Rússia anunciou, na sexta-feira, que um total de 2.439 militares ucranianos se renderam em Azovstal, uma metalúrgica com mais de 11 quilómetros quadrados que foi o último bastião dos combatentes ucranianos na cidade portuária de Mariupol.

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Moscovo divulgou alguns vídeos e fotos, especialmente de feridos em hospitais, mas não avançou o local para onde foram transferidos.

De acordo com Pushilin, “está a ser preparado um tribunal internacional a instalar no território da república” de Donetsk para julgar os militares ucranianos de Azovstal, algo que ainda não foi confirmado por Moscovo. O líder separatista pró-Rússia não esclareceu o que entende por tribunal internacional.

O vice-presidente do Comité de Defesa da Duma Russa (câmara baixa do parlamento), Yuri Shvitkin, considerou, em declarações à agência oficial TASS, que é “absolutamente correto” julgar os defensores do regimento Azov, considerados “criminosos de guerra” e “neonazis” por Moscovo, defendendo que o julgamento deve decorrer na Rússia.

“Nas repúblicas de Donetsk e Lugansk a pena de morte está em vigor, não foi abolida e, portanto, claro que [defensores ucranianos] podem ser sujeitos a isso“, admitiu.

“Se falarmos em algum tipo de tribunal internacional, francamente, no quadro dos acontecimentos de hoje relativamente aos países ocidentais, é claro que não confiamos na investigação objetiva e, mais ainda, na condenação desses nazis”, acrescentou.

Por sua vez, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Andrei Rudenko, não descartou a possibilidade de uma troca de presos que inclua os detidos em Azovstal.

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A última troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia ocorreu no início de maio, e abrangeu 41 ucranianos capturados pelas forças russas, incluindo 11 mulheres, de acordo com fontes oficiais em Kiev.

“Provavelmente tudo isso está a ser discutido. Admito qualquer possibilidade que não contrarie o bom senso”, afirmou, citado pela Interfax.

A Provedora de Justiça russa, Tatiana Moskalkova, disse que a Rússia apoiou o trabalho do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no registo dos prisioneiros ucranianos, incluindo os militares do batalhão Azov que foram retirados da fábrica de Azovstal, entre 17 e 20 de maio.

O CICV garantiu que vai verificar as condições e tratamento dos militares que se renderam na fábrica de Azovstal e se estão a ser mantidos como prisioneiros de guerra pelas autoridades russas.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A guerra na Ucrânia, que completa na terça-feira três meses, causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas das suas casas — cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,1 milhões para os países vizinhos –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945).

Também as Nações Unidas disseram que cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.