Alexei Navalny, principal rosto da oposição interna a Vladimir Putin, viu esta terça-feira a Justiça russa negar-lhe o recurso que tinha interposto depois de ser condenado a nove anos de prisão pelos crimes de fraude e peculato, além de desrespeito pelo tribunal.

Com a invalidação do recurso, fica inviabilizada a candidatura de Navalny às próximas eleições na Rússia, previstas para 2024. Navalny já está a cumprir uma pena de dois anos e meio numa prisão perto de Moscovo, por violação de liberdade condicional – depois de ter sido acusado de ter roubado o equivalente a quase cinco milhões de euros em donativos políticos às campanhas em que esteve envolvido.

Navalny, que nega essas acusações, foi alvo de uma tentativa de envenenamento com um agente novichok, à qual sobreviveu após um mês no hospital na Alemanha.

A pena aplicada, ainda assim, foi inferior à que tinha sido pedida pelo Ministério Público, que queria que Navalny fosse transferido para uma prisão de alta segurança por 13 anos, não só pela alegada fraude como por desrespeito ao tribunal – alegações que várias organizações não-governamentais já vieram dizer não terem sustentação e serem apenas uma forma de silenciar a oposição a Putin.

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Quando Navalny foi condenado, a União Europeia pediu à Rússia que o liberte imediatamente, como aliás já tinha ordenado o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem em fevereiro de 2021. Num comunicado publicado no site oficial do Conselho Europeu, a UE também lamentou a forma como decorreu o julgamento, “em ambiente fechado”, impossibilitando outros observadores internacionais de assistir e levantando, assim, dúvidas de um julgamento justo. “Esta é a indicação mais clara de que o sistema jurídico russo continua a ser instrumentalizado contra o Navalny”, lê-se.

Navalny diz que Putin é um “louco malvado” com “exército, armas nucleares” e veto na ONU

Num artigo publicado esta segunda-feira na revista norte-americana TIME, após o Presidente da Ucrânia ter sido eleito uma das personalidades do ano, Navalny chamou a Vladimir Putin “louco malvado” com armas nucleares e direito de veto na ONU,

“Os líderes mundiais falaram hipocritamente durante anos sobre o pragmatismo e as vantagens do comércio internacional. Assim, posicionaram-se para beneficiar do petróleo e gás russos, enquanto o domínio de Putin se foi tornando cada vez maior”, salientou Alexei Navalny no artigo.

O opositor acrescentou que agora “a questão com que nos deparamos é: como deter um louco malvado com um exército, armas nucleares e um membro do Conselho de Segurança da ONU?”, questionou. “Esta [questão] ainda não foi respondida. E somos nós que o devemos fazer”, afirmou.

Vladimir Putin “lembrou-nos mais que uma vez que o caminho que começa com ‘um pouco de fraude eleitoral’ conduz sempre a uma ditadura”, disse, vincando que “as ditaduras conduzem sempre a guerras. É uma lição que não deveríamos ter esquecido”.