Pelo menos 21 pessoas morreram durante uma operação de captura de traficantes de droga de um poderoso grupo criminoso num complexo de favelas no Rio de Janeiro, disseram fontes oficiais, em novo balanço.
“A direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas informa que, até o momento, 28 pessoas foram encaminhadas à unidade, na Penha, desde a manhã desta terça-feira. Desse total, 21 chegaram mortas“, indicou fonte da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
De acordo com a mesma fonte, há ainda sete pessoas feridas que estão a ser atendidas.
Esta foi a segunda operação mais letal da cidade, ficando apenas atrás apenas da realizada na favela do Jacarezinho, em maio de 2021, onde morreram 28 pessoas.
Segundo a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, a operação desta terça-feira foi encerrada por volta das 17h00 locais.
La Penha, na zona norte do Rio, acordou ao som de tiros depois de uma operação conjunta do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF) ter entrado no complexo de favelas gigantescas do Rio de janeiro em busca de líderes do Comando Vermelho, um dos grupos criminosos mais importantes do Brasil.
As vítimas foram levadas para Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde os familiares foram reconhecer os corpos sem vida.
O objetivo da operação, segundo as autoridades, foi o de tentar desmantelar o Comando Vermelho, uma fação “com uma ideologia de guerra” e que é “responsável por mais de 80% dos confrontos armados” no Estado do Rio de Janeiro.
“Tem uma política expansionista, uma ideologia de guerra, de confrontação. Não só contra as forças policiais, mas também contra outros grupos criminosos“, disse o porta-voz da Polícia Militar Ivan Blaz.
Segundo Blaz, o Comando Vermelho começou a proteger os traficantes de droga de outros estados que “dão ordens” no Rio de Janeiro “para cometer homicídios noutras regiões” do país e que estão alegadamente escondidos em Vila Cruzeiro, dentro do Complexo da Penha.
Vila Cruzeiro foi uma das favelas do Rio ocupadas no final de 2010 pelo exército brasileiro numa grande operação para expulsar o tráfico de droga, mas os grupos têm vindo gradualmente a recuperar o controlo da região.
Durante a operação, que envolveu veículos blindados, foi apreendido um “arsenal de guerra”, incluindo pistolas, 10 granadas e pelo menos 13 espingardas da China e da Europa de Leste que chegaram ao Brasil através do tráfico internacional de armas, bem como carros e motas.
“Estas são armas que podem matar pessoas a longa distância”, salientou Blaz.
Relatos na comunicação social brasileira indicam que houve uma vítima de 41 anos, Gabrielle Ferreira da Cunha, que foi atingida por uma bala perdida. O próprio porta-voz afirmou das autoridades policias afirmou ter sido uma “perda de uma vida inocente”.
“Não vamos ter grande sucesso numa operação enquanto houver mortes de um inocente (…) Infelizmente é necessário que façamos operações como essa“, justificou o porta-voz.
Contudo, na nota enviada, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro garante que “Não há registo de entrada de paciente com o nome Gabrielle Ferreira da Cunha”
Entretanto, devido ao elevado número de mortes, o Ministério Público Federal (MPF) já emitiu um comunicado no qual requer “com urgência, aos superintendentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, informações sobre o efetivo dos agentes que participaram da operação conjunta”
O MPF pediu ainda o relatório final da operação realizada “bem como informações detalhadas sobre o cumprimento dos mandados de prisão, encaminhando o número da ação penal, do respetivo Inquérito Policial e cópia dos mandados de prisão expedidos”.
De acordo com a imprensa local, alguns moradores conhecidos das vítimas e feridos na operação fizeram um protesto próximo ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, local onde foram encaminhados os mortos e os feridos.
Numa primeira reação ao tiroteio, a Human Rights Watch (HRW) apelou a uma investigação “imediata e completa” dos acontecimentos e denunciou que os habitantes da favela “passaram horas de terror”.
“O Rio precisa urgentemente de uma nova política de segurança pública que não seja à prova de bala”, acrescentou.