José Mourinho levantou os cinco dedos de uma mão fazendo alusão aos títulos europeus que conseguiu ao longo da carreira antes de deixar o campo e voltar para abraçar um a um todos os elementos da Roma (e a seguir os adversários), Rui Patrício procurou e conseguiu a bola que desviou com duas defesas vitais para o triunfo, Sérgio Oliveira olhava rendido para a bancada onde estavam concentrados os adeptos romanos, Tiago Pinto associava-se de fato e gravata à festa. Se na final da Liga Europa já tinha havido um português em festa (Gonçalo Paciência, do Eintracht), o jogo decisivo da Conference League acabou com uma grande festa nacional em Tirana que se vai prolongar esta quinta-feira em Itália com a chegada à capital.

Os deuses (e Patrício) protegem sempre os especiais (a crónica da final da Conference League)

No final, já com as emoções que levaram Mourinho às lágrimas em pleno relvado e numa das passagens pela zona de entrevistas rápidas, havia pontos comuns no discurso. Os elogios aos portugueses da Roma, o destaque da importância do título para o clube, a relevância do momento para culminar a temporada, o agradecimento de cada um às famílias e amigos pelo apoio. E ainda houve tempo para mais algumas mensagens, nomeadamente por parte do treinador que voltou a fazer história no futebol europeu.

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“Há clubes que são feitos para ganhar e quando se ganha é uma consequência quase natural do percurso, da história, dos investimentos. Há outros clubes que é mais complicado, é mais difícil e que ganhar tem um sabor especial. Desde que cheguei a Roma que senti uns adeptos absolutamente incríveis mas uns adeptos sem alegria para quem ganhar um jogo à Lazio era a alegria de uma época, para quem fazer um bom jogo contra um dos grandes era fazer a época. Era difícil mas jogámos 55 jogos na época, o Rui Patrício jogou 54 os 90 minutos para dar o exemplo, é um plantel curto, com limitações mas fizemos das fraquezas forças, da amizade a nossa grande arma e fomos jogando, com as nossas armas. Fizemos 15 jogos às quintas-feiras, que depois tem impacto negativo nos jogos de domingo…”, começou por dizer Mourinho na zona de entrevistas rápidas da SportTV, antes de destacar o peso da conquista para os giallorossi.

“Aqui estamos, com esta vitória que sinto muito mais pela Roma do que por mim próprio. É verdade que são coisas importantes, ganhei as competições europeias todas, ganhei títulos europeus em três décadas distintas, mostra o quão velho eu sou, fiz muita gente feliz… O último título de um italiano na Europa foi comigo no Inter? Olha, tens de dizer a alguns companheiros que me dão pau grosso todo o ano… Tenho donos fantásticos pela honestidade, tenho um diretor desportivo fantástico que direi que é mais o meu companheiro de cada dia de trabalho. Ninguém veio ao engano, sabíamos ao que vínhamos esta época. Vamos ver o que é possível no segundo ano. Obviamente que gostava de lutar pelo título, não acredito que seja já possível mas tem de ser a pouco e pouco. Não podemos fazer contratações do outro mundo, tem de ser como o Rui Patrício que jogou 54 jogos e hoje num momento difícil nos deu a vitória”, explicou.

“A quem dedico? À família, aos amigos também de outros clubes, aos romanistas… Não vou dedicar aos aziados. Quem está aziado, problema deles. Estou demasiado velho para desejar coisas más a quem me deseja coisas más, estou com os meus e agora vou de férias, tchau“, concluiu o técnico.

“Foi uma grande noite para todos nós, sem dúvida que foi um troféu que queríamos muito vencer e conseguimos. Agora é aproveitar esta noite e amanhã também porque foi um troféu europeu e estamos muito felizes por isso. Não gosto de falar em mim individualmente, cada jogador quando está em campo tenta dar o seu máximo para ajudar a equipa e eu fiz o meu trabalho. Todos estamos de parabéns pelo trabalho feito e agora é aproveitar a noite, que é muito importante para nós”, comentou Rui Patrício, que explicou que a bola de jogo já estava assinada porque se não levasse “o filho lixava a cabeça”.

“Estamos aqui para ganhar troféus, era algo que desejava muito. É isso que quero que continue a ganhar. É bom ver os adeptos felizes e a importância que isto tem para eles. Sérgio Oliveira? Claro que queria que continuasse, o Oliveirinha é sempre o Oliveirinha. Além de ser um jogador top, fenomenal, é uma pessoa fantástica e é importante para nós. Não sou eu que decido ou já tinha assinado”, acrescentou.

“É fantástico, um sentimento especial vencer por um clube que precisava, que merece e conseguimos escrever história. Primeiro, deixe-me dar os parabéns ao FC Porto porque merece. É um clube exemplar, é o meu clube. Nasci ali, cresci ali e merece ganhar porque ali trabalha-se muito diariamente. Aqui, cheguei em janeiro, sabia que era um desafio grande, mudar-me para um país diferente, um clube que precisava de ganhar e em meio ano conquistámos um título”, salientou Sérgio Oliveira, que em relação ao futuro disse apenas que a vontade do momento era “festejar e poder beber uma cerveja”.

“Toda a gente gosta e quer trabalhar com o mister Mourinho, é fantástico. Tem sempre uma palavra a dizer no momento certo, é estratega, um grande treinador e tem pé quente. Fizemos um golo na primeira parte, penso que podíamos ter feito melhor na segunda mas defendemos bem, mais baixo do que estávamos à espera mas sempre compactos, juntos uns aos outros, o Rui também esteve muito bem mesmo e podíamos ter feito mais um golo mas ficou 1-0 e é o que interessa, as finais são para se ganhar. O Rui é um excelente guarda-redes e merece tudo o que está a viver e é importante”, complementou o médio.

“É difícil descrever, têm sido 15 ou 16 meses mesmo pessoalmente muito difíceis, a minha primeira experiência fora do país com um clube maravilhoso e com adeptos maravilhosos mas ao mesmo tempo onde é difícil trabalhar. Estou muito feliz, é um dia importante e acho que vai ser o primeiro de muitos. Foi uma final sofrida. Aqui falamos muito que é preciso mudar a mentalidade e nada melhor do que trazer o José Mourinho para mudar essa mentalidade. A equipa soube sofrer, soubemos interpretar o jogo, há momentos em que não se pode jogar bem e as finais ganham-se assim”, referiu o diretor geral Tiago Pinto, que no final fez uma vídeochamada para os pais e para a irmã, “a grande referência”.

“Sou uma pessoa que acredita muito no processo e nas ideias, melhorámos muito este ano, o mister fez um trabalho inacreditável no ponto de vista do desenvolvimento individual dos jogadores, da promoção de jovens como o Zalewski que estava na equipa B, com esta mentalidade, com a empatia com o público… Melhorámos em muitos aspetos, mesmo que os resultados nem sempre tenham sido aquilo que queríamos. Temos a nossa ideia muito clara sobre o que queremos para os três anos. Neste primeiro qualificámo-nos para a Liga Europa, melhorámos, ganhámos um título e os próximos dois anos serão ainda melhores. Sou português, cresci a idolatrar José Mourinho e hoje que o conheço posso dizer que será meu amigo para a vida toda porque além de ser o número 1 do mundo é um ser humano inacreditável”, finalizou.