O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deixou, esta quarta-feira, várias críticas às palavras de Henry Kissinger, veterano da política norte-americana e antigo secretário de Estado dos EUA na altura da Guerra Fria. “Não importa o que o Estado russo faça, há sempre alguém que diz: vamos levar em consideração os interesses russos, isto apesar de milhares de mísseis terem atingido a Ucrânia, apesar de dez mil ucranianos já terem morrido, apesar de Bucha e Mariupol”, atirou o chefe de Estado ucraniano.
“Em Davos, por exemplo, o senhor Kissinger emerge do passado longínquo e disse que um pedaço da Ucrânia deve ser dado à Rússia. Para que não haja alienação da Rússia à Europa”, afirmou Volodymyr Zelensky no seu discurso diário ao país, ironizando: “Parece que o calendário do senhor Kissinger não está em 2022, mas em 1938”. “Ele pensava que estava a falar para uma audiência não em Davos, mas em Munique”, prosseguiu.
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Numa crítica a alguns “editoriais dos meios de comunicação social ocidentais” que indicam que a Ucrânia “deve alegadamente aceitar os compromissos em desistir de parte do território em troca de paz”, o Presidente da Ucrânia aproveitou para relembrá-los que não deve haver ilusões sobre este assunto.
Acusando quem faz estas “especulações geopolíticas” de não se preocupar com “as pessoas comuns”, Volodymyr Zelensky disse que vivem milhões de ucranianos “no território que eles propõem trocar por uma ilusão da paz”: “Devem lembrar-se que os valores não são apenas uma palavra”.
O chefe de Estado ucraniano salientou também que o “mundo não estava preparado para a bravura ucraniana. Para a bravura de todas as nossas pessoas que não são inferiores à Rússia e continuam a defender o nosso Estado”. Retrocedendo a 24 de fevereiro, Volodymyr Zelensky lembrou que muitos “nem sequer acreditariam que a Ucrânia seria capaz de sobreviver a uma guerra total”.
Não endereçando ninguém em particular nestas críticas, o Presidente da Ucrânia afirmou que há muitas pessoas que simplesmente não “avaliam” a potencialidade do país: “Muitos deles simplesmente não querem levar a Ucrânia em consideração”, lamentou, disparando depois: “Mas eles têm o hábito de levar a Rússia em consideração. Mesmo quando não há razões objetivas para isso“.
O assunto “é conveniente e habitual. Às vezes muito lucrativo”, explicou o Presidente da Ucrânia, que indicou que é útil para muitos falar sobre “a alegada esfera de influência da Rússia. E sobre o alegado balanço de poderes na Europa, que é alegadamente impossível de se concretizar sem a Rússia”.
É por isso que Volodymyr Zelensky sublinhou que é importante “fazer tudo o possível para que o mundo ganhe o hábito permanente de levar a Ucrânia em consideração”. “Para que os interesses dos ucranianos não sejam sobrepostos pelos interesses daqueles que estão com pressa para outra reunião com o ditador”, rematou.