Quase um mês depois de ter saído da prisão em liberdade condicional, já após ter cumprido cerca de seis meses da pena efetiva de três anos e meio a que foi condenado pelo crime de extorsão agravada, Fabrizio Miccoli decidiu fazer uma reflexão. E mostrou-se profundamente arrependido.
“Há 12 anos, cometi um grande erro. Um daqueles erros que mudam a vida. Eu tinha tudo. Era o capitão do Palermo, tinha o trabalho que sempre sonhei ter em criança e o povo de Palermo fazia com que me sentisse em casa. Nestes 12 longos anos, sempre preferi o silêncio. Li tudo mas nunca respondi”, começou por escrever o antigo avançado do Benfica numa publicação que partilhou no Instagram.
Atualmente com 42 anos, Miccoli foi considerado culpado de ter ajudado um amigo a recuperar junto de Andrea Graffagnini, o dono de uma discoteca chamada “Paparazzi”, uma dívida no valor de 12 mil euros. Para isso, o antigo jogador contactou Mauro Lauricella, o filho de um ex-chefe da máfia que está a cumprir sete anos de prisão e com quem Miccoli tinha uma boa relação desde os tempos em que jogou no Palermo. Durante a investigação, foram intercetadas conversas entre os dois em que o avançado se referia a Giovanni Falcone, magistrado italiano que era o responsável por muitos casos que envolviam os líderes da máfia, como “aquela lama”.
“Quando és jogador de futebol na Serie A, tens muita atenção. Muitas pessoas querem um pedaço de ti. Muitos conhecem-te mas tu não conheces ninguém. Não sabes em quem podes confiar. Na verdade, cometi mais do que um erro. O primeiro grande erro foi estar sempre disponível para todos. Quem viveu em Palermo naqueles anos sabe disso. O segundo erro foi usar as palavras erradas. Muitas vezes, quando estás no topo, sentes-te invencível… Mas na realidade és apenas humano. Pedi desculpa há algum tempo por essas palavras e faço-o de novo”, prosseguiu Miccoli na longa publicação.
Em seguida, o antigo jogador falou sobre o tempo que passou na prisão. “A sentença surgiu no ano passado. Uma pena sobre a qual não falei porque senti-me distante e estou longe daquele mundo mas uma pena que respeitei ao apresentar-me espontaneamente no dia seguinte numa prisão de segurança máxima, novamente por escolha minha. Um dia lá dentro parece infinito, seis ou sete meses… Uma eternidade. Tenho cumprido o maior castigo nestes 12 anos, todos os dias, ao ver-me próximo de algo que não sou e que não me pertence”, atirou.
“Há algumas semanas, fui libertado. Não estou a pedir para ser compreendido, não estou a pedir para que o que aconteceu seja esquecido. Só quero, depois de 12 longos anos, esclarecer a minha posição, ter a minha própria voz, em vez de esta ser dita pelos outros. Em campo, depois de uma derrota, não podes repetir o jogo que acabaste de perder. Mas podes treinar e tentar fazer melhor no próximo jogo. Tenho quase 43 anos e espero ter muito mais ‘jogos’ para recuperar e mostrar o verdadeiro Miccoli”, terminou o avançado, que também integrou na publicação uma longa lista de agradecimentos, incluindo à equipa de advogados que o defendeu.
Miccoli, antigo futebolista do Benfica, condenado a três anos de prisão em Itália
Fabrizio Miccoli começou a carreira no Casarano e passou depois por Ternana, Juventus, Perugia e Fiorentina, regressando aos bianconeri em 2005. Nesse período, foi emprestado ao Benfica, que representou durante duas temporadas, partindo depois para o Palermo, onde passou seis anos e onde estava quando os crimes ocorreram. Mudou-se depois para o Lecce e acabou a carreira em Malta, no Birkirkara, em 2015.