A teoria do “copo meio cheio, meio vazio” após o empate em Espanha transformou-se nos dois encontros em Alvalade diante da Suíça e da Rep. Checa num copo a transbordar. De qualidade, de consistência, de golos, de pontos como consequência natural de tudo isso. Fernando Santos nunca perdeu o discurso mais ponderado, destacando o que de bom foi feito sem esquecer que nada tinha sido ganho, mas percebia o que tinha conseguido construir num contexto complicado de jogos consecutivos em final de temporada. Agora, na Suíça, tentava prolongar esse momento com a confiança de que era uma fase assente no coletivo.

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“Então nós todos preparados para receber o Ronaldo e o gajo não vem?”, lamentavam os muitos adeptos portugueses na Suíça após saberem a convocatória para o reencontro com a Suíça uma semana depois da goleada por 4-0 em Alvalade. “Não são problemas físicos, é uma gestão normal. Não faria sentido termos 26 a viajar quando só 23 podem estar no banco. Nos últimos jogos fomos fazendo a melhor gestão e agora a escolha recaiu nestes jogadores”, explicara Fernando Santos sobre uma escolha que deixou também de forma Raphael Guerreiro e João Moutinho. O quarto jogo em dez dias obrigava a mexer na equipa mas a estrutura vencedora mantinha-se, com a colocação de um jogador mais posicional e outro mais box to box no meio-campo a funcionar como dínamo para que todos os restantes lugares carburassem.

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“As alterações não serão tantas mas algumas existirão. E também são feitas no decorrer do jogo, até pelas nuances que espero. Uma primeira parte de um tipo, uma segunda de outro por exemplo. A qualidade dos jogadores não está em causa, tenho a possibilidade de poder escolher que jogadores me interessam mais no princípio. Todos têm correspondido a estar aqui com uma grande alegria depois de uma época longa, e estes 11 milhões de pessoas sabem que podem contar com eles”, justificara Fernando Santos, que estava tudo menos iludido com as três derrotas consecutivas dos helvéticos na Liga das Nações até ao momento.

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“Eles vão alterar, com certeza. Não foi um resultado normal tendo em conta os confrontos dos últimos anos. A Suíça é das equipas que mais cresceu nos últimos dez anos, incluindo em 2016. São muito consistentes, têm muita qualidade. O jogo em Portugal foi anormal, eles criaram muitos problemas em alguns momentos do jogo. O posicionamento deles manteve-se no jogo com a Espanha e na segunda parte podiam ter chegado ao empate ou até à vitória. Os próprios jogadores depois referiram isso. Uma equipa que sofre uma derrota que não é normal vai sempre para o próximo jogo com a vontade enorme de mostrar que o que aconteceu não corresponde à realidade. Esperamos uma Suíça fortíssima e a esperar que nos podem ganhar e nós também temos de mostrar que somos capazes”, resumira o selecionador nacional.

Da entrada de Vitinha para o lugar de William Carvalho aos regressos de Otávio e Nuno Mendes, passando ainda pela aposta em Rafael Leão e André Silva na frente, Portugal mudou e com isso acabou por ser uma equipa descaracterizada em relação aos dois últimos encontros em Alvalade. E se Ronaldo já estava mesmo oficialmente de férias, muitos outros elementos foi como se estivessem também, com um desgaste físico à mistura que se sente em jogadores como Bruno Fernandes a par de exibições menos conseguidas esta noite em Genebra como as de Vitinha ou de Rafael Leão. No entanto, e para não variar, houve um destaque no conjunto nacional que quis ser o farol para todos os outros, arriscando mesmo subidas à área contrária que por pouco não deram golo. Aos 39 anos, Pepe fez os quatro jogos em dez dias na Liga das Nações e merecia mais na noite em que subiu ao pódio dos jogadores mais internacionais de Portugal.

O encontro começou como em Alvalade mas a uma velocidade supersónica e com o golo a contar mesmo, ao contrário do que acontecera na goleada por 4-0: Portugal perdeu uma bola na saída em zona proibida, os helvéticos trabalharam bem na direita e Widmer cruzou largo para o desvio de cabeça de Seferovic logo no primeiro minuto, naquele que foi apenas o terceiro golo consentido pela Seleção nos 60 segundos iniciais de um encontro oficial. A tentativa de resposta até pareceu prometedora, com Portugal a conseguir jogar no meio-campo contrário mesmo sem oportunidades para visar a baliza de Omlin, mas seria de novo a equipa helvética a ter um lance que poderia ser prometedor num penálti marcado por mão de Nuno Mendes na área mas revertido pelo VAR por uma falta a meio-campo sobre André Silva (12′).

Seria preciso esperar mais alguns minutos pela primeira ocasião de Portugal, num lance de bola parada bem trabalhado que colocou Danilo a rematar na área para defesa de Omlin (17′). Logo na jogada seguinte, André Silva foi bem lançado na profundidade, cruzou bem para a área mas o golo de Rafael Leão acabou por ser invalidado por posição irregular do jogador do RB Leipzig no início da jogada (18′). Portugal tinha o jogo controlado, não permitia ações ofensivas a uma Suíça que não fez mais nenhum remate à baliza de Rui Patrício até ao intervalo mas enfrentava também grandes problemas em criar ocasiões para o empate, juntando ainda a isso um anormal número de perdas de bola sobretudo no seu meio-campo.

Para o segundo tempo, Fernando Santos abdicou de Otávio para lançar Gonçalo Guedes na direita em busca de uma maior profundidade e largura no jogo de Portugal mas foi do lado contrário que nasceu a primeira grande oportunidade para o empate após o intervalo com Nuno Mendes a recuperar uma bola em zona adiantada e a lançar André Silva para um remate travado por Omlin. A Suíça continuava a ser quase inexistente no plano ofensivo, jogando longo em Seferovic com as linhas mais recuadas e sem capacidade de chegar para ajudar o jogo em apoio do avançado do Benfica, mas só mesmo com as entradas de Jota e Bernardo Silva a Seleção conseguiu assentar no meio-campo contrário em busca do empate.

Do próprio Bernardo Silva a Gonçalo Guedes, de Diogo Jota a Pepe, brilhou a partir daí Omlin, a aposta helvética para a baliza que se tornou o MVP do encontro. E pelas oportunidades que criou e desperdiçou, até a igualdade era um castigo para o que se passou ao longo dos 90 minutos mas Portugal acabou por atrair também essa ineficácia na finalização pela forma como foi errando passes, cruzamentos e bolas paradas que nem chegavam à área. Pepe merecia mais e a Seleção merecia melhor no dia em que perdeu a liderança da Liga das Nações para a Espanha e chegará à “final” ibérica num contexto diferente.