Dois corpos foram encontrados este domingo, 13 de junho, na Amazónia, havendo fortes suspeitas de que se tratem de Dom Phillips, jornalista britânico do The Guardian, e de Bruno Pereira, ativista brasileiro, perito em temas indígenas e funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava). A dupla, que se encontrava em reportagem, estava desaparecida há uma semana — o rasto perdeu-se entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, que corresponde à região com a maior concentração de povos isolados do mundo, com rios e florestas tropicais imensos, perto da fronteira com o Peru, no estado brasileiro do Amazonas.
A notícia foi avançada por Fred Arruda, embaixador brasileiro no Reino Unido, à família do jornalista, numa chamada telefónica, avança o inglês The Guardian. “Ele disse que queria que nós soubéssemos… tinham encontrado dois corpos”, contou Paul Sherwood, cunhado de Dom Phillips. “Não descreveu o local e só disse que foi na floresta tropical, que eles estavam presos a uma árvore e que ainda não tinham sido identificados”, acrescentou, adiantando ainda que, segundo o embaixador, a identificação dos corpos seria realizada quando houvesse luz suficiente.
No sábado, 11 de junho, um grupo de voluntários indígenas, envolvidos nas buscas do jornalista e do ativista, desaparecidos numa das zonas mais remotas da Amazónia, encontrou objetos pertencentes à dupla na região de Javari, no estado brasileiro do Amazonas. Foi este o local onde se perdeu o rasto à dupla, que regressava de uma reportagem de quatro dias. No domingo, 12 de junho, um comunicado da polícia federal brasileira informou que entre os itens recuperados estavam um par de calças, um par de botas, um cartão de saúde com o nome de Bruno Pereira e uma mochila cheia de roupas de Phillips.
O desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira está envolta em polémica. Em causa está o trabalho de investigação contra invasores da floresta amazónica — como madeireiros, mineiros, entre outros — que colocou um alvo na Unijava há já algum tempo.
O jornal O Globo teve acesso a uma carta enviada à organização por pescadores, que praticavam pesca de forma ilegal. A carta incluía ameaças de morte a Bruno Pereira: “Sei que são vocês que estão perseguindo os trabalhadores que pescam para sobreviverem, já estamos cansados dessa perseguição de vocês índio contra a família dos trabalhadores. Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas. Sei que quem é contra nós é o beto índio e bruno da funai quem manda os índio irem para área prender nossos motores e tomar nosso peixe”.