Frances Haugen, a antiga funcionária do Facebook que denunciou a rede social por alegadamente colocar benefícios económicos à frente da segurança e saúde mental dos utilizadores, quer criar uma organização sem fins lucrativos focada em responsabilizar empresas como a Meta pelas suas atividades e impactos que têm nas pessoas.

O nome pretendido para o projeto é Beyond the Screen (Além do ecrã, em tradução livre). A organização ainda não começou a operar, mas já tem um plano definido com três objetivos considerados principais, segundo o jornal Politico. O primeiro é ‘educar’ advogados que possam trabalhar contra as empresas responsáveis por redes sociais. A ideia é que esses profissionais sejam treinados através de um curso intensivo, que os ajudará a moldar o pensamento sobre como devem abordar o número crescente de ações judiciais coletivas que têm sido apresentadas e nas quais é argumentado que o Facebook e outras redes sociais têm causado danos à vida das pessoas.

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O segundo objetivo do plano delineado por Frances Haugen é incentivar os investidores a analisarem o impacto que uma empresa de tecnologia tem na sociedade antes de a financiarem. O objetivo é criar uma métrica para ser utilizada para comparar os esforços que as empresas fazem para manter os utilizadores seguros e como mitigam os riscos que afetam os seus resultados, noticia o The Verge. A terceira ideia da denunciante do Facebook passa pela construção de uma rede social artificial que permita simular como é que as verdadeiras plataformas trabalham e funcionam. Nesse serviço falso, os reguladores e investigadores poderão criar potenciais cenários, perceber como é que as empresas operam e ter acesso a dados de funcionamento.

Para tornar este projeto numa realidade, Frances Haugen trabalha em conjunto com outras duas pessoas, que estão divididas entre as regiões de Porto Rico e Argentina. Para garantir que a ideia consegue avançar, a denunciante pretende angariar cerca de cinco milhões de dólares, tendo já recebido algum financiamento inicial de investidores — que, para já, permanecem anónimos.

Apesar de ainda estar a arrecadar fundos, a antiga funcionária do Facebook já revelou que a organização estará dividida entre o que acontece nos EUA e os efeitos das redes sociais nos utilizadores do resto do mundo. “O Facebook nos EUA é um produto fundamentalmente diferente do que está disponível noutros países do mundo (…) O Facebook mudou-se para as partes mais frágeis do mundo e tornou-se na internet“, explicou em declarações ao Politico.

Quando questionada sobre os seus objetivos para a organização sem fins lucrativos, a mulher que no ano passado divulgou dezenas de milhares de documentos internos e denunciou que o Facebook colocava os “lucros astronómicos” à “frente das pessoas”, disse que a sua “maior esperança” é deixar (ela própria) de ser “relevante”.

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