Grátis mas não isenta de custos: esta semana, durante a hora que passaram parados na estação lituana de Kybartai, última fronteira com o exclave russo de Kaliningrado, os passageiros vindos de Moscovo ou de Minsk tiveram direito a aceder sem pagar à rede wi-fi da estação — mas para se ligarem tiveram primeiro de ver uma série de imagens da guerra da Ucrânia.
Desde que a Lituânia decidiu limitar o transporte de certas mercadorias para o território (o que levou o Kremlin a reagir de imediato e a avisar que a retaliação não seria apenas “diplomática”, mas “prática”), a viagem, que desde o fim da Guerra Fria decorria sem interrupções, a não ser para deixar sair e entrar passageiros, passou a obrigar à paragem de pelo menos uma hora, para que as carruagens possam ser revistadas pelas autoridades da Lituânia.
Durante esse período de tempo, testemunhou esta quinta-feira o repórter do britânico Telegraph no local, os passageiros não só não saíram do comboio como as cortinas foram mantidas permanentemente fechadas.
Mas se o objetivo era impedir que os cidadãos russos (a quem está vedada a expressão “guerra” e que desde o início da ofensiva na Ucrânia só têm acesso aos media controlados pelo Estado, banida que foi toda a imprensa dita independente) fossem expostos, para lá das janelas, a qualquer vislumbre de guerra, falhou redondamente.
Para passar o tempo, os passageiros russos tinham à disposição uma ligação wi-fi, de forma gratuita. Problema: para aceder à internet grátis, conta o jornal britânico, os passageiros tinham primeiro de passar por uma série de “imagens gráficas das atrocidades russas na Ucrânia”.
Para os que se tenham atrevido a espreitar para lá das cortinas, o cenário não terá sido muito diferente: ao longo da estação são também vários os cartazes espalhados, com fotografias semelhantes.