Quando há disputas em tribunal, opondo construtores de automóveis do Velho Continente e os seus concorrentes chineses, o mais frequente é que em causa esteja um decalque estilístico, pois não raras as vezes os fabricantes de automóveis da China revelam-se pródigos em copiar o design de modelos europeus icónicos ou comercialmente bem-sucedidos. Aconteceu, por exemplo, com o Evoque, com o Range Rover, com o Carocha e com o Mercedes GLA. Contudo, não foi esse o móbil que levou a Audi a mover uma acção em tribunal contra a Nio. O problema, desta vez, é a designação comercial de dois modelos do construtor chinês que está disposto a desembarcar em pleno na Europa.

No segundo semestre de 2021, a Nio começou por vender na Noruega e está apostada em implantar-se nos países escandinavos, alargando a sua presença à Suécia e Dinamarca, mas o fabricante chinês não tenciona ficar por aí. Debaixo de olho tem, naturalmente, os maiores mercados europeus, pelo que a Alemanha é um destino inevitável nesta “conquista” chinesa do território europeu. E tanto assim é que, logo para cimentar as bases, a Nio escolheu a cidade de Munique para sedear a operação europeia. Ora, foi precisamente num tribunal de Munique que a Audi deu entrada num processo contra a Nio, argumentando que as denominações ES6 e ES8 violam marcas registadas pela casa de Ingolstadt, designadamente as versões desportivas do Audi A6 e do Audi A8, há muito nas estradas como S6 e S8, respectivamente.

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Sucede que as variantes S6 e S8 são berlinas desportivas animadas por um motor de combustão, ao passo que o ES6 e o ES8 da Nio são SUV, de diferentes bitolas, mas ambos exclusivamente eléctricos. Ou seja, no que toca à carroçaria e à motorização não há margem para confusões. No entendimento de um especialista citado pelo Handelsblatt, o jornal alemão que avançou a notícia, “a probabilidade de confundir um SUV com uma berlina é bastante baixa”. Mas se esse é o parecer de Ferdinand Dudenhöffer, professor do Centro de Pesquisa Automóvel da Universidade de Duisburg-Essen, pode ser que a deliberação do juiz seja outra, até porque em causa não está a aparência mas sim a denominação. Resta saber se a resolução judicial desta contenda ocorrerá antes da entrada da Nio na Alemanha, o que está previsto acontecer no último trimestre deste ano.

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Enquanto a Audi está esperançada em fazer valer uma alegada violação de propriedade, a Nio viu-se obrigada a lidar com este eventual revés na sua ofensiva comercial. À cautela, opta por continuar a exibir o ES8, mas sem a designação. Este SUV de seis ou sete lugares que se posiciona como concorrente do Tesla Model X é, de momento, o porta-estandarte do construtor chinês. E foi precisamente o modelo com que a Nio arrancou as vendas na Noruega. Para a Alemanha, a estreia comercial deverá caber ao ET7, berlina eléctrica cujo nome em nada afronta os interesses nominais da Audi… Mas as vendas no segmento premium, do BMW Série 5 ao Mercedes Classe E e EQE, passando pelo Audi A6, podem sofrer um abanão no seu mercado doméstico, pois ao ET7 não faltam argumentos para preocupar a concorrência.

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De recordar que a Nio, além de ter um conceito de stand diferente dos fabricantes convencionais, as Nio Houses, distingue-se por possibilitar a troca de baterias em minutos em estações próprias, eliminando assim o tempo de espera associado à recarga do acumulador. Por enquanto, não foram detalhados os planos a este respeito para o mercado alemão, onde se espera que as vendas privilegiem inicialmente Berlim, Hamburgo e Munique.