O diretor nacional da PSP diz-se “consciente” de que “nunca” conseguirá “agradar a todos”, mas afirma que não há qualquer turbulência dentro daquela força de segurança. E, por isso, cita uma frase muitas vezes atribuída ao criador da Apple, Steve Jobs: “Se queres agradar a todos, não queiras ser um líder e vai antes vender gelados”. A reação de Magina da Silva surge depois de esta quarta-feira o Diário de Notícias ter noticiado que a PSP está em rutura interna e com altas entidades — incluindo Belém. Mas o diretor nacional nega qualquer turbulência e faz saber que honrará o seu compromisso com a PSP pelo menos até 2 de fevereiro de 2023, data em que termina a sua comissão de serviço. Assegura ainda que a relação com o Presidente da República, com o Governo e com o presidente da Câmara de Lisboa é “excelente”.

Assumi e reafirmo, perante todos os polícias que comando e lidero, que, pela minha parte, honrarei, sem qualquer hesitação, o meu compromisso de ser o seu diretor nacional”, lê-se numa nota enviada esta quarta-feira às redações.

O Diário de Notícias noticiou que estará em causa a substituição do diretor nacional devido a um alegado descontentamento e rutura com profissionais da PSP, alguns oficiais de topo. Magina da Silva, porém, considera que a notícia não tem outro objetivo se não “tentar destabilizar a PSP” ou “eventualmente interesses pessoais internos e externos” relativos à instituição.

Num longo texto dividido em 21 pontos, Magina da Silva nega a alegada tensão no relacionamento com o Presidente da República — especialmente depois de, à saída de uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, ter revelado conteúdo dessa conversa privada, ao anunciar estava ser discutida a fusão do SEF com a PSP. Segundo o diretor desta força de segurança, o relacionamento entre ambos é “excelente”.

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E continua, respondendo, um a um, aos pontos do artigo do DN relativamente ao alegado “desagrado junto de altas entidades”. O relacionamento com o Governo? “Excelente”. Com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa? “Excelente”.

Existe um excelente relacionamento com o Ministério da Administração Interna, encontrando-se a PSP sempre do lado da solução”, lê-se.

O diretor nacional da PSP garante ainda que a relação “com a estrutura de comando e direção superior assenta num processo participativo”. E dá como argumentos as reuniões semanais “com todos os comandantes e diretores” e ainda “a circulação prévia de documentos e despachos a aprovar pelo diretor nacional, em que todos são chamados a dar o seu contributo, antes das decisões serem tomadas”. Quanto ao relacionamento com os sindicatos da PSP, Magina da Silva lembra as reuniões periódicas com estas estruturas, apesar de “temporariamente prejudicadas” pela pandemia, e  a “forma o mais esclarecedora possível” que responde aos “inúmeros pedidos de informação” que fazem.

O diretor nacional da PSP aponta igualmente que “nunca” foi sua “ambição” ter aquele cargo, apesar de “considerar estar preparado para exercer as funções”. “Apenas me move e sempre apenas moveu a prossecução do interesse público e a defesa, na sede própria e da forma que considero correta, dos vossos legítimos direitos e aspirações, que também são as minhas”, escreve.

Diretor nacional divulga resultado de inquérito interno sobre o seu desempenho, que prometeu a si mesmo que “não publicaria”

No mesmo comunicado, Magina da Silva aproveitou para divulgar os resultados de um inquérito online e anónimo, que foi feito em março do ano passado, sobre o seu “desempenho no comando e direção” dirigido a “todos os polícias e pessoal não policial da PSP, independentemente da sua categoria hierárquica e funções desempenhadas”. “Os inquéritos referidos visaram exclusivamente permitir-me aferir, pessoalmente e de forma objetiva, a opinião dos que comando e lidero, sobre o meu desempenho, tendo previamente prometido a mim mesmo que não publicaria os resultados, independentemente de me serem favoráveis ou desfavoráveis“, lê-se.

No entanto, Magina da Silva decidiu “quebrar hoje essa promessa”, divulgando os resultados do inquérito. Mas garante que o objetivo não é promover o seu desempenho ou defender a sua imagem, mas sim afastar a ideia de que a PSP é “uma instituição fraca, indisciplinada e pouco coesa” — “o que não tem correspondência com a realidade”, defende.

Foram, no total, mais de quatro mil respostas recebidas às dez perguntas colocadas. Na maioria das questões, mais de 90% dos profissionais que responderam — em alguns casos, este número situa-se muito perto dos 100% — consideraram “adequada, muito adequada ou totalmente adequada”, a forma como o diretor nacional “define e comunica a sua visão do caminho a seguir pela PSP”, como exerce as suas competências, comunica aos polícias as suas decisões e orientações, como comunica através da comunicação social e com entidades externas, a capacidade de Magina da Silva a motivar os polícias e ainda o seu impacto e grau de confiança no desempenho das suas funções.

Apenas em três perguntas se verificou uma percentagem inferior a 90%, mas ainda assim superior a 80%. Duas delas dizem respeito ao desempenho da PSP e da própria direção nacional no combate à pandemia de Covid-19. A última foi apenas dirigida aos comandantes e diretores e está relacionada com a forma como o Magina da Silva interage com os comandantes e diretores sob a sua supervisão hierárquica direta — 88% responderam considerá-la adequada, muito adequada ou totalmente adequada.

Em referência à notícia publicada por aquele jornal, Magina da Silva termina a nota com um apelo “a todo o pessoal da PSP”, para que “não se deixem distrair por assuntos colaterais”. E pede que “enfrentem com redobrado empenho e profissionalismo os constrangimentos” com que se deparam e que os afetam.