Um estudo da Universidade dos Açores concluiu que a mineração do mar profundo vai afetar a biodiversidade e a pesca, porque os sedimentos poderão dispersar por uma área equivalente a 10 mil campos de futebol, foi esta quarta-feira revelado.
Num comunicado enviado à agência Lusa, o grupo de investigação do Mar Profundo da Universidade dos Açores (UAc) avança que um estudo, publicado na revista Frontiers of Marine Science, concluiu que a exploração mineral do mar profundo vai produzir “plumas de sedimentos que poderão cobrir uma área até 150 quilómetros quadrados”.
“Os sedimentos libertados durante a exploração mineral poderão dispersar por uma área equivalente a 10 mil campos de futebol e afetar ecossistemas marinhos vulneráveis e a pesca comercial”, realçam os investigadores.
A investigação revelou ainda que as plumas “podem dispersar para fora das áreas” de mineração e “atingir montanhas submarinas próximas”, o que afeta os “ambientes do mar profundo” e os “ambientes perto da superfície”.
“Estas plumas, com elevado potencial tóxico, porão em risco os corais de água fria e as atividades de pesca existentes. Estes impactos são particularmente preocupantes em regiões como os Açores, onde as populações locais são altamente dependentes do mar profundo”, lê-se na nota de imprensa.
O grupo de investigadores destaca que o mar profundo dos Açores “esconde uma diversidade de comunidades biológicas única no oceano Atlântico”, como “extensos jardins de corais de águas frias” e “campos de esponjas”.
“Muitas destas áreas constituem ecossistemas marinhos vulneráveis devido à grande diversidade de espécies, algumas com longevidades de centenas ou milhares de anos e crescimento muito lento”, alertam.
O investigador Telmo Morato, do instituto Okeanos da UAc, co-líder do grupo que realizou o estudo, lembra que a mineração pode ser uma “realidade num futuro próximo”, o que pode “produzir plumas de mineração altamente tóxicas”.
“Estas plumas têm um potencial de dispersão muito grande e irão afetar biodiversidade local e as atividades pesqueiras existentes”, reforçou o investigador, citado na nota de imprensa.
Marina Carreiro Silva, co-líder da investigação e especialista em corais, realçou que aquelas plumas tóxicas “poderão afetar organismos que se alimentam de partículas na coluna de água, entupindo as suas estruturas alimentares e causando asfixia”.
“Os sedimentos e a toxicidade dos metais associados às partículas afetam as funções fisiológicas de corais e peixes podendo levar à sua morte”, assinalou a investigadora do Okeanos.
Para o grupo de investigação, os resultados do estudo “reforçam a necessidade de continuar a avaliar os potenciais impactos da exploração mineral do mar profundo antes de se começar a equacionar a sua regulamentação”.