A Comissão Independente que contabiliza os crimes de abuso sexual na Igreja Católica em Portugal já recebeu 365 denúncias tendo destas validados 338. O coordenador da comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, alerta no entanto para a possibilidade de haver ainda mais vítimas, mas essa estimativa só será dada no final do trabalho da comissão.

Numa conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que assinala os seis meses de trabalho da comissão criada pela Igreja, Strecht lembra que a realidade dos abusos sexuais por membros do clero será ainda maior. “O número total de vítimas só não é ainda divulgado porque precisa de ser analisado de forma científica”, refere. Porém, o que é descrito como o “efeito iceberg” nos estudos de abusos sexuais, também pode vir a acontecer em proporções finais idênticas neste caso: da realidade existente, só uma pequena parte, O que significa que os números agora divulgados possam ser apenas entre os 20 a 25% do seu total. Feitas as contas, os números poderão vir a rondar as cerca de 1500 vítimas, como o Observador noticiou.

Igreja. Comissão Independente estima terem existido acima de 1500 vítimas de abuso sexual

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Strecht começou por anunciar 336 inquéritos validados, mas a professora Ana Nunes de Almeida, que lhe seguiu, acabou por juntar mais dois casos validados às estatísticas destes seis meses. Desde o último balanço, há dois meses, só foi enviada mais uma queixa à Procuradoria Geral da República, somando agora as 17. Segundo Laborinho Lúcio, que não esteve presente na conferência, algumas denúncias são anónimas e não é possível sequer perceber onde aconteceram nem quem foi o agressor.” Poucas devem ser as expectativas quanto ao êxito de uma investigação criminal”, afirmou num documento escrito lido por Pedro Strecht.

Em 68% dos depoimentos registados, avançou esta manhã Pedro Strecht, os denunciantes referem que à data do abuso “sabiam que havia mais” crianças a serem vítimas do mesmo agressor e no mesmo local; só nos restantes 32% as vítimas “sentiram que eram as únicas” e “destas muitas perceberam à posteriori também que assim não foi”, lembra Strecht.

Strecht disse ainda que as queixas não estão a chegar de algumas zonas do país, zonas “mais periféricas” e de maior isolamento e com uma população mais envelhecida e com menos habilitações literárias. “Não queremos mesmo deixá-las de fora”, disse o coordenador da Comissão, que anuncia que para conseguir chegar a estas pessoas só o conseguirão com o suporte mais ativos da Igreja, provavelmente “paróquia a paróquia”, ou através do poder local, pelas autarquias, associações ou instituições de solidariedade social.

A comissão também já enviou o método de estudo que pretende implementar às dioceses, depois de o Vaticano ter anunciado que cabe a cada bispo abrir as portas dos seus arquivos para que a comissão possa consultar documentos arquivados desde os anos 50 e perceber se há notícias de abusos por membros do clero.

Desde 11 de janeiro de 2022 que a comissão dispões de uma linha telefónica (00 351 91 711 00 00) que funciona entre as 10h00 e as 20h. Do outro lado estão uma psicóloga e uma assistente social. Esta linha já recebeu 214 contactos, 83 foram vítimas de abuso sexual.