A UNESCO declarou esta sexta-feira que a versão ucraniana da borshtch — uma sopa de beterraba muito popular no leste da Europa, sendo feita de diferentes maneiras conforme o país em questão — é Património Cultural Imaterial da Humanidade. Em comunicado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) defende que se trata de “parte essencial da família e vida comunitária na Ucrânia”. O Governo russo já reagiu, ridicularizando a decisão.
Não é de agora que Kiev e Moscovo discutem a nacionalidade desta sopa de beterraba. Em abril, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo insinuara que a Ucrânia não queria “partilhar borshtch com ninguém”, desejando ao invés que o prato típico pertencesse “a uma nação apenas” — provas, para Maria Zakharova, da “xenofobia”, do “nazismo” e do “extremismo” em crescimento na Ucrânia. Agora, a porta-voz do MNE russo comenta, citada pela agência de notícias France-Presse:
Para dar ao mundo um exemplo culinário do ‘nacionalismo moderno de Kiev’, vou citar um facto: o húmus e o pilaf [prato típico, à base de arroz ou em alternativa de trigo, muito consumido em vários países] são reconhecidos como pratos nacionais de várias nações… mas, vou percebendo, tudo é objeto de ucrânificação“.
No comunicado difundido esta sexta-feira, a UNESCO notava que a Ucrânia tem a sua “versão nacional” desta sopa, que é “consumida em vários países daquela região” e que existem “festivais e eventos culturais dedicados” à sopa.
Ainda na nota, é possível ler que o regime de Zelensky “pediu aos Estados-membros do Comité para a Proteção e Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Humanidade para “acelerar a avaliação” da candidatura da versão ucraniana da sopa à lista de património “que urge salvaguardar” por ser “um caso de urgência extrema”. O Comité deu luz verde a esta candidatura esta sexta-feira.
Este mesmo comité da agência das Nações Unidas justificou a aprovação da candidatura notando que “o conflito armado ameaçou a viabilidade” deste prato típico. “A deslocação de pessoas” ameaça o futuro deste prato culinário, lê-se ainda na nota, na medida em que “não só as pessoas não conseguem cultivar ou cozinhar vegetais locais para o broscht” como “o bem-estar social e cultural das comunidades” pode ficar prejudicado.
Cozinhar borscht é algo feito também nas comunidades desta região mais alargada [leste da Europa] e apesar da inscrição na lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade reconhecer a importância social e cultural de cozinhar borscht para os ucranianos, uma inscrição destas (…) não implica exclusividade, ou propriedade, da herança do património em questão”, lê-se também.
Kremlin acusa Ucrânia de esconder receita de sopa de beterraba: “Xenofobia, nazismo e extremismo”