O presidente executivo da ANA Aeroportos reconhece que há problemas graves com alguns subsistemas nos aeroportos portugueses, destacando o controlo de passaportes a cargo do Serviço de Estrangeiros, mas responsabiliza sobretudo o cancelamento de voos por parte de várias companhias aéreas pela situação que se tem vivido nos últimos dias, em particular no aeroporto de Lisboa.
Thierry Ligonnières assegurou que o controlo de passaportes melhorou depois dos contactos com os parceiros que “produziram resultados tangíveis nas últimas semanas”. O gestor foi ouvido esta quarta-feira na comissão de economia e obras públicas onde foi questionado sobre as perspetivas de saída da crise no setor. A resposta, disse, está mais nas mãos das companhias aéreas. O presidente executivo da operadora aeroportuária referiu a redução de capacidade de oferta de voos decidida por outros aeroportos europeus, mas afastou esse cenário em Lisboa. “Achamos que não é necessário em Lisboa” onde, defendeu, há uma melhor capacidade de resposta do que em outras infraestruturas.
Thierry Ligonnières destacou que passamos de uma situação em que todos os aviões estavam no chão para uma retoma muito dinâmica. Em 2021, “tínhamos menos 40% do tráfego e agora estamos a um nível próximo e até acima de 2019”, acima das projeções de retoma feitas para o setor. E essa retoma “surpreendeu os atores do transporte aéreo” que cortaram os efetivos durante a crise. Não foi o caso da ANA, garantiu o presidente executivo, que manteve o número de colaboradores. Portugal, afirmou, é o pais que lidera a recuperação do tráfego neste momento na Europa e assegura que houve um reforço do efetivo no aeroporto de Lisboa, em cerca de um quarto, para acompanhar o processo de controlo de aeroportos e aliviar a pressão do tráfego durante o verão período que descreve como desafiante.
Para o gestor, as dificuldades não resultam em primeiro lugar da infraestrutura, referindo a otimização feita ao nível do subsistema de controlo de segurança. “Temos visto que os circuitos estão a funcionar. Os cancelamentos que temos visto agora são do lado das companhias aéreas”. E se é verdade que uma grande parte dos cancelamentos registados no fim-de-semana passado resultou do acidente com um jato que fechou a pista durante uma hora e meia na sexta-feira, o que provocou dificuldades na recuperação de tráfego. Agora há cancelamentos estruturais que resultam de problemas na organização e do planeamento dos recursos por parte das companhias aéreas.
Thierry Ligonnière admitiu que as limitações operacionais conhecidas do aeroporto de Lisboa, não obstante as melhorias de gestão operacional realizadas, tornam a estrutura mais frágil e menos resiliente na resposta a eventos disruptivos. Mas também sublinhou que “estamos hoje mais preparados do que muitos aeroportos europeu”s, referindo os problemas do SEF que está em resolução e o esforço das empresas de handling para contratar mais recursos desde novembro.
O presidente não executivo da ANA, José Luís Arnault, e o presidente executivo Thierry Ligonnière, foram chamados à comissão de obras públicas e economia do Parlamento para discutir os problemas do aeroporto de Lisboa, antes das mais recentes perturbações vividas na última semana e que são sentidas nas principais infraestruturas europeias. José Luís Arnault começou por dizer que este é o tema que consta do requerimento do PSD que pediu a presença da ANA e o único para o qual se prepararam. Mas acabou por ser confrontado com muitas perguntas sobre o outro tema do momento — a polémica sobre a decisão do novo aeroporto.
O presidente executivo da ANA defendeu que o ranking que classificou a Portela como o pior aeroporto do mundo não faz uma avaliação objetiva e usou dados desatualizados de 2018. Segundo Thierry Ligonnières, este ranking resulta de uma montagem sobre os resultados da qualidade do serviço e as indemnizações pagas por voos cancelados e atrasados. “É uma forma barata e recorrente para ganhar notoriedade junto dos consumidores à custa da nossa reputação”, uma vez que as receitas resultam do sucesso no pedido de indemnizações por parte dos seus clientes. Para além dos dados desatualizados, não são descritos critérios nem referidas amostras.
Aeroporto de Lisboa é o pior do mundo? Há um ranking que diz que sim
O gestor contrapõe ainda com a avaliação da qualidade de serviço feita pelo regulador, a ANAC, que apresenta resultados diferentes para o primeiro trimestre deste ano.
