Quase 48 horas depois de o governo britânico ter começado a desmoronar-se peça a peça, com uma avalanche de demissões e renúncias que começaram com a saída dois ministros e se alargaram a metade do executivo britânico, Boris Johnson anunciou esta quinta-feira que também ele deixaria a liderança do Partido Conservador e o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido.

É claramente a vontade do grupo parlamentar conservador que haja um novo líder e, por isso, um novo primeiro-ministro”, apontou Boris Johnson.”Concordo com Graham Brady [presidente da chamada comissão 1922] que o processo para escolher um novo líder deve começar já”, admitiu, ainda que permaneça na liderança dos conservadores e do executivo britânico “até que um novo líder assuma funções”.

Vaga de demissões no governo de Boris Johnson: “Não podemos continuar assim”

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O primeiro-ministro demissionário cede assim à pressão para se demitir — pressão essa que tem sido exercida não só pela oposição como pelos próprios ministros de Boris Johnson e pelos deputados conservadores no Parlamento britânico. No discurso que fez às 12h30, frente ao nº10 de Downing Street, Boris justificou a resistência em abandonar o poder com o que diz seu o sentido de dever para com as funções que desempenha.

A razão pela qual lutei tanto nos últimos dias para continuar este mandato não foi só porque queria, mas porque sentia que era o meu trabalho, o meu dever, a minha obrigação para convosco”, sublinhou.

Boris resistiu, mas o “rebanho” foi mais forte. “É o que é”

Boris tentou convencer o governo de que seria “excêntrico” procurar um novo líder para o Partido Conservador e para o governo do Reino Unido.

“Temos um mandato tão vasto, estamos apenas uns pontos atrás nas sondagens”, considerou o agora primeiro-ministro demissionário. Boris lamentou, no entanto, não ter convencido o executivo de que havia condições para continuar: “Quando o rebanho se move, move-se”, notou resignadamente Boris Johnson, servindo-se até de uma expressão que vem do bilhar: “Them’s thebreaks.

A expressão britânica diz respeito ao facto de cada atleta ter de jogar com a distribuição das bolas que resultar da primeira tacada — quando todas as esferas juntas no triângulo são dispersadas pela força da primeira jogada. Equivale, em português, a uma expressão de conformação: “É o que é.”

O primeiro-ministro demissionário apontou que, agora, o “sistema eleitoral brilhante e Darwiniano” do Reino Unido vai decidir quem será o próximo líder do governo. Recordou que, na política, “ninguém é indispensável” e assegurou que vai apoiar o seu sucessor: “Mesmo que as coisas fiquem negras agora, o nosso futuro juntos é dourado”. O calendário para a sucessão é, ainda, uma incógnita. A imprensa fala britânica fala num processo de alguns meses, que deveria estar concluído até ao outono. Depois disso, é o fim da temporada Boris Johnson em Downing Street.