A época passada não poderia ter sido mais diferente para Manchester United e Liverpool. Os red devils ficaram no sexto lugar da Premier League e falharam o acesso à Liga dos Campeões, caíram nas rondas iniciais da Taça de Inglaterra e da Taça da Liga e não passaram dos oitavos de final da Champions. Já os reds discutiram a conquista da Premier League até à última jornada, conquistaram a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga e chegaram à final da Liga dos Campeões, onde foram derrotados pelo Real Madrid. Para uns, 2022/23 é um obrigatório novo capítulo; para outros, é uma necessária evolução na continuidade.

Esta terça-feira, na Tailândia, Manchester United e Liverpool defrontavam-se no primeiro teste de pré-temporada. Do lado da equipa de Old Trafford, o assunto em cima da mesa continua a ser a ausência de Cristiano Ronaldo, que falhou todos os treinos que ainda decorreram em Inglaterra e não viajou com a comitiva para estágio, embora Erik ten Hag já tenha garantido que o português “não está à venda” e que conta com o jogador. Tyrell Malacia, lateral esquerdo que estava no Feyenoord, é para já o único reforço confirmado de um clube onde Frenkie de Jong continua a ser o desejo prioritário — e de onde saíram Matic, Pogba, Cavani, Lingard e Mata.

Do lado do conjunto de Anfield, as mudanças foram até mais profundas do que o expectável. Jürgen Klopp perdeu Sadio Mané para o Bayern Munique, num negócio com contornos surpreendentes, e investiu 100 milhões para tornar Darwin na maior contratação da história do Liverpool. Minamino e Origi também saíram, um para o Mónaco e o outro para o AC Milan, e o treinador alemão recebeu o internacional Sub-21 português Fábio Carvalho, que na época passada brilhou no Fulham de Marco Silva que conquistou o Championship e subiu à Premier League.

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Em Banguecoque, no Estádio Nacional Rajamangala, Klopp fez mais poupanças do que Ten Hag. Na estreia como técnico do Manchester United, Ten Hag lançou Diogo Dalot na direita da defesa e Luke Shaw no lado contrário, com Lindelöf e Varane a formarem a dupla de centrais; Fred e McTominay foram titulares numa zona mais recuada do meio-campo, Rashford e Jadon Sancho ocuparam os corredores e Bruno Fernandes aparecia nas costas de Martial, com o reforço Malacia a começar no banco.

Do outro lado, Klopp colocou os jovens Mabaya e Chambers nas laterais da defesa, lançou os centrais Nathaniel Phillips e Joe Gomez, formou o trio intermédio com Tyler Morton, Henderson e Fábio Carvalho (que cumpria assim os primeiros minutos enquanto jogador do Liverpool a titular) e compôs o tridente ofensivo com Luis Díaz, Firmino e Harvey Elliott. Fora do onze ficaram Van Dijk, Konaté, Robertson, Alexander-Arnold, Thiago Alcântara, Darwin e ainda Salah, sendo que Diogo Jota nem estava nos convocados por ter estado a recuperar de um problema físico nos últimos dias.

O jogo começou animado e energético, com lances de perigo junto das duas balizas e vários contra-ataques em velocidade. Ainda assim, nem que fosse pela reação à perda de bola e pela pressão exercida, o Manchester United parecia estar a levar o particular bem mais a sério do que o Liverpool, algo que ficou notório logo na escolha dos onzes iniciais — e que deixava perceber que equipa é que tinha mais a provar desde o dia 1 da pré-época. Nesse seguimento, o primeiro golo do jogo apareceu ainda dentro do quarto de hora inicial: Bruno Fernandes cruzou, Phillips desviou e Mabaya não conseguiu fazer o corte, deixando a bola à mercê de um remate cruzado de Jadon Sancho, que fez o primeiro golo da era Ten Hag (12′).

Depois do golo, o Manchester United assumiu um ascendente mais claro, causando muitos problemas ao Liverpool pela intensidade que imprimia em todos os duelos. Ainda assim, o facto de os red devils estarem subidos do terreno também os deixava mais permeáveis a contra-ataques e foi precisamente assim que os reds quase empataram, por intermédio de Díaz (19′). À passagem da meia-hora, o conjunto de Ten Hag aumentou a vantagem através de Fred, que tirou um belo remate em jeito para bater Alisson na sequência de uma deliciosa movimentação ofensiva (30′). Klopp fez 10 (!) substituições depois do golo do brasileiro mas, antes de ser possível perceber sequer qual era a nova equipa do Liverpool, Martial fez o terceiro ao aparecer isolado na direita após uma recuperação de bola em zona alta (33′).

Ao intervalo, o Manchester United estava a vencer de forma clara, num resultado que se justificava por inteiro face à superioridade demonstrada, e o Liverpool já tinha Matip, Tsimikas, Rhys Williams, Curtis Jones, Oxlade-Chamberlain, Frauendorf, James Milner, Stefan Bajčetić, Leighton Clarkson e Bobby Clark em campo, com Alisson a dar o lugar na baliza a Adán no início da segunda parte. Nessa altura, Ten Hag também lançou uma equipa totalmente renovada e apostou em Wan-Bissaka, Bailly, Alex Telles, o reforço Malacia, Iqbal, Van de Beek, Charlie Savage, Facundo Pellistri, Anthony Elanga e Amad Diallo.

O Liverpool entrou melhor na segunda parte, com mais bola e a empurrar o Manchester United para o próprio meio-campo, mas o jogo caiu em ritmo e qualidade face ao primeiro tempo e escassearam as oportunidades de golo e os lances perigosos. Jürgen Klopp provocou mais um travão a fundo nas dinâmicas ao trocar novamente de equipa, apresentando a terceira em menos de 90 minutos e oferecendo os primeiros minutos a Darwin, e Erik ten Hag respondeu com uma mudança de guarda-redes.

Até ao fim, e num lance que só demonstrou a quase anarquia que reinava nas duas equipas nesta fase, o Manchester United ainda chegou à goleada por intermédio de jovem uruguaio Pellistri após uma arrancada do improvável Bailly pelo corredor central (76′). Na estreia de Erik ten Hag, os red devils golearam o Liverpool num jogo de pré-época que foi claramente um simples particular para uns e uma autêntica prova de vida para outros.