Energia e inflação, sim, jornalista assassinado, não. O nome de Jamal Khashoggi voltou a não ser tema das declarações públicas de Joe Biden e das do príncipe saudita Mohammed bin Salman, durante a primeira visita presidencial do norte-americano à Arábia Saudita.
Na véspera, juntos dos jornalistas, o Presidente dos EUA disse que, em privado, teve oportunidade de dizer a Bin Salman que o considerava culpado da morte do jornalista Jamal Khashoggi. Do príncipe, ouviu apenas uma rejeição total das acusações. O herdeiro do trono saudita foi considerado responsável pela CIA do assassinato ocorrido em Istambul em 2018.
“Deixei claro o que pensava na época e o que penso agora”, disse Biden. “Fui direto ao discutir o assunto. E disse que, muito francamente, um presidente americano ficar em silêncio sobre uma questão de direitos humanos é inconsistente com quem somos e quem sou eu.”
Biden acrescentou que o príncipe “disse que não era pessoalmente responsável por isso”, enquanto o Presidente dos EUA disse-lhe que “achava que ele era” culpado da morte do jornalista do Washington Post, muito crítico do regime do príncipe.
Reduzir as emissões de carbono podem levar a um aumento “sem precedentes” da inflação
A declaração deste sábado foi feita ao lado de Biden, numa altura em que os EUA pedem a Riade para aumentar a produção de petróleo como forma de reduzir os preços, que subiram na sequência da guerra na Ucrânia.
“A adoção de políticas irrealistas para reduzir as emissões (…) levará, nos próximos anos, a uma inflação sem precedentes e ao aumento dos preços da energia, ao aumento do desemprego e a outros graves problemas sociais e de segurança, como pobreza, fome, extremismo e terrorismo”, referiu bin Salman. A Arábia Saudita é o maior exportador mundial de petróleo bruto.
Caso Khashoggi. Os escândalos do príncipe saudita que “atira primeiro e pergunta depois”
O príncipe herdeiro secundou o argumento de Riade sobre a impossibilidade de fazer uma transição energética sustentável deixando de lado algumas “fontes fundamentais de energia”, como o petróleo e o gás natural, e a necessidade de que o processo de mudança seja gradual. Bin Salman reafirmou “a importância” de continuar a bombear petróleo enquanto se investe em tecnologias limpas durante as próximas duas décadas para responder às crescentes necessidades globais.
Além disso, considerou “necessário” tranquilizar os investidores de hidrocarbonetos e deixar claro que as políticas adotadas para uma transição de energia limpa não “ameaçarão os seus investimentos”.
Pior do que um aperto de mão
Depois da morte do jornalista, Joe Biden prometeu que faria da Arábia Saudita um “pária”. Com esta visita diplomática, mostra que o caminho a seguir neste momento já não é esse. No entanto, na sexta-feira, disse não se arrepender de nada do que disse naquela altura.
A decisão de se encontrar com Bin Salman foi alvo de muitas críticas, entre elas a da noiva de Khashoggi. “É esta a responsabilidade que prometeu pelo assassinato? O sangue das próximas vítimas de MBS está em suas mãos”, escreveu Hatice Cengiz no Twitter. MBS é uma das formas como o príncipe é tratado.
Fred Ryan, editor do Washington Post também não deixou passar em branco o momento. “O cumprimento [fist bump] entre o presidente Biden e Mohammed bin Salman foi pior do que um aperto de mão – foi vergonhoso”, escreveu num comunicado. “Projetou um nível de intimidade e conforto que entrega a MBS a redenção injustificada que ele procura desesperadamente.”