Não passaram 24 horas desde que Rússia e Ucrânia chegaram a acordo para a exportação de cereais, através de “corredores seguros” pelo mar Negro, e já há notícias de ataques russos ao porto de Odessa.

De acordo com o comando operacional do sul ucraniano, citado pelo Kyiv Independent e pela Reuters, “o inimigo atacou o porto comercial de Odessa com mísseis kalibr. Terão sido dois a atingir as infraestruturas portuárias, enquanto outros dois terão sido intercetados pela defesa ucraniana.

O porto de Odessa é estratégico na exportação dos cereais e, por isso, esta acusação pode ter implicações na saída dos barcos da Ucrânia.

Nos termos do acordo alcançado na sexta-feira, a Rússia tinha concordado que não iria atingir os portos ucranianos enquanto os carregamentos de cereais estivessem em trânsito. De, segundo o Kyiv Independent, o Ministério da Agricultura da Ucrânia indicou haver cereais no porto no momento dos alegados ataques.

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Um acordo que as Nações Unidas tinham catalogado como um farol de esperança, depois de meses de conflito em que os cereais ficaram retidos na Ucrânia. O país estimava em mais de 20 milhões de toneladas nos armazéns sem poderem ser exportadas. O acordo foi feito para 120 dias.

Citado pela BBC, Andriy Yermak, porta-voz do Presidente Volodymyr Zelensky, condenou o alegado ataque, acusando a Rússia de “sistematicamente criar uma crise alimentar”. Mais agressivas foram as palavras de Oleh Nikolenko, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros ucranianos, que declarou: “os mísseis russos são um cuspir na cara de Putin ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e ao presidente da Turquia, Recep Erdogan, que fizeram enormes esforços para alcançar o acordo, e a quem a Ucrânia está agradecida”.

[Pode ouvir aqui a análise de Luís Tomé]

“Tenho muitas dúvidas que o acordo dos cereais se cumpra. Rússia não é confiável”. A análise de Luís Tomé

“A Ucrânia enfatiza a necessidade de uma implementação estreita do acordo para garantir a exportação segura de bens agrícolas através do mar Negro a partir de três portos: Odessa, Chornomorsk e Yuzhne”, por isso, “apelamos às Nações Unidas e à Turquia que garantam que a Rússia cumpra com as suas obrigações”, declarou o mesmo responsável.

Sem comentar estas declarações, o secretário-geral das Nações Unidas, citado pela Lusa, condenou “inequivocamente” os ataques, acrescentando que “a plena implementação (do acordo) pela Federação da Rússia, Ucrânia e Turquia é imperativa”.

António Guterres “condena inequivocamente” ataque russo ao porto de Odessa

Também a embaixadora dos Estados Unidos em Kiev, Bridget Brink, reagiu no Twitter, dizendo que o Kremlin continua a fazer da alimentação uma arma de guerra. “A Rússia tem de ser responsabilizada”.