Há cada vez mais empresas em busca de soluções para distribuir os seus produtos em zonas urbanas e semi-urbanas, com custos menores por quilómetro e um impacto ambiental mais reduzido. Daí o interesse em torno de furgões eléctricos, sejam eles movidos com a energia armazenada numa bateria, por meio da electricidade gerada a bordo através de células de combustível (fuel cell) a hidrogénio, ou com uma solução mista que junta a bateria à fuel cell.

Depois da E-Transit, vem a Custom e mais 3 furgões eléctricos

Os principais grupos europeus já estão presentes neste segmento e a Ford não quis ficar atrás, pelo que concebeu um batalhão de modelos a bateria, liderado pela popular Transit, que tivemos oportunidade de conduzir.

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E-Transit melhor para muitos, mas não para todos

A nova E-Transit é, essencialmente, um parente próximo das versões movidas por motores a gasóleo, há muito a referência nos furgões comerciais, a que foi aplicada a bateria sob o chassi. À frente, no lugar tradicionalmente ocupado pelo motor de combustão e pela respectiva caixa de velocidades, está agora o conversor e o sistema de gestão de energia da bateria e do motor, que se encontra instalado atrás, associado a um novo eixo traseiro com suspensões independentes.

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Como qualquer veículo eléctrico, a E-Transit prescinde de pedal de embraiagem e caixa de velocidades, tendo o condutor à sua disposição um comando rotativo localizado no tablier, que permite circular para a frente e para trás, além de “parquear”. Este furgão eléctrico está disponível em 25 versões, com três comprimentos e duas alturas de carroçarias, usufruindo sempre de uma bateria com 68 kWh de capacidade útil (a capacidade total não foi anunciada).

O motor, sempre instalado no eixo traseiro e nas duas versões a fornecer uma “força” de 430 Nm desde a primeira rotação, pode debitar 135 kW (184 cv) ou 198 kW (269 cv). Isto significa que a E-Transit ultrapassa em potência e força as suas “irmãs” a gasóleo, além de reduzir os custos de utilização por quilómetro e, igualmente, os valores da manutenção, que baixam em 50% na versão EV.

Apesar das vantagens esgrimidas pelo construtor, a E-Transit não é a solução ideal para todos os condutores e empresas, especialmente para aqueles que têm de enfrentar deslocações superiores a 250/300 km regularmente. Estes clientes devem continuar a optar pela Transit a gasóleo. Mas muitos dos restantes, que se deslocam e trabalham em meio urbano e na periferia, devem fazer contas e procurar a solução que mais se adapta às suas necessidades, a qual pode passar pela E-Transit.

Como é ao volante?

Conduzimos a nova E-Transit em Lisboa e nos arredores, sendo que a primeira impressão – além do silêncio a bordo, claro – teve a ver com a sensação de robustez. A presença da estrutura que suporta a bateria, bem como o novo eixo traseiro, explicam a maior resistência à torção, o que se traduz por ausência de ruídos parasitas, mesmo a circular sobre piso irregular.

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A recarga das baterias pode ter lugar em corrente alternada (AC) ou contínua (DC), com os acumuladores a aceitarem potências de 11 kW em AC (o que alimenta a bateria em 8 horas) e de 115 kW em DC (bastam 34 minutos para ir de 10% a 80%), pelo que rapidamente estávamos prontos a ver como era conviver com a E-Transit no dia-a-dia.

Transmitindo uma sensação de solidez ímpar, mesmo quando comparada com as Transit a gasóleo, apreciámos o silêncio e o conforto, uma vez que a nova subestrutura posterior que suporta motor e suspensões independentes torna o furgão muito mais agradável de utilizar. Se a potência é mais elevada – conduzimos a E-Transit menos potente, equipada com motor de 184 cv, ainda assim bem mais possante do que a versão diesel com 130 cv –, o torque é ainda mais impressionante, uma vez que a versão eléctrica conta com 430 Nm de força.

Vantagens e inconvenientes

Com mais potência e força, a E-Transit garante 317 km em modo ECO, mais económico e limitado a 90 km/h, para no modo Normal atingir um máximo de 258 km e mais velocidade. O terceiro modo de condução é destinado a pisos escorregadios e com baixa aderência. Tudo isto é controlável através do ecrã central de 12”, que conta já com o sistema SYNC 4, o mais recente da Ford.

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A versão colocada à nossa disposição tinha um banco corrido à frente, capaz de receber até três adultos, para atrás existir uma caixa de carga, que pode atingir 15,1 m3 e potencial para transportar até 750 kg. Curiosamente, um valor que iguala a capacidade de reboque.

A E-Transit é agradável de conduzir e incomparavelmente mais confortável, sendo evidentes os ganhos em matéria de custos por quilómetro, se conseguirmos recarregar os acumuladores em casa ou na empresa, em AC, por valores mais contidos. Em DC também há ganhos financeiros, mas menos evidentes, o que ainda assim é uma vantagem face às Transit diesel.

A circular em cidade, a E-Transit atingiu um consumo de 20 kWh/100 km, não muito longe dos 18 kWh/100 km alcançados pelo Mustang Mach-E, para depois, a 90 km/h em auto-estrada, a média ter subido para 30 kWh/100 km (o Mach-E ficou-se pelos 20 kWh/100 km), incremento que se compreende devido ao peso e à aerodinâmica menos favorável deste veículo de trabalho. O acceleration control torna a condução mais segura (adaptando a potência disponível em caso de carga reduzida e piso mais escorregadio), para a gestão de energia facilitar a tarefa do condutor, que ainda conta com os serviços da Ford PRO, que incluem sistemas de recarga, gestão de energia e de frotas.

E vale a pena?

Apesar de incluir mais equipamento, a nova E-Transit vai ser comercializada por 73.100€ (71.100€ para o chassi/cabine), um valor consideravelmente mais elevado (mas a que é preciso retirar cerca de 13.300€ de IVA, para empresas e profissionais liberais) do que os 43.665€ exigidos no nosso país por uma Transit similar animada por um motor 2.0 turbodiesel a gasóleo com 130 cv, segundo o site da marca. É aqui que entra em funcionamento a calculadora, uma vez que o investimento depende do tipo de uso de cada cliente, entrando em linha de conta com o local onde recarregam, o seu custo e as distâncias percorridas.

A E-Transit pode estar equipada com extras como a câmara 360º, pré-colisão em cruzamentos, assistência em pré-colisão para veículos, peões e ciclistas, detecção de ângulos mortos e cruise control adaptativo, proposto por 1470€. A nossa unidade usufruía do Pro Power Control, que prevê a montagem de duas tomadas de 2,3 kW (o equivalente às tomadas lá de casa a 220V) na caixa de carga, proposta por 1300€. Ainda ao nível dos “extras”, a E-Transit necessita de um investimento adicional de quase 2000€ para trocar o motor de 184 cv por outro de 269 cv.

De momento existem seis pontos de assistência para as Transit eléctricas no país, número que subirá para 10 em breve, sendo que todos os concessionários podem vender estes comerciais eléctricos. As encomendas já arrancaram, estando as primeiras entregas a clientes agendadas para Outubro.