Oksana Pokalchuk, a líder da Amnistia Internacional na Ucrânia, demitiu-se depois do polémico relatório da organização de direitos humanos que acusava os militares ucranianos de colocar os civis em risco durante as operações militares contra a Rússia.

O relatório, lembra o The Guardian, alertava para os facto das forças ucranianas colocarem em perigo a população civil ao estabelecerem  bases militares em zonas residenciais, nomeadamente em escolas, e ao lançarem ataques a partir de áreas habitadas por civis. Uma atuação que, segundo defendem, não justificava de modo algum os ataques indiscriminados da Rússia —  que já mataram mais de cinco mil civis, de acordo com as Nações Unidas.

“Estar numa posição defensiva não isenta as forças armadas ucranianas de respeitar o direito internacional humanitário”, afirmou a secretária geral da Amnistia, Agnès Callamard.

Amnistia Internacional tentou “transferir” responsabilidade do agressor para a vítima, diz Zelensky

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O relatório suscitou logo reações por parte do chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, que se mostrou “indignado” com as acusações “injustas” da organização. Num vídeo publicado no Facebook, Dmytro Kuleba lança também acusações à Amnistia Internacional, criticando a ONG por “criar um falso equilíbrio entre o opressor e a vítima, entre o país que está a destruir centenas e milhares de civis, cidades, territórios, e o país que se está a defender desesperadamente”. O próprio Presidente Volodymyr Zelensky acusou a Amnistia Internacional de tentar “amnistiar” a Rússia e transferir a responsabilidade do agressor para a vítima: a Ucrânia.

 “A agressão contra o nosso Estado não foi provocada, é invasiva e abertamente terrorista. E se alguém faz um relatório em que a vítima e o agressor são alegadamente o mesmo em algo, se algum dado sobre a vítima é analisado e o que o agressor esteve a fazer ao mesmo tempo é ignorado, isso não pode ser tolerado”, afirmou Zelensky no discurso diário.

Oksana Pokalchuk, representante da AI na Ucrânia, anunciou a sua demissão via Facebook e afirma que teve algumas reuniões com a AI para discutir o que seria divulgado no relatório, mas que a sua sugestão foi “apagada” e substituída pelo que a organização publicou na quinta-feira.

“Se não viver num país invadido por invasores que o está despedaçando, provavelmente não entende o que é condenar um exército de defensores. E não há palavras em nenhum idioma que possam transmitir isso para alguém que não sentiu essa dor”, escreveu.
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Apesar das reações ao relatório, a Amnistia Internacional garante que, embora condene a invasão da Rússia, as conclusões publicadas foram baseadas em evidências recolhidas por longas investigações que concluíram por ter havido violações do direito humanitário por parte das forças ucranianas

Amnistia Internacional conclui que forças de Kiev também puseram civis em perigo