O primeiro-ministro defendeu esta sexta-feira que, quando o incêndio da serra da Estrela terminar, deve ser estudado “em pormenor” o que é que poderia ter sido eventualmente feito para evitar que o fogo ganhasse a escala que acabou por adquirir.

Quando ele terminar, poderemos estudar, e merece ser estudada em pormenor, o que é que foi acontecendo ao longo da fita do tempo e que podia ter acontecido de uma forma diferente, ou não, para evitar que o incêndio ganhasse esta escala”, declarou António Costa aos jornalistas.

Questionado sobre o motivo pelo qual não estão a ser usados mais meios aéreos provenientes do mecanismo europeu, Costa respondeu que “os países estão hoje com menor disponibilidade de partilha de meios” dado que os incêndios decorrem até em territórios onde eram raros, como na Alemanha, e não há meios europeus próprios, estando a decorrer uma compra conjunta de Canadair.

À margem de uma visita a uma creche na Amadora (Lisboa), o líder do Governo salientou que têm existido “várias dezenas de fogos por dia” e, “felizmente, o sistema tem respondido na generalidade dos casos”, considerando que o caso da Serra da Estrela é “particularmente dramático”, durando há já uma semana.

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Tanto quanto creio, hoje há uma aeronave espanhola que foi que foi disponibilizada. As restantes aeronaves que a Espanha tinha disponíveis estão empenhadas neste momento, tanto quanto creio, através do mecanismo europeu, num incêndio em França. Por exemplo, quando a Espanha acionou o mecanismo europeu, creio que a semana passada, nós próprios também não podemos desta vez apoiar a Espanha, porque precisámos dos meios precisamente para combater os nossos incêndios”, ilustrou.

O primeiro-ministro salientou que Portugal tem acionado os meios através do mecanismo europeu “sempre que eles estão disponíveis”, mas “têm estado pouco disponíveis” porque, “ao contrário do que acontecia habitualmente, em que os incêndios existiam sobretudo no Sul da Europa, e em particular em países como Portugal, ou como a Grécia ou como a Espanha”, existe agora “uma realidade em que se tem vindo a alargar” a ocorrência daqueles fenómenos.

António Costa defendeu ainda a adequabilidade dos aviões Canadair no combate aos fogos em Portugal, e sublinhou que o seu fabrico tinha sido interrompido pela Bombardier e que a encomenda, no âmbito da aquisição conjunta europeia, só deverá ser entregue em 2024, estando Portugal inscrito para adquirir dois desses aviões.

Toda a gente sabe que o Canadair é o meio aéreo de asa fixa, ou seja, para além dos helicópteros, mais eficaz. No passado até já experimentámos outros, como os Beriev russos, só que como eles se abastecem fazendo ‘scoping’, os Canadair têm uma grande vantagem, é que são aviões com uma grande manobrabilidade, e, portanto, adaptam-se bem às bacias que nós temos nas diferentes barragens”, sustentou.

O primeiro-ministro, que foi ministro da Administração Interna, salientou que o “Beriev tinha sempre dificuldades e até houve um que chegou a ter um acidente, precisamente porque, ao levantar voo, chocou contra as árvores”.

Agora há um problema prático, é que os Canadair que existem no mundo inteiro já têm todos muita idade. E como nós sabemos, pelas nossas próprias viaturas, quanto mais idade tem a viatura, maior risco tem de avaria. Porque é que todos os países mantêm operação ou quando não têm alugam Canadair? Porque, apesar de tudo, ainda são os melhores que existem”, defendeu.

Quercus quer avaliação independente do fogo na Serra da Estrela

A associação ambientalista Quercus pediu esta sexta-feira uma avaliação independente ao incêndio na Serra da Estrela e questionou qual foi a intervenção da AGIF — Agência para a Gestão Integrada dos Fogos face a criticas à descoordenação de meios.

Dezasseis meios aéreos, incluindo um Canadair espanhol, combatem fogo na Serra da Estrela

Em comunicado, perante as críticas ao desempenho sobre a coordenação dos meios, a Quercus questiona qual foi a intervenção da AGIF — criada para melhorar a atuação do sistema de prevenção e combate aos fogos — e lembra que, devido à destruição da vegetação nas encostas, sobretudo no vale do Zêzere, “os fenómenos de erosão com arrastamento de materiais vão ser problemáticos”.

A associação considera importante fazer-se “uma avaliação independente sobre este incêndio“, para que fique claro o que deve ser melhorado para o futuro, e defende que deve haver prioridade máxima para a definição, antes do inverno, de medidas de emergência na gestão pós-fogo.

A Quercus diz estar a acompanhar “com preocupação” a evolução do incêndio que está a devastar parte do Parque Natural da Serra da Estrela e que, segundo o Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (EFFIS), já terá destruído mais de 14.000 hectares.

O incêndio, que deflagrou no sábado, na Covilhã, já avançou pela Serra da Estrela até aos concelhos de Manteigas, Guarda, Gouveia e Celorico da Beira.

Os ambientalistas da Quercus sublinham que o incêndio já afetou florestas e habitats biodiversos do Parque Natural da Serra da Estrela, Zona Especial de Conservação da Rede Natura, assim como geossítios do Estrela Geopark da UNESCO, e que terá “impactes severos sobre a flora, fauna, território e populações”.

Os pinhais têm sido bastante afetados, assim como os matos dominados por piornais, urzais e caldoneirais”, insiste a Quercus, apontando as áreas com povoamentos de castanheiros, carvalhos-alvarinhos e faias no concelho de Manteigas, “que foram pouco afetados por terem baixa combustibilidade e, portanto, serem mais resilientes ao fogo”.

“Devemos aprender com estas lições, para reordenar a paisagem”, sublinha a associação, que acrescenta que o teixo, “árvore ameaçada que ocorre em Portugal apenas em parte da Serra da Estrela e Serra do Gerês”, tem salvaguardado o núcleo mais importante até agora.

Entre a biodiversidade da fauna, pode-se destacar a lagartixa-de-montanha e a salamandra-lusitânica, endemismos ibéricos que apenas ocorrem no noroeste da Península Ibérica e que tem o seu habitat destruído pelo fogo”, lembra.

Na nota, a associação defende igualmente que devem ser criadas condições para a pequena agricultura e pecuária, “com a remuneração dos serviços ecossistémicos locais”, que considera “essenciais para a fixação da população nestes territórios de montanha, mantendo a biodiversidade”.