Mais de uma dezena de pastores afetados pelos incêndios na serra da Estrela vão começar a receber na próxima semana palha e ração para alimentar as ovelhas, disse esta quinta-feira a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da região.

Esta ajuda aos pastores, dos concelhos de Gouveia e Celorico da Beira, no distrito da Guarda, pretende ser uma antecipação aos apoios do Governo, explicou à Lusa o presidente da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE), Manuel Marques.

“Temos neste momento condições, através da ANCOSE, para começar, em primeira linha, a dar palha e ração aos pastores, aliás, como aconteceu nos incêndios de 2017, em que a ANCOSE se antecipou a todas as instituições”, indicou.

O dirigente da associação, com sede em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, referiu que foi identificada, até ao momento, a necessidade de apoio a 12 pastores dos concelhos de Gouveia e Celorico da Beira (distrito da Guarda), no âmbito de um levantamento que decorre e que foi pedido pelo Ministério da Agricultura.

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“Os danos não são fáceis de calcular. Não há uma estimativa fixa. Foram identificados 12 pastores dos concelhos de Gouveia e Celorico da Beira, mas pode chegar aos 15/16”, estimou.

Manuel Marques manifestou-se “muito preocupado” com as consequências dos incêndios no setor da pastorícia, alertando para a possibilidade de estar em risco a produção do queijo da serra da Estrela.

“Estou muito preocupado. Os pastores quando virem os animais mal nutridos vão sofrer muito com isso e corremos o sério risco de que eles vendam o seu rebanho ou parte dele, o que é prejudicial para a produção do queijo da serra da Estrela”, apontou.

Nesse sentido, Manuel Marques sublinhou que neste momento a principal necessidade dos pastores é que seja garantida a alimentação dos rebanhos, apelando a uma maior celeridade dos apoios.

“A principal necessidade é a alimentação. Os fenos arderam, os pastos arderam e os animais não podem comer cinzas. Temos de agir rápido, pois os pastores e os animais não se compadecem à espera. Temos de os socorrer”, afirmou.

Além dos apoios para fazer face aos prejuízos dos incêndios, o responsável da ANCOSE lembrou que os pastores necessitam de ajuda para responder aos problemas da seca.

“Ontem tivemos uma reunião com o presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, por causa da seca, e existem apoios que são reclamados, como a antecipação do subsídio aos pastores, que são pagos em regra em outubro, a isenção da Segurança Social e donativos de ração e palha, como aconteceu em 2017”, descreveu.

O Parque Natural da Serra da Estrela é a maior área protegida portuguesa e o incêndio que lavra há 11 dias na zona, encontrando-se em resolução desde a noite de quarta-feira, terá destruído mais de 25 mil hectares (sensivelmente um quarto da área total) em seis concelhos, de acordo com dados preliminares avançados pelas autoridades.

Este fogo deflagrou no dia 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, tendo chegado a ser dado como dominado no sábado, dia 13, já depois de ter atingido outros concelhos do distrito da Guarda. Contudo, na segunda-feira, sofreu uma reativação.

Incêndio na Serra da Estrela dominado ao fim de 11 dias, autoridades continuam a “vigiar” terreno

O fogo consumiu parte substancial do Parque Natural da Serra da Estrela, uma área natural protegida e classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Num ponto de situação feito neste dia, pelas 12h00, na sede nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANEPC), no concelho de Oeiras (distrito de Lisboa), o comandante nacional da ANEPC, André Fernandes, indicou que mais de 1.500 operacionais e cinco meios aéreos continuam em operações nos incêndios da serra da Estrela e das Caldas da Rainha, atualmente em resolução, para evitarem reativações.

As previsões meteorológicas para os próximos dias apontam para um aumento das temperaturas e baixa humidade.