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Com 18,1 quilómetros de comprimento, a Ponte da Crimeia é um motivo de orgulho para a Rússia. Não só porque, quando foi inaugurada em maio de 2018, se tornou a ponte mais longa da Europa — ultrapassando assim a Ponte Vasco da Gama, que segurou esse título durante duas décadas. Mas também porque a construção foi um projeto pessoal de Vladimir Putin, para mostrar ao mundo que a Crimeia se tinha juntado à Rússia para sempre. No entanto, este projeto do presidente russo corre o risco de ser destruído pela Ucrânia.
A também chamada Ponte de Kerch é, na verdade, o conjunto de duas pontes paralelas: uma para o tráfego rodoviário e outra para a ligação ferroviária — esta última só ficou finalizada um ano depois da inauguração. Ambas cruzam precisamente o estreito de Kerch, que liga o mar Negro e o mar de Azov.
Após a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, o projeto da ponte tornou-se fundamental para a Rússia integrar o território. Mas esta construção pode ser um alvo de ataques ucranianos cada vez mais ambiciosos. Destruir a ponte é uma prioridade para Kiev — até porque a Ucrânia já tentou destruir outras como a ponte Antonovsky.
Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano e muitas vezes descrito como a terceira figura mais poderosa do país, defende que a Ponte da Crimeia confirmou em entrevista ao The Guardian que a Ucrânia vê a construção como um alvo militar legítimo:
É uma construção ilegal e a principal porta de entrada para abastecer o exército russo na Crimeia. Esses objetos devem ser destruídos”, disse.
No entanto, Aleksey Arestovich, outro conselheiro de Zelensky, deu a entender que um ataque devastador não será para já. A razão? Não será fácil destrui-la. “Podemos ver quanto a ponte Antonovsky está a ser danificada e ainda não foi destruída. A ponte de Kerch é muitas vezes mais forte, maior, mais alta“, disse em entrevista ao The Odessa Journal, considerando que o ataque teria apenas efeito como “propaganda”.
A escalada iniciou-se na terça-feira. Nessa madrugada começaram a multiplicar-se relatos e vídeos, tanto do lado ucraniano como do lado russo, de explosões na região ocupada da Crimeia. Horas mais tarde, ficou a saber-se que as explosões tinham origem depósito temporário de armamento em Maiske: segundo o The Kyiv Independent, cerca de duas mil pessoas foram retiradas das imediações do depósito, uma linha de comboio ficou danificada e houve registo de pessoas feridas.
A ponte teve mesmo de ser fechada durante a noite, ao longo desta semana. Ainda assim, o encerramento não impediu a saída de milhares de pessoas da Crimeia: após os ataques, foi registado “um número recorde” de carros a passar a ponte, avançou a Sky News. Para o presidente ucraniano — que sublinhou que a destruição dos equipamentos militares na Crimeia procurava “salvar as vidas” da população —, a fila de carros provava que “a maioria absoluta dos cidadãos já compreendem ou pelo menos sentem que a Crimeia não é um lugar para eles“.
Certo é que, se a ponte parar de funcionar, a Crimeia fica quase completamente isolada, já que a guerra levou ao cancelamento de voos em toda aquela área.