A Koenigsegg é hoje um pequeno mas respeitado construtor de hiperdesportivos sueco, reputação que começou a conquistar com o lançamento do CC8S, o primeiro carro que a marca fundada por Christian von Koenigsegg construiu, na sequência de um trabalho de investigação e de desenvolvimento que consumiu oito anos. O resultado foi visto pela primeira vez na forma de um modelo de pré-produção no Salão de Paris de 2000 e, dois anos depois, começou a ser produzido. Foram apenas feitas seis unidades do Koenigsegg CC8S, um desportivo animado por um V8 de 4,7 litros sobrealimentado, motor que se encontrava montado em posição central traseira, acoplado a uma caixa manual de seis velocidades para passar 664 cv de potência às rodas posteriores. À época, o desportivo impôs-se de imediato pela potência e pelas soluções inovadoras, com Christian von Koenigsegg a provar que mais vale ter ideias do que recursos ilimitados. Isto porque, apesar de estar muito longe de ser grande numa indústria de gigantes, a Koenigsegg desenvolveu in house uma série de componentes para o CC8S, do chassi à suspensão, passando pelo sistema de travagem e pelas icónicas portas de abertura vertical, as primeiras a funcionar mediante um esquema de sincro-hélice diédrica – algo até então inédito num modelo de produção.

Ora, duas décadas depois, a Koenigsegg recorda como tudo começou com uma reedição do CC8S em que, mais do que a estética ou a potência, o destaque vai para o domínio tecnológico. Em concreto, o novo CC850 sobressai pela introdução de uma transmissão que é um verdadeiro dois em um: é manual e também automática. A caixa manual tem seis velocidades e a automática nove, com a embraiagem da primeira a operar a segunda, solução que a Koenigsegg apelida de Engage Shift System (ESS) e que foi criada justamente para evocar de forma mais realista o feeling do CC8S, que tinha caixa manual. Mas, antes de explicar como funciona o ESS, convém contextualizar.

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Para assinalar os 20 anos do lançamento do CC8S e, simultaneamente, festejar o 50.º aniversário de Christian von Koenigsegg, a marca tratou de reunir munições para apontar a mais um alvo: produzir o carro mais potente de sempre com caixa manual. Para tal, o novo hiperdesportivo que recupera a imagem do CC8S, introduzindo-lhe alterações sobretudo na traseira, herda o V8 5.0 biturbo do Jesko, o qual pretende tão somente ser o carro mais rápido do mundo. Recorrer a esta mecânica permite à  Koenigsegg voltar a fazer magia com os números, com o 1385 a ser seguido por kg, cv e Nm. É esse o peso do hiperdesportivo e também a sua potência e binário máximos, quando abastecido com E85 (a gasolina Super 98, ou E10, retira 200 cv, entregando apenas 1185 cv). Para ajudar à festa, o construtor de Ängelholm também deitou mão à caixa automática do Jesko, com nove relações. Mas a ideia era recuperar a caixa manual do CC8S, o que implicava meter uma embraiagem pelo meio. Aí radica a beleza do ESS: a transmissão manual é, na realidade, electrónica, com as passagens de caixa a fazerem-se não de forma sequencial, mas sim pisando na embraiagem e movendo a alavanca para a mudança desejada, o que leva a caixa automática a funcionar no regime definido manualmente. Isso significa que só seis das nove relações da caixa automática são utilizadas quando o ESS opera como caixa manual, sendo que as mudanças solicitadas à caixa automática não são sempre as mesmas seis. Variam, isso sim, consoante o modo de condução activado. Para simplificar o que parece ser complexo, a nova transmissão da Koenigsegg é à prova dos iniciantes que podem deixar o carro ir abaixo, podendo ser explorada sem intervenção do condutor. Basta colocar a fina haste da alavanca da caixa toda para a direita e o CC850 vai gerindo sozinho as nove velocidades com que trabalha a cavalaria.

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Não fosse suficiente este sistema inédito de transmissão, a Koenigsegg dotou o seu novo hiperdesportivo com as típicas funções que enobrecem a casa, como é o caso da chamada Autoskin, a tecnologia que permite abrir todas as portas e painéis do veículo simplesmente pressionando um botão. A isso junta-se a exclusividade, na medida em que serão produzidas somente 50 unidades – tantas quantas as velas que o fundador da marca sopra no seu aniversário. Daí que o CC850 seja uma prenda que nem todos podem desembrulhar: estima-se (por baixo) que venha a custar 3 milhões de dólares. Resta aguardar que o preço seja anunciado, tal como as prestações. Mas as expectativas estão em alta, ou não fosse o slogan da marca “Spirit of Performance”.