Criticou André Ventura numa publicação no Facebook, seis dias depois acaba suspenso e é-lhe indicada a porta de saída. A Comissão de Ética do Chega aprovou esta quarta-feira a “suspensão provisória” do antigo vice-presidente do partido, José Dias, e deliberou igualmente que vai ser “proposta a sua expulsão ao Conselho de Jurisdição”. Ao Observador, José Dias confirma que foi alvo do castigo, chama André Ventura de “ditadorzinho” e espera que “Nuno Afonso tome o poder dentro do Chega”.

José Dias, presidente do Sindicato do Pessoal Técnico da PSP, foi vice-presidente do Chega durante dois anos, mas em maio de 2021 André Ventura não o quis mais na direção nacional. Um ano depois, em maio de 2022, o antigo ‘vice’ assumiu-se mesmo como membro da “oposição interna” ao líder, num grupo que também integra o fundador e número oito do partido, Gerardo Pedro, e que defende que o presidente do partido deve ser Nuno Afonso (militante número dois do partido e que foi afastado  em maio — precisamente quando a oposição interna se assumiu como tal).

No artigo de opinião publicado no Facebookm que acabaria por ser a gota de água para o seu afastamento, José Dias diz que André Ventura “aburguesou-se”, que o partido “perdeu a alma” e acusou o líder de fazer uma rentrée num “ambiente de casamento de senhoras de toilette e de senhores aprimorados, a falarem controladamente e em sussuro, em vez da berraria espontânea da multidão suada dos comícios precursores das mudanças que se ambicionam”.

“Estou com Nuno Afonso, quero que tome o poder”

Ao Observador, minutos depois de ter sido suspenso, José Dias diz que entregou o recurso às 17h15 e que às 17h43 “já estava suspenso” por, garante, “delito de opinião”. O antigo dirigente acrescenta ainda: “Eram 10 páginas, nem as leram, a decisão já estava tomada”. José Dias acusa André Ventura de fazer “tábua rasa de todos os regulamentos do partido” e que a comissão de ética que o suspendeu “é totalmente ilegal, já que nem é reconhecida pelo Tribunal Constitucional”.

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O antigo vice-presidente do Chega diz que “vai recorrer até às últimas instâncias” da decisão e que quer continuar no partido para ajudar a eleger outro presidente: “Estou com Nuno Afonso, quero que tome o poder dentro do Chega. É um homem muito mais racional e mais moderado”.

José Dias diz que André Ventura se rodeou de “saltimbancos e maltrapilhos” e atira: “O povo gosta de papagaios, Deus nos livre deste homem [Ventura] governar o país”. O antigo vice-presidente chega mesmo a dizer que Ventura é um “ditadorzinho“.

O ex-dirigente nacional foi também candidato do Chega à câmara da Amadora e acusa André Ventura de lhe ter dado “um cartaz apenas”. Mesmo assim, afirma, ficou “a 300 votos de ser eleito”.

A suspensão do antigo vice-presidente surge numa semana em que André Ventura afastou o deputado Gabriel Mithá Ribeiro da liderança do gabinete de estudos do partido.

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