Três jogos, três vitórias. O FC Porto chegava a Vila do Conde para defrontar o Rio Ave com um registo totalmente vitorioso na Primeira Liga depois de um verão particularmente complexo no mercado de transferências. Sérgio Conceição perdeu Fábio Vieira, Vitinha e Mbemba e muito se falou sobre essa despedida da espinha dorsal da equipa. Sérgio Conceição recebeu David Carmo, Gabriel Veron e André Franco e muito se falou sobre a eventual insuficiência das contratações. No fim? As três vitórias em três jogos foram conquistados pelos jogadores que já estavam no Dragão.

Afinal, desde o início do Campeonato, nenhum onze inicial do FC Porto contou com qualquer reforço. David Carmo ainda não somou qualquer minuto pela equipa principal, André Franco também ainda não foi opção e Gabriel Veron só tem somado minutos na segunda parte dos jogos. A lesão de Otávio foi solucionada com o jovem Danny Loader, a lesão de Grujic está a ser controlada com Bruno Costa e até a ausência de Mbemba está a ter em Marcano a substituição mais óbvia. No fim? Três jogos, três vitórias. 

Ficha de jogo

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Rio Ave-FC Porto, 3-1

4.ª jornada da Primeira Liga

Estádio dos Arcos, em Vila do Conde

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Rio Ave: Jhonatan, Pantalon, Aderllan Santos, Miguel Nóbrega, Costinha, Guga, Amine (Vítor Gomes, 71′), Pedro Amaral (Paulo Vítor, 83′), Joca (Ukra, 83′), Aziz (Boateng, 71′), Fábio Ronaldo (Hernâni, 88′)

Suplentes não utilizados: Magrão, Patrick William, Leonardo Ruiz, Graça

Treinador: Luís Freire

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Galeno, 45′), Pepe, Marcano (André Franco, 72′), Zaidu, Bruno Costa (Gabriel Veron, 45′), Uribe, Otávio, Pepê, Evanilson (Toni Martínez, 45′), Taremi (Danny Loader, 84′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, David Carmo, Wendell, Stephen Eustáquio

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Aziz (22′ e 43′), Pedro Amaral (33′), Toni Martínez (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Taremi (49′), a Vítor Gomes (76′), a Gabriel Veron (85′)

Era neste contexto que o FC Porto defrontava este domingo o recém-promovido Rio Ave, em Vila do Conde, depois da sonante vitória no Dragão contra o Sporting. Numa conferência de imprensa em que confirmou a ausência de Grujic por lesão e em que garantiu que os dragões têm soluções para jogar sem Taremi, Sérgio Conceição foi questionado sobre… O livro de Luís Filipe Vieira que chega às bancas em setembro. “Eu adoro ler, é um dos meus hobbies favoritos. Mas a minha leitura é mais virada para outros autores e outro tipo de situações. Não tenho comentários a fazer, não tenho visto televisão à noite e, para já, não sei do que estás a falar”, disse o treinador.

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Assim, sem Grujic, Sérgio Conceição repetia o onze inicial que defrontou o Sporting e contava com Taremi, que embora tenha saído com dificuldades físicas do jogo com os leões recuperou durante a semana e era titular. Bruno Costa voltava a ser solução no meio-campo, Otávio estava naturalmente no onze e Pepê também aparecia no apoio a Taremi e Evanilson. Do outro lado, Luís Freire só não podia contar com João Ferreira, que estava castigado, e lançava Amine em vez de Vítor Gomes no meio-campo, já que o experiente médio treinou condicionado nos últimos dias.

Os primeiros minutos mostraram desde logo que o Rio Ave não pretendia entregar os três pontos de mão beijada: nos segundos iniciais, Fábio Ronaldo aproveitou uma recuperação de bola em zona adiantada para rematar à baliza, obrigando Diogo Costa a uma defesa apertada (1′). O FC Porto aproximou-se da baliza de Jhonatan em duas ocasiões, com um pontapé de Bruno Costa contra Guga (3′) e outro de Evanilson ao lado (5′), mas era percetível que a equipa de Sérgio Conceição não demonstrava a intensidade habitual.

O FC Porto fez apenas uma falta ao longo de toda a primeira parte, um dado estatístico que era o espelho da passividade com que defendia ou reagia à perda de bola — e que nunca tinha acontecido desde que Conceição é o treinador. Os dragões atacavam de forma interessante e sempre muito móvel, com Pepê a aparecer na direita e na esquerda e Taremi a envolver-se com o meio-campo, mas nunca conseguiram que essas competências se transformassem em criatividade pura e dura que desse origem a oportunidades. Em sentido inverso, totalmente confortável com a expectável reduzida posse de bola, o Rio Ave era pragmática e vertical nas saídas rápidas, chegando mesmo ao golo ainda dentro da primeira meia-hora.

Fábio Ronaldo recebeu no corredor central e tirou um passe perfeito para desmarcar Aziz, que com Pepe desposicionado aproveitou a lentidão de Marcano para bater Diogo Costa à saída do guarda-redes (22′). O FC Porto reagiu à desvantagem de forma muito parca e espaçada, com Evanilson a colocar a bola no fundo da baliza mas o golo a ser anulado por fora de jogo do brasileiro (28′), e os dragões não conseguiam encostar o Rio Ave ao próprio meio-campo, permitindo várias saídas e falhando inúmeros passes na construção. À passagem da meia-hora, uma dessas saídas voltou a dar golo: Ronaldo ganhou a Pepe pelos ares, contemporizou para soltar Aziz na direita, o ganês ultrapassou Marcano com um túnel e cruzou para o poste mais distante, onde Pedro Amaral apareceu a encostar (33′).

A perder por dois golos de diferença, o FC Porto voltou a não conseguir ter uma resposta eficiente e digna desse nome e só mesmo Evanilson, com um cabeceamento que Jhonatan encaixou (42′), voltou a ameaçar chegar ao golo. Do outro lado, porém, o Rio Ave não ameaçava — só marcava. Mesmo em cima do intervalo, Pedro Amaral ganhou a bola a João Mário na esquerda e cruzou de imediato para a grande área, onde Aziz apareceu a cabecear para bisar e provocar o escândalo em Vila do Conde. No final da primeira parte, o FC Porto estava a perder de forma categórica e justa com o Rio Ave e ainda nem sequer tinha feito propriamente nada para contrariar esse resultado, numa exibição pobre que tinha em Marcano e João Mário os seus principais protagonistas pela negativa.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Rio Ave-FC Porto]

De forma expectável, Sérgio Conceição mexeu logo ao intervalo e fez três substituições, trocando João Mário, Bruno Costa e Evanilson por Galeno, Gabriel Veron e Toni Martínez: ou seja, passando a atuar em aparente 4x4x2, com Veron e Galeno nos corredores e Pepê a recuar para a direita da defesa. O FC Porto iniciou um óbvio processo de pressão alta, empurrando o Rio Ave para o próprio meio-campo e aproveitando o facto de a equipa de Luís Freire pretender gerir a vantagem e não arriscar muito em saídas mal medidas, mas continuava com vários problemas na hora do último passe ou do remate decisivo.

Pepe teve a primeira grande oportunidade da segunda parte, com um remate à malha lateral já na grande área (57′), e os dragões acabaram mesmo por confirmar a noite azarada já após a hora de jogo, quando Taremi falhou uma grande penalidade ao acertar com estrondo na trave da baliza de Jhonatan (62′). Luís Freire mexeu pela primeira vez a 20 minutos do fim, lançando Vítor Gomes e Boateng já depois de Toni Martínez obrigar Jhonatan a uma enorme defesa (71′), e Sérgio Conceição tirou Marcano para colocar André Franco, recuando Uribe para o eixo defensivo.

Até ao fim, Toni Martínez ainda reduziu de cabeça nos descontos (90+3′) mas ficou mesmo confirmado novo escândalo na 4.ª jornada da Primeira Liga, desta feita em Vila do Conde: o FC Porto perdeu com o Rio Ave, sendo que fez muito pouco para o contrariar, e quebrou o registo totalmente vitorioso no Campeonato, podendo ficar já a três pontos do Benfica se os encarnados derrotarem o P. Ferreira na terça-feira.

Sérgio Conceição disse, na antevisão, que adora ler — e a verdade é que está na hora de dar a volta ao texto. Até porque, enquanto Marcano ficava mal na fotografia de cada um dos três golos, um central que custou 20 milhões de euros estava sentado no banco de suplentes. Até porque, enquanto Bruno Costa pouco acrescentou na primeira parte, Veron foi quem mais agitou na segunda. E até porque, como se viu nos 20 minutos finais, André Franco serve para mais do que apenas para levar papéis para dentro de campo.