O clérigo populista iraquiano Muqtada al-Sadr anunciou esta segunda-feira a sua “retirada definitiva” da cena política no Iraque, perante a crise política que o país árabe vive desde as eleições de outubro de 2021.

Decidi deixar de intervir nos assuntos políticos. Anuncio a minha retirada final e o encerramento de todas as sedes das instituições políticas (do movimento sadrista)”, disse o influente clérigo e líder do principal partido no Iraque.

O anúncio de Al-Sadr ocorre apenas 48 horas depois de ter exigido a exclusão da cena política de todos os partidos que atuam no Iraque desde 2003, como condição para superar a crise que se vive desde as eleições de outubro.

Iraque: Al Sadr propõe exclusão de todos os partidos para superar crise

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Contudo, não fica claro como este anúncio de Al-Sadr afetará a crise política, no momento em que os seus apoiantes realizam um protesto no exterior do Parlamento iraquiano, contestando o impasse político provocado pela oposição.

Al-Sadr, que acusa de “corrupção” as forças políticas desde a queda do ex-ditador Saddam Hussein em abril de 2003 após a invasão dos EUA, defendia que “não haveria reforma” se os atuais movimentos políticos, incluindo o seu próprio, continuassem a exercer a sua atividade.

Seguidores de clérigo xiita acampam no interior do Parlamento iraquiano

Mais importante do que dissolver o Parlamento e realizar eleições (antecipadas) é não incluir todos os partidos e personalidades que participaram no processo político desde a invasão dos EUA, em 2003″, disse o clérigo, num comunicado divulgado no sábado.

Isto, explicou o clérigo, “para não incluir todos […] sejam eles dirigentes, ministros ou funcionários pertencentes a partidos […], incluindo o movimento sadrista“, sendo esta “uma alternativa a outras iniciativas” para resolver a crise iraquiana, “incluindo as propostas das Nações Unidas”.

Al-Sadr manifestou-se disposto a assinar um acordo que contivesse essa exigência “no prazo máximo de 72 horas”, mas esta segunda-feira anunciou que ele mesmo se afastava de qualquer intervenção política no Iraque, saindo de cena “definitivamente”.

O Iraque vive uma crise política desde que as eleições legislativas de outubro de 2021 deram a vitória ao partido sadrista, mas com apenas 73 lugares nos 329 do Parlamento.

O partido de al-Sadr tentou uma aliança com outras forças parlamentares para eleger o Presidente e o primeiro-ministro, que ficariam encarregados de formar um governo, o que acabou por não ser possível, devido ao bloqueio dos opositores xiitas, próximos do regime iraniano.

Os deputados sadristas demitiram-se em bloco, em junho, mas, perante a eleição de um Presidente e de um primeiro-ministro propostos pelos opositores, os seguidores de Al Sadr ocuparam o Parlamento, em 30 de julho.

Centenas de manifestantes voltaram a invadir parlamento do Iraque

A ocupação durou uma semana e, após um apelo do clérigo, os sadristas retiraram-se do Parlamento e acamparam em frente ao edifício, para exigir a dissolução da Câmara e novas eleições.