Enfrentou bandidos e malvados em “Os Anjos de Charlie” e trocou Los Angeles por uma pequena vila inglesa quando se apaixonou perdidamente por um pai de filhos em “O Amor Não Tira Férias”. Cameron Diaz estreou-se no cinema como a estonteante namorada de “A Máscara”, corria o ano de 1994, mas muitos vão sempre recordá-la como a adorável protagonista de “Doidos por Mary”. No imaginário coletivo, é uma figura simpática que tem tanto de exuberante como de discreto. Faz 50 anos esta quarta-feira, 30 de agosto.
O timing não podia ser melhor. A data assinala-se na altura em que se antecipa o regresso da atriz aos ecrãs com “Back in Action” ao lado de Jamie Foxx (com quem trabalhou também em “Um Domingo Qualquer” e “Annie”), depois de se ter afastado de Hollywood em 2014. O anúncio foi feito na conta de Twitter de Foxx, que partilhou com os seguidores o áudio de uma chamada de telefone com Diaz, visivelmente nervosa. “Não sei como fazer isto”, disse a atriz antes de Tom Brady se juntar de surpresa ao telefonema para lhe dar um empurrãozinho. “Sou relativamente bem-sucedido a sair da reforma”, brincou o atleta.
Cameron I hope you aren’t mad I recorded this, but no turning back now. Had to call in the GOAT to bring back another GOAT. @CameronDiaz and I are BACK IN ACTION - our new movie with @NetflixFilm. Production starting later this year!! ???????? pic.twitter.com/vyaGrUmbWb
— Jamie Foxx (@iamjamiefoxx) June 29, 2022
Anúncios feitos, resta aos fãs aguardarem pela chegada do filme — ainda sem data de estreia — que traz Diaz de volta naquela que considera ser uma fase “excitante” da sua vida. “Todo o conceito de envelhecimento mudou totalmente, até nos últimos 10 anos”, comentou em maio à conversa com a amiga e também atriz Gwyneth Paltrow, no podcast que esta última apresenta, Goop. “Abriu completamente. Estou entusiasmada. Tenho 50 ou 60 anos pela frente — quero viver até aos 110, já que tenho uma filha pequena.”
Também em maio deste ano, afirmou no The Kelly Clarkson Show que ser mãe de Raddix, de 2 anos, foi “a melhor coisa que fez na vida”, ainda que tenha abraçado a maternidade relativamente tarde, aos 47 anos. É “a mãe mais velha” do seu grupo de amigas e quer garantir que estará por cá quando a filha chegar aos 40. Os genes que herdou da família, acredita, vão ajudá-la: “A minha avó andava a correr de um lado para o outro sob o sol de San Fernando Valley aos 72 anos, a carregar sacos com comida de coelho e de galinha. Acho que herdei um pouco disso”, dizia ainda a Paltrow.
A saúde e o bem-estar sempre foram, de resto, temas importantes. Lançou em 2013 o livro The Body Book, focado em temas como a alimentação saudável e a importância do exercício físico, seguindo-se em 2016 The Longevity Book, bestseller do New York Times, onde escreveu sobre envelhecimento e a passagem do tempo. Ao lado da amiga e empresária de moda Katherine Power, aventurou-se em 2020 no mundo dos negócios para lançar Avaline, uma marca de vinhos orgânicos e vegan.
No que diz respeito à sua vida pessoal, conseguiu manter uma certa descrição apesar da impressionante lista de namorados famosos que lhe são atribuídos. Namorou com Matt Dillon — que conheceu nas filmagens de “Doidos por Mary” —, Jared Leto, Justin Timberlake, Sean “Diddy” Combs, Kelly Slater e Alex Rodriguez (o ex de Jennifer Lopez). Diaz é tão privada que, quando teve a primeira e única filha, em 2019, a notícia foi recebida com total surpresa. Ninguém suspeitava de nada até a estrela anunciar que havia sido mãe aos 47 anos recorrendo a uma barriga de aluguer.
Em 2014, conheceu Benji Madden, guitarrista dos Good Charlotte, atualmente com 43 anos. Foi depois de começarem o namoro que resolveu que queria ser mãe, algo que havia afirmado no passado não estar nos seus planos. Foi também nessa altura, 20 anos depois de se lançar na representação, que resolveu por uma pausa na carreira. Diaz e Madden casaram em 2015 numa cerimónia íntima, poucos meses depois de se conhecerem. Segundo o El País, a estrela passou então a isolar-se no seu apartamento em Nova Iorque para evitar qualquer contacto com a imprensa, que lhe apontou “síndrome de Greta Garbo” — referência à reclusa atriz da Idade Dourada de Hollywood, uma expressão apontada a celebridades que se afastam subitamente da vida pública.
De mula de droga à namoradinha de Hollywood
Diaz nasceu em 1972 em San Diego, na Califórnia, filha de pai de origens cubanas e mãe com ascendências inglesas, alemãs, holandesas e índias. Tinha 16 anos quando assinou o primeiro contrato como modelo pela Elite Model Management. Na altura, andava no liceu e era colega de Snoop Dogg — em 2011, confessou no talkshow Lopez Tonight ter “bastante certeza” que chegou a comprar erva ao rapper.
Fez algum dinheiro a trabalhar como modelo de catálogo nos Estados Unidos antes de se mudar para Paris em busca de novas oportunidades. “Estive lá um ano inteiro e não trabalhei um único dia”, contou ao The Guardian. Na capital francesa, fechou apenas um trabalho em que lhe pediram para transportar uma mala selada para Marrocos — ao mesmo jornal, confessou suspeitar que, sem perceber, a estavam a usar como mula de droga.
Diaz recorda-se de, como parte do trabalho, lhe terem passado uma mala de viagem trancada onde alegadamente transportaria as suas roupas para a sessão fotográfica. Foi quando chegou ao aeroporto de Marrocos e as autoridades lhe pediram para a abrir que se pôs a pensar no que estaria lá dentro. “Eu era uma miúda loura, de olhos azuis, em Marrocos nos anos 90. Estava a usar calças rasgadas e botas de plataforma, com o cabelo solto. Pensei ‘isto é mesmo perigoso’”. Assustada, resolveu dizer que a mala não era sua e que não fazia ideia de quem seria o dono.
Pouco depois desse incidente, o seu agente convenceu-a de que seria perfeita para representar a bombshell loira de “A Máscara”, protagonizada por Jim Carrey. Cameron estava cética, não era atriz, mas acabou por ir ao casting. Os produtores queriam fechar Anna Nicole Smith para o papel, mas a apresentação de Diaz impressionou o realizador, Chuck Russell, que acabou por a contratar. O resto é história. A estreia em Hollywood em 1994 foi em grande: o filme foi nomeado para um Óscar e Diaz inscreveu-se num curso de arte dramática.
Seguiram-se projetos como “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997) e o papel da carismática protagonista de “Doidos Por Mary” — o terceiro maior êxito de bilheteira de 1998 —, “Vanilla Sky” (2001) e os quatro filmes de “Shrek” (2001 a 2010), onde deu voz a Fiona. “Os Anjos de Charlie” (2003), “O Amor Não Tira Férias” (2006) e “Professora Baldas” (2011) foram passos no caminho da namoradinha de Hollywood, caminho esse a que decidiu traçar um fim em 2014, depois da estreia de “Annie”. No ano anterior, tinha-se sagrado a atriz acima dos 40 mais bem paga da indústria.
A reforma antecipada e o regresso ao cinema
Em entrevista ao CBS Mornings em julho deste ano, explicou os motivos que a levaram a abandonar a indústria. “Quando estás a fazer algo que já conheces, fazes bem e sabes como funciona, e isso já consumiu a tua vida durante tanto tempo, é bom dar um passo atrás e olhar para o quadro geral. Pensar nas coisas que poderia fazer melhor, estar mais envolvida… Pensar no que é que me faria sentir mais completa. E eu fiz isso.”
Em 2015, disse à Cosmopolitan que as redes sociais eram uma “experiência maluca à sociedade”. “A forma como as pessoas as usam para receber validação de um grupo de estranhos é perigosa. Qual é o objetivo?”, questionou. Mais tarde, em 2018, também à conversa com Gwyneth Paltrow, já havia afirmado que queria fazer “coisas diferentes” com a sua vida e que estaria cansada do stress de Hollywood. Durante o seu processo de reforma, afastou-se de todas as redes sociais, que já só usava pontualmente para promover novos projetos.
“Dei tanto por tanto tempo, a trabalhar e a fazer filmes, e é um esforço tão grande. Não criava realmente qualquer espaço para a minha vida pessoal. E depois resolvi deixar de fazer filmes e focar-me verdadeiramente na minha vida pessoal, nas minhas relações pessoais com a minha família e amigos”, comentava ainda com Paltrow em 2018. Em 2021, a Vanity Fair reportou que a atriz teria desistido de representar por “não conseguir gerir” uma série de coisas na sua vida. “Agora”, afirmou, “tenho tempo para todas aquelas coisas que não tinha antes.”
Já em julho de 2022, pouco antes de anunciar o seu regresso ao cinema, Diaz contou ao Yahoo Finance Presents que já tinha dado “100 por cento” à sua carreira na representação, acrescentado: “estou numa fase diferente da minha vida. A coisa mais satisfatória que alguma vez fiz foi ter uma família e estar casada e ter o nosso pequeno núcleo familiar. É a melhor coisa, completamente.”
Uma fonte da produção de “Back in Action” revelou à revista People que Jamie Foxx teve de a “perseguir” para que aceitasse colaborar no filme da Netflix. À mesma publicação, alguém próximo da família Diaz disse que o marido a teria “encorajado a sair da reforma” e que estaria “muito entusiasmado” por ela. Agora, o regresso marcado à representação terá de ser equilibrado com a maternidade. Sobre esse ponto, declarou ao CBS Saturday Morning: “Toda a gente tem 100 por cento disponíveis e temos sempre de perceber como vamos dividir esses 100 por cento entre todas as partes da nossa vida que importam.”