A ex-Presidente da Croácia, Kolinda Grabar Kitarovic, pediu atenção para a situação na Bósnia-Herzegovina, confessando-se crítica da União Europeia (UE) no tema da adesão deste país ao bloco, e alertou para as relações com Moscovo.

“Sou muito crítica da União Europeia. Congratulo-me com o facto de a Ucrânia ter recebido o estatuto de candidata (a membro da UE), mas também me ressinto muito pelo facto de as negociações com a Bósnia-Herzegovina não terem ainda sido abertas”, afirmou em entrevista à Lusa, à margem das Conferências do Estoril, onde participou esta sexta-feira.

Dos países da região dos Balcãs, quatro têm estatuto de candidato (Sérvia, Montenegro, Macedónia do Norte e Albânia), mas dois ainda não o têm (o Kosovo e a Bósnia-Herzegovina).

Questionada sobre os principais perigos de desestabilização na região, a antiga chefe de Estado respondeu que são a situação no Kosovo, embora atenuada pela presença da missão da NATO, e em particular a Bósnia-Herzegovina.

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Pergunto-me se precisamos de outra guerra para fazer com que o país avance em direção à UE“, alertou Kolinda Grabar Kitarovic, insistindo que é preciso avançar para negociações, porque mesmo que seja longo o caminho até à integração, esse processo permitirá a “europeização”.

“As reformas que têm de ser feitas, nos aspetos políticos, jurídicos, democráticos, administrativos e todos os outros aspetos são um grande plano para fazer avançar o país”, considerou, defendendo que o mesmo se aplica em relação à NATO, onde defendeu isso mesmo quando era secretária-geral Adjunto da Organização.

A ex-Presidente da Croácia advertiu ainda para a interferência do Presidente russo, Vladimir Putin, e as ameaças do representante sérvio-bósnio na presidência tripartida da Bósnia-Herzegovina, o ultranacionalista pró-russo Milorad Dodik, de cumprir a ameaça de rutura com o Estado central e proclamar a independência.

A separação da Bósnia-Herzegovina é absolutamente inaceitável para todos nós“, afirmou a antiga chefe de Estado da Croácia.

Quanto às relações com Moscovo, sem querer referir-se em pormenor às declarações políticas dos dirigentes sérvios, apontou que “há uma relação aberta entre a Sérvia e a Rússia” e que, embora dizendo que condenaram a agressão contra a Ucrânia, “na verdade ainda cooperam” e não estão a aplicar as sanções.

“E também não é segredo que Milorad Dodik (atualmente um dos membros da Presidência da Bósnia e Herzegovina) viaja regularmente para a Rússia para discutir com Vladimir Putin a situação e o caminho a seguir”, disse à Lusa.

“Sinceramente, se estivesse no lugar do Presidente Putin, onde começaria os problemas a seguir? Certamente não seria na sua fronteira, nem seria um conflito direto com a NATO”, apontou.

Se o objetivo mais premente é acabar com o conflito na Ucrânia e evitar qualquer nova escalada e propagação do conflito, concordou a estadista, “a situação em particular na Bósnia-Herzegovina merece a nossa atenção”.

Ex-presidente croata diz que guerra na Ucrânia vai durar e fim tem de ser pela diplomacia

A ex-Presidente da Croácia defendeu uma solução diplomática como a única via para a guerra na Ucrânia, cujo fim não vê próximo, lamentando a falta de vontade da Rússia para negociar de forma honesta.

Odeio pensar que esta guerra vai a ser prolongada, mas receio que seja. E temos de continuar a insistir numa solução diplomática”, mesmo não se vendo vontade neste momento de que seja esse o caminho, sustentou a ex-Presidente numa entrevista à Lusa em Lisboa, onde participou nas Conferências do Estoril.

Em última análise, “com a sua falta de uma vitória militar direta e clara, a maioria das guerras terminam com negociações de paz, por ação diplomática”, referiu a estadista.

“Não vejo muito desejo nesse sentido agora”, admitiu, porque era preciso a Rússia negociar “honestamente à mesa e lidar com o facto de ter reconhecido as fronteiras da Ucrânia”.